fevereiro 05, 2007

Um artigo que é "um lixo só"



















O pássaro da reforma e sua luta contra a psiquiatria carcerária
(o gato manhoso da contra-reforma enjaula-se a si próprio)

NOTA: O artigo abaixo é uma dessas pérolas da contra-reforma psiquiátrica, aqui encarnada pelo proprietário de um desses hospitais psiquiátricos falidos, da cidade de Recife, que insiste em continuar num guarda-chuva aberto pelo Ministério da Saúde nos anos de chumbo (anos 1970), numa das maiores privatizações da história da psiquiatria brasileira. Movido pelo espírito democrático do dabate, embora reconheça o que é voz corrente entre os companheiros da Reforma Psiquiátrica - a de que o artigo em tela é um lixo só, que sequer representa a psiquiatria contemporânea, mas, mal e porcamente, a psiquiatria do final do século XIX, início do século XX - publico-o à guisa de advertência didática para as novas gerações psi que me dão a honra da leitura deste blog. É isso aí!

OPINIÃO - ARTIGO
Folha de Pernambuco

Psiquiatria atualizada

Quarta-feira, 31 de janeiro de 2007
* Ulysses Pernambucano de Mello

Nos dias correntes já nenhum psiquiatra desconhece serem doenças psíquicas