junho 26, 2006

Depoimento de Humberto Amorim

Foto: Gymnasio Pedro II, famosa Escola Estadual do Amazonas, anos 60












Pedro II, imperador do Brasil, tem uma praça com
seu nome em Manaus, porém um decreto federal não
permite que nenhuma outra escola fora da cidade do
Rio de Janeiro ostente o seu nome.

Nota: Humberto Amorim é jornalista, radialista, tradutor, intérprete simultâneo diplomado pela Universidade de Michigan e Universidade de Cambridge, jazzófilo e enófilo... e é meu amigo. Sua façanha recente: é o mais novo membro do fechadíssimo "The Wine Century Club" com sede em New York City; são 145 membros de vários países do mundo dentre os quais somente dez são brasileiros; Humberto passou a vestir a camisa 11. Próxima façanha: deve entrar para o Guinness Book por manter há 11 anos o único programa de jazz transmitido para o mundo a partir da floresta amazônica. No momento, ele pode ser visto e ouvido no Café Adrianópolis com o seu All That Jazz Band. Leia o depoimento de Humberto Amorim sobre os loucos de rua da nossa infância, enviada por e-mail.

Depoimento de Humberto Amorim

Meu caro,

Impossível esquecer o Antonio Doido que perambulava pelas ruas da Cachoeirinha e também na Praça São Sebastião. Ele não paravava de sorrir e fazia uma "aeróbica" murmurrando uma canção com as pernas em V, em movimento compassado pra-frente-pra-trás. Quando cansava se auto-aplaudia. Não incomodava ninguém. Era alimentado pelas pessoas. Não sei de onde vinha. Pelo que sei, ao se aproximar a molecada ele ia embora.

Carmem Doida. Ficava sentada todos os dias em um pequeno barranco na esquina da rua por trás do cemitério São João Batista com o Boulevard Amazonas dando "ciao" para quem passava. vestia roupas coloridas e não parava de pentear os cabelos. De vez em quando punha-se a falar muito alto como estivesse reclamando de alguma coisa.

Cabecinha - Deste não sei nada, pois tivemos um breve, porém, marcante encontro, nos idos de 1983 em frente a antiga Amacom da Marcilio Dias; quando eu atuava como guia de um grupo de turistas, me atingiu pelas costas com uma pequena pernamanca. Como resultado fui levado, sangrando um bocado para o Pronto Socorro São José (lembra?) onde levei 8 pontos.

O resultado positivo desse episódio foi o início de uma grande amizade entre eu e o dono da loja Stephen Hamilton e seu sócio Richard Bryan, ambos de saudosa memória, que foram os primeiros a me socorrer. Os turistas hospedados no Hotel Amazonas correram apavorados. Por volta das 2 horas da tarde, recuperado, levei-os para o aeroportop naquele mesmo dia. Foram generosos com as gorgetas para "eu tratar melhor do ferimento".

Um abraço,

Humberto

P.S - Se quiseres saber das minhas loucuras, temos primeiro que abrir uma garrafa de carmenere, ampará-la com um t-bone steak, e terás os relatos de quase todas, tendo em vista que posso perder o senso.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Rogelio, querido,
Sensacional a idéia de publicar este depoimento do Humberto Amorim, porque nos leva a pensar nas palavras do poeta :”uma cidade que não tenha um louco de estrada que a represente, não é uma cidade confiável”!
Me lembro nítidamente da Carmem Doida, figura histórica da minha infância, eu sempre fui convencida que a Carmem tinha enlouquecido por amor, pois parecia esperar alguém apaixonadamente, e se passava tanto tempo e esse alguém nao chegava, ela gritava aos céus o seu desencanto!Achava Belíssimo!
Acho que a inocência da loucura é que traz esse tipo de consequência benéfica que o Humberto colheu desse fato: Ganhou novos amigos, conquistou a solidariedade dos turistas e ficou com essa estória na memória prá hoje dar de presente a todos nós.Realmente uma estória deliciosa!
Viva a inocência dos loucos clínicos!Quanto a nos outros, nos consolam as palavras de Freud: “Toda pessoa só é normal na média”, e de Caetano Veloso:”de perto ninguém é normal!” Um grande abraço!
Arlete Amorim