junho 27, 2006

Depoimento de Elvira França

Bandeira de Osasco/SP









Osasco/SP é considerada o berço da aviação da América do Sul; tem 70 dos seus 100 anos como subúrbio industrial e operário.

Nota: Elvira França, paulista de Osasco, reside desde os anos 80 na cidade de Manaus. A ela se incorporou com uma das suas personagens. Professora, pesquisadora, através da neurolinguística atua no campo da prevenção às drogas; é membro atuante do Conselho Estadual de Entorpecentes. Talvez, por tudo isso, em seu depoimento sobre os loucos de rua da nossa infância, não conseguiu enxergá-los em sua cidade natal. Neste caso, está explicado os Mamonas Assassinas: alguém tinha que enlouquecer aquela cidade.

Depoimento de Elvira França

Rogelio,

Na minha infância em Osasco, São Paulo, não havia propriamente louco de rua, e sim alguns bêbados. A gente ficava sempre com medo quando eles passavam, porque os adultos nos ameaçavam que eles iam nos pegar se nós não fizéssemos o que eles estavam mandando. O contato com o bêbado era uma ameaça de castigo, e por isso crescíamos com medo deles, e ao mesmo tempo com vontade de desafiá-los, porque eles representavam um poder misterioso sobre nós e nosso comportamento. "Olha o bêbado! Ele vai te pegar!" Aí, corríamos todos pra dentro de casa, mas não sem antes fazermos caretas, sons vocais que expressavam desprezo e ousadia ao mesmo tempo. Às vezes, eles se irritavam, faziam gestos de ameaça, deixavam as crianças perto da porta da escola assustadas, e elas se espremiam para entrar pelo portão, com medo que alguma agressão continuasse. Os meninos eram mais ousados, porque às vezes chegavam a se aproximar, tocar e correr, deixando o bêbado agressivo e ainda mais defensivo. Em casa, ouvíamos falar sobre os bêbados mais como ameaças e raramente era comentada sua origem, família, onde viviam. Os adultos até podiam conversar sobre eles, mas isso não ficou na memória, porque na época o mistério e o desconhecimento era mais importante para os efeitos de causar medo.

Hoje, depois de estudar sobre alcoolismo e ter vivenciado problemas de alcoolismo na família, percebi que essas pessoas sofrem de transtorno mental e seu comportamento estranho e permanência na bebida ocorre porque as alterações cerebrais afetam o controle sobre a própria vontade de deixar de beber. Tudo começa como brincadeira entre amigos, e depois pode virar dependência química. Por isso, quando vejo alguém depreciando ou maltratando alguém alcoolizado, converso com as pessoas e repasso informações a elas. Elaboro materiais didáticos para instruir as pessoas sobre o problema e sensibilizá-las para darem apoio. Enquanto no passado o "louco" que eu tive contato era o bêbado, geralmente um adulto com mais de 30 anos, hoje temos muitos jovens bebendo e é com grande tristeza que os vemos caídos pelo chão, sujos, urinados. Há algum tempo, era preciso mentir, dizer que a pessoa estava tendo ataque epiléptico, quando era necessário chamar uma ambulância de emergência, para socorrer uma pessoa alcoolizada caídas e machucadas, porque os profissionais se recusavam a atender alcoolizados, ou mendigos doentes. Felizmente, tenho experiências positivas de prestação de socorro pela SAMU, fone 192, na prestação de socorro a alcoolizados e meninos de rua agredidos.

Nesta semana encontrei um menino de rua, dependente de cola de sapateiro, que foi agredido por um adulto na rua, como reação a um palavrão, segundo o menino contou. Ele sofreu uma fratura no osso da face, estava chorando, com o rosto ensangüentado devido ao corte que sofreu na sombrancelha, e foi muito bem atendido no Hospital Infantil da Zona Leste, e depois pela Central de Resgate. O que mais me entristece é a falta de conhecimento das pessoas em relação às alterações mentais de dependentes químicos, o que faz com que ajam de modo a intensificar o problema. Por isso, acho que muitas das pessoas que consideramos "normais", quando agem agressivamente contra os "loucos", estão em piores condições, porque além de ignorantes também não têm compaixão em relação a um ser humano em condições de desvantagem física, intelectual e moral.

Elvira Eliza França

Manaus, 26 de Junho de 2006.

6 comentários:

Anônimo disse...

Olá Rogélio:

Gostei muito de ler "about you", quando cita o grande amor de sua vida.Risonildo e eu que já estamos com 30 anos de casados, sabemos da benção de encontrarmos a pessoa certa para dividirmos a vida.
Dentre os loucos de minha infância cito além de Carmem doida, o Bombalá e a Nega Charuta( nem sei se era doida), mas tínhamos medo dela porque sempre ameaçava correr atrás dos meninos da rua quando riam dela.
Lembro também do Zé bundinha, um rapaz da cachoeirinha que também corria atrás da meninada.
Um grande abraço da amiga:

Nália

PICICA disse...

Fico grato pelo seu comentário. Depoimentos de outros amigos serão bem-vindos. Um grande abraço para você e Risonildo.

Anônimo disse...

Caro Rogelio,

estou tentando fazer contato com Elvira França em nome de Aliciana, filha de Orlandina (Landa), uma amiga (já falecida) de Elvira. Você teria um endereço de e-mail de Elvira ou algum outro canal de comunicação que eu pudesse utilizar?

Muito obrigado,

Paulo

Anônimo disse...

Caro Rogélio, vi o meu comentário publicado no blog e agradeço pela sua atenção e pela colaboração que posso dar para a questão da discriminação das pessoas que sofrem de transtorno mental devido aos efeitos do álcool no cérebro. Constatei que duas informações estão incorretas nas informações sobre minha formação e atuação. Minha especialidade é em programação neurolingüística, e eu sou apenas voluntária do Conselho Estadual de Entorpecentes do Amazonas. Peço o favor de fazer a correção. Desejo um feliz 2008 para você e sucesso em seu trabalho de promoção da saúde mental no Amazonas. Obrigada Elvira França

Anônimo disse...

Elvira Eliza França é simplesmente uma "fada" do bem que tem o dom divino e a desteza cientifica de ajudar o proximo! É uma das melhores terapeutas de PNL que já conheci! Desejo muita sorte e sucesso para ela!
No mais parabens pelo Blog Rogelio!
Fica com Deus e muita saude e sucesso! Nos vemos lá pelo Armando!

Rochinski disse...

Li o comentario de Elvira e gostei muito.
A anos perdi o contato com ela e gostaria muito entrar em contato.
Quem souber e-mail ou tel de Elvira, por favor me envia, ou quem tiver contato com ela, passa a ela meu e-mail; rochinsky@hotmail.com
Um abraço a todos
Rochinski