maio 17, 2006

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NOTA: Imagens como essa costumam associar criminalidade ao efeito direto da pobreza, do desemprego ou de qualquer outra situação de injustiça social. Deixem os pobres em paz. Segundo o Professor Eduardo Campos Coelho (1939-2001), é essa visão míope que dificulta a formulação de políticas de segurança pública. Para ele, apenas uma fração ínfima dos pobres desempregados escolhe a aternativa criminosa. E diz mais: "A hipótese mais provável é a de que um componente importante das altas taxas de crimes está representado por um número relativamente reduzido de criminosos mais ativos que, por permanecerem impunes, intensificam sua atividade". No dia 14 de maio, um grupo liderado por um criminoso parou São Paulo, porque tardam medidas enérgicas proibitivas para o uso do celular no interior dos presídios. Liberdade de comunicação é outra coisa, senhores! (Rogelio Casado)

SÃO PAULO, O MAPA DO CRIME

Nas últimas 72 horas o crime organizado começou a mostrar suas garras e, com ele, um outro tipo de crime da mesma natureza - o crime da consciência. O cidadão mediano, com todo direito à informação, está atordoado com a incompetência e má fé do jornalismo diário, em alguns casos, que a essa altura do ano já poderia ter sugerido pautas de discussão com a população que poderiam preencher páginas e edições inteiras, propondo soluções para os graves problemas que o país atravessa hoje, dentre eles a violência organizada do crime. Com toda certeza, os veículos de comunicação, mais precisamente os jornais impressos e as tevês, seriam importantes fóruns para a população manifestar suas preocupações. Ao contrário disso, o que assistimos ao longo de quase um ano foi uma sucessão de mentiras e denúncias, coladas a objetivos partidários claros. Daí veio a hecatombe desse final de semana e, junto com ele, a ferida aberta. Melhor ir aos fatos:

1- Na noite desse domingo o jornalista Pedro Bial, respeitado pela sua imparcialidade e competência, comandou um show melodramático no programa Fantástico, exibido pela tevê Globo, onde não faltou criança de cinco anos, chorando pela morte do pai, um policial morto. Somos irrestritamente solidários à família desse soldado e também àqueles que nada têm a ver com o conflito, mas que estavam na linha de fogo, porém esse melodrama não resolve, só prega uma sensação de impotência, nada mais. Tudo bem que Pedro Bial seja apenas um apresentador e que a decisão sobre pautas e enfoque são daqueles que estão atrás das câmeras, mas ele continua sendo uma referência para a população, daí a preocupação;

2- Nessa mesma noite, o Governo Estadual, através de sua Secretaria de Segurança, com sua costumeira arrogância, diz que “a situação está sob controle e que a polícia do Estado virou o jogo”. Ficamos imaginando, aqui com nossos botões, o quê mais precisa acontecer para que esses senhores tenham a humildade de reconhecer que falharam, ou que não conseguiram controlar o crime e suas manifestações mais nefastas. Nenhuma pista, ainda, do que realmente estava acontecendo;

3- Chega a segunda-feira, vem o que mais ou menos se esperava, ou seja, a responsabilização do Governo Federal pelo ocorrido, por parte de uma parcela da imprensa. Um dos bloguistas da Folha de São Paulo, atuante crítico do governo federal, é claro, publica a seguinte matéria, cujo título é, “GOVERNO FEDERAL DIMINUI A VERBA PARA A SEGURANÇA EM 2005”. Na opinião do jornalista, foi encontrado um culpado pelos motins e caos instalados, na cidade de São Paulo, desde a última sexta-feira. O mesmo havia acontecido, por ocasião da crise financeira da Varig, do gás da Bolívia e, agora, da segurança no Estado de São Paulo. Ao ler a notícia, o desavisado leitor encontrou num dos itens dessa matéria, o informe de que o dinheiro reduzido era destinado para projetos especiais, só isso. Mas, o jornalista responsável pela matéria, não dá pistas para o leitor entender que essa diminuição de verba nada tem a ver com os tumultos, ainda em pleno andamento. Ele não explica, por desconhecimento ou má fé, que a verba citada trata-se de um Fundo e não de uma dotação Orçamentária, portanto o seu fluxo de caixa não depende de restrição anual, e sim de programação e execução. Este fundo não serve, por exemplo, para pagar melhores salários, pois os mesmos são pagos com Orçamentos dos Estados. Por outra, o jornalista nada fala sobre o que está acontecendo em São Paulo, como resultado de uma política carcerária criticada, inclusive, pelos seus parceiros de governo (Chefe do Combate ao Crime Organizado). Não diz, também, que a falta de controle do que acontece dentro das prisões não é necessariamente falta de verbas. Sem contar que o corte, ou redução dessas verbas do orçamento anual, em última análise, é votado pelo Congresso Nacional, que todos sabemos está abaixo do rabo de cachorro, se depender da opinião da população. Mas não é só isso. A coisa começa a feder na matéria-manifesto, quando se vê que essas informações foram capturadas por outro jornalista bloguista, do mesmo jornal, que pescou as mesmas num site de uma ONG, denominada CONTAS ABERTAS. Começa aí o crime contra nossas consciências.


