agosto 14, 2006

Geraldo e Dulce Edie Pedro dos Santos: familiares em defesa da Reforma Psiquiátrica

Foto: Rogelio Casado - Hospital Colônia
Eduardo Ribeiro, Ala Feminina e Pátio, 1980




















Nota: Brevemente deve entrar em cena usuários e familiares ligados à Federação Brasileira de Hospitais (iniciativa privada) em apoio ao presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Antes que eles o façam, leia o documento de dois queridos companheiros da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (que está preparando um documento em defesa da Reforma Psiquiátrica, depois do atentado praticado pelo presidente da ABP), ambos com filhos sob tratamento num dos 800 serviços substitutivos ao manicômio. Com a palavra Geraldo e Dulce.

Resposta à ABP

Caros companheiros,

Abaixo, nossa manifestação de apoio à maneira correta com que a Reforma Psiquiátrica Brasileira está sendo implantada, através do SUS.

A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA ESTÁ SENDO FEITA POR NÓS TODOS – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Com todo o respeito, mas, foi lamentável, profundamente lamentável o texto do senhor presidente da ABP, Dr. Josimar França, que nos convoca a todos para que comunguemos com o “pensamento único” da Associação Brasileira de Psiquiatria. Somos familiares e usuários do SUS e, como já tivemos nossos filhos internados em hospitais psiquiátricos, sabemos do que estamos falando. Precisamos, sim, da psiquiatria e dos psiquiatras, mas, não mais do manicômio. Falamos por experiência própria, já que, muitas vezes, estivemos lá dentro, não só acompanhando nossos filhos, mas também durante as inúmeras visitas de inspeção para as quais fomos convidados, nos mais diversos hospitais dos mais diversos estados.

A Reforma Psiquiátrica Brasileira está sendo construída por nós todos e, muito embora, em alguns pontos, não contemple o nosso ideal, vem, pouco a pouco, se concretizando e mobilizando todo o país, abrindo os olhos daqueles que somente acreditavam na internação como alternativa à doença mental. Somos testemunhas, absolutamente convictas de que só a partir do momento em que nossos filhos deixaram de ser apenas um número nas estatísticas dos hospitais psiquiátricos, passando a ser tratados nos serviços abertos, implantados pelo governo, foi que uma melhora significativa se instalou neles, possibilitando que pudessem viver na comunidade e em sociedade.Lamentamos a ausência da Associação Brasileira de Psiquiatria junto à Reforma Psiquiátrica Brasileira, neste tão importante momento nacional. Quando se critica a Portaria 1.055, de 17 de maio de 2006, a qual cria o NÚCLEO BRASILEIRO DE DIREITOS HUMANOS E SAÚDE MENTAL, do Ministério da Saúde, conjuntamente com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, da Presidência daRepública e, se decide por não participar do mesmo, ignorando fatos reais que vêm acontecendo na área da saúde mental, graças a essa reforma, mantendo-se numa confortável posição e exarando críticas obscurantistas é, mais uma vez, profundamente lamentável. Melhor seria se a ABP lutasse como sociedade civil, a fim de ter presença garantida junto a esse núcleo, podendo assim, exercer o direito à crítica, que é o que ora fazemos e, o que desejamos que todos o façam. Seria de enorme contribuição se a ABP se fizesse presente neste núcleo de trabalho a ser formado, pois, assim, poderíamos debater frente-a-frente, e não, somente, através dos meios de comunicação.

Permitam-nos discordar quando é dito que “... mais uma vez, uma ação governamental nasce com a oposição dos principais interessados na questão”. Gostaríamos de deixar registrado, com a mais absoluta clareza que, os principais interessados nessas questões da saúde mental, da psicose, da loucura, do delírio ou, do nome que se queira dar, somos nós: usuários e familiares. Acreditamos na liberdade, nos espaços abertos e, a cura, absolutamente, não nos preocupa. Curar o que? O que almejamos é transformar a vida dessas pessoas, podermos, apenas, dar a elas um novo patamar de existência.

Queremos acrescentar, mais uma vez que, tudo isso o que dizemos e fazemos, acontece porque, em algum lugar do mundo, existe alguém que ouve vozes, tem visões e alucinações e, se não estivermos atentos a isso, poderemos até criar uma nova teoria, mas que, de nada servirá. É indiscutível a importância dos psiquiatras e da psiquiatria, para nós, usuários e familiares. Que haja compreensão e entendimento para o bem de nós todos.

Geraldo Peixoto e André Luiz Peixoto, familiares e usuários da saúde mental do SUS, atendidos e tratados no CAPS Mater da cidade de São Vicente/SP

Dulce Edie Pedro dos Santos e Sylvio Luiz Rodrigues Junior, familiares e usuários de saúde mental do SUS, atendidos e tratados no CAPS Mater da cidade de São Vicente/SP Posted by Picasa

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