abril 11, 2006

"O Estado do Amazonas" e a cidadania do portador de sofrimento mental

“Um olhar diferente sobre a política”

A editoria política do jornal “O Estado do Amazonas” está de parabéns. Na edição de domingo 2, e segunda-feira 3 de abril de 2006, foi publicada uma inusitada matéria, na página 6 do caderno de Política, seção Opinião, intitulada “Um olhar diferente sobre a política – ‘O Palhaço Quiabo’ e o fotógrafo Nivaldo de Lima, que sofre de transtornos mentais, dizem o que pensam sobre política no Brasil e no Amazonas”, encimada pelas fotografias dos cidadãos Pedro Praxedes Lima, 50anos, o palhaço Quiabo, e Nivaldo de Lima, 47 anos, fotógrafo, portador de sofrimento mental, filiado da Associação Chico Inácio, ong composta por usuários, familiares e técnicos em saúde mental.

De parabéns a editoria política e o jornalista Paulo Ricardo Oliveira e o experiente fotógrafo Emilion Kohn pelo belo exemplo de jornalismo comprometido com a reinscrição do portador de sofrimento mental na vida política e social da cidade.

Há apenas um senão em toda a matéria. Um não, dois. “Nivaldo de Lima, 47, fotógrafo pernambucano, autodidata” não se considera vítima de transtorno mental, tem dúvidas até se é portador de sofrimento mental, mas está certo de que “foge a regra”, pois como afirma o repórter, “consegue opinar de forma lógica, sobre qualquer assunto”.

Quanto à sua participação política, faltou acrescentar que, além do movimento estudantil, sua maior envolvimento deu-se como líder comunitário, pelo qual sofreu perseguições no final da ditadura militar. Acredita que houve um "ruído na comunicação", pois não consta na sua história política qualquer filiação ao PC do B, pelo qual teve curta passagem, sem filiação, dele saindo por divergências de método. Quanto às torturas psicológicas, vale ressaltar que elas há muito faziam parte da sua história de vida, tendo se intensificado com as perseguições sofridas durante o regime militar.

No mais, o conteúdo respeitou ipsis litteris o que foi declarado ao repórter Paulo Ricardo Oliveira. Eis aqui a reprodução da entrevista de Nivaldo de Lima:

O Estado do Amazonas: Faça uma avaliação do governo Luiz Inácio Lula da Silva?
Nivaldo de Lima – Foi um dos melhores governos que já tivemos na história da Nova República. O governo anterior (FHC) teve oito anos para fazer e não fez o que este (Lula) fez em três anos. Para mim Lula está trabalhando bem.

EA – Mas o governo Lula teve a imagem maculada por denúncias e comprovações de envolvimentos de filiados históricos do partido no Mensalão...
Nivaldo de Lima – A gente não pode generalizar. Não apenas na política, mas em toda a sociedade existem pessoas boas e más. O governo Lula é uma coisa. E outros que entraram no sistema de governo são outra.

EA – Considerando casos de corrupção atestados no cenário político, o Brasil é um país que faz rir ou chorar?
Nivaldo de Lima – Faz rir e faz chorar. Em relação à classe política, faz rir quando alguns não agem devidamente. Faz chorar, porque a gente observa a desgraça em que vive o povo pobre, aquele que não tem o que comer.

EA – Você acha que há no Congresso Nacional muitos políticos palhaços, no mau sentido da palavra?
Nivaldo de Lima – Há vários. Agora, a gente não pode falar claramente quem são, pois podemos sofrer conseqüências físicas, processuais.

EA – E para os políticos que tiveram envolvimento comprovado com esquemas de corrupção: cadeia ou liberdade?
Nivaldo de Lima – Digo com toda sinceridade: todos que cometeram crimes contra o patrimônio público brasileiro, se houver comprovação, têm de ser punidos severamente na instância criminal.

EA – O que fazer para mudar o quadro político brasileiro?
Nivaldo de Lima – O que os brasileiros querem é honestidade, seriedade com o que é público. A classe política deve sair da teoria do discurso de palanque e ir para a prática.

EA – E aqui no Amazonas, como o senhor avalia o governo estadual?
Nivaldo de Lima – A política atual está boa. O que falta é alguns ajustes.

EA – O que o senhor acha dos palhaços profissionais, aqueles cujo trabalho é fazer rir, emocionar por meio da arte?
Nivaldo de Lima – No bom sentido do termo, o palhaço é a figura principal do circo. Circo sem palhaço é como café sem açúcar.

EA – Qual o seu conceito de felicidade?
Nivaldo de Lima - Vejo a felicidade como a paz interna e externa.


Não fossem os senões apontados, que não comprometem o conteúdo da matéria, limitaríamos o comentário aos cumprimentos por tão louvável iniciativa, que faz a diferença entre a prática do jornalismo sensacionalista do jornalismo em prol da cidadania. O saldo é positivo para o movimento por uma sociedade sem manicômios, mas é sobretudo um exemplo de respeito às idéias de Nivaldo de Lima, cidadão acima de qualquer ideologia que costuma segregar pessoas com sofrimento mental. Posted by Picasa

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá

Meu nome é Malu, sou de Campinas e ha muito tempo gostaria de encontrar meu amigo Emilion, se puder mande um abraço pra ele...
Obrigada
Meu e-mail: malu1010@yahoo.com.br

Unknown disse...

Meu nome é Bia e perdi contato com o Emilion, assim como a Malu e gostaria de reencontrá-lo. Se puder passar meu email e pedir para ele escrever, ficaria muito grata.
Email: ballebia@gmail.com
obrigado