“GATO ESCALDADO TEM MEDO DE ÁGUA FRIA” e, portanto, o melhor a fazer é checar as informações. Ao procurar na Internet, logo encontramos o site da referida ONG, CONTAS ABERTAS, com sede em Brasília, Estatuto votado em setembro de 2005 e objetivos da mesma, os mais genéricos. Já informações sobre seu corpo diretivo, nenhuma. Ai foi só ter um pouco mais de paciência para descobrir, na própria Internet, numa dessas notícias plantadas para promover seus criadores, o nome do seu presidente, Augusto Carvalho. Sendo um nome tão comum poderíamos encontrar centenas de Augustos Carvalhos, mas mesmo assim arriscamos, só que dessa vez colocando o nome do Presidente da ONG, CONTAS ABERTAS e, BINGO! Trata-se, pasmem, do Deputado Federal, Augusto Carvalho, pelo PPS, ou seja, ONG criada para sentar o pau no governo brasileiro e dar suporte à campanha do mesmo, em 2006. Esta é a é imprensa eficaz e moderna que se faz hoje em dia.

O noticiário diário está salpicado de eventos como esses. ONGs, criadas do dia para a noite, entrando e saindo do noticiário nacional e, o que é pior, deixando um rastro de problemas que absorvem somas financeiras consideráveis da administração pública. Pouco se fala a respeito, mas esses organismos híbridos exigem que o Estado aumente de tamanho para a sua regularização e fiscalização. São milhares de ONGs criadas anualmente, geralmente com tributação zero. São leis que favorecem o surgimento de mecanismos anônimos que, ao final, não responsabilizam ninguém pelos seus feitos. No caso da ONG Contas Abertas, quem são seus diretores, além do deputado já citado acima? Há um ano ela nem existia, no entanto passa a ser a única fonte para que a Folha conclua que “o culpado pelos distúrbios na capital paulista é o governo federal”. Mas, esses mesmos jornalistas, especializados em blogues, não contextualizam os tumultos desse final de semana no cenário internacional, nem os interesses de países como os EUA e outros que se sentem ameaçados pela crescente independência da econômica brasileira. Com o costumeiro provincianismo e ufanismo, reproduzem capas dos jornais internacionais, sobre esses eventos escandalosos. Nenhuma linha sobre o que mantém o tráfico de drogas, que sustentam as organizações criminosas.

Para finalizar, na tarde dessa segunda-feira, esse mesmo jornal publica a seguinte manchete, sobre a reunião do Presidente da República com seu conselho político: “LULA DESCARTA INTERVENÇÃO EM SÃO PAULO”. O presidente não descarta nada, ele, constitucionalmente não determina que forças federais venham a assumir o controle do policiamento em São Paulo, como também em nenhum outro Estado, a não ser que o governador o peça. Para o governo de São Paulo pedir ajuda federal significaria assumir a incompetência para governar, demonstrada desde de há muito. Na paródia, podemos perguntar, o presidente Lula tem outra saída? Quem sabe rasgar a constituição, imitando Bush que invadiu o Iraque, sem autorização do Conselho de Segurança da ONU. Mas aí é discutir geopolítica internacional, e isso está muito longe do alcance dos jornalistas, bloguistas, da Folha, Estadão, Veja, Isto É, etc.

Mas nem tudo está perdido. No final do jornal Nacional dessa segunda-feira fatídica o jornalista Willian Boner, transmitindo da rua, em São Paulo, entrevistou o atual governador do Estado, Cláudio Lembo, direto e ao vivo do Palácio dos Bandeirantes. Sem ser grosseiro, este jornalista encostou o dirigente máximo paulista na parede, com três perguntas que, ao final, ficaram sem respostas convincentes:

a) Se a rebelião era do conhecimento do governo paulista, por que não foram tomadas medidas para impedir a tragédia que aconteceu?
b) Por que o governo paulista recusou a ajuda federal para diminuir o tamanho dessa tragédia? Pior, por que o governo continua a se negar a receber ajuda, quando já se conhece a conseqüência de uma nova e possível rebelião?
c) O Governo de São Paulo negociou o fim da rebelião com os presos?

As respostas não convenceram, ou melhor, a quem convenceram?

Cai o pano!

Jair Alves - dramaturgo - São Paulo

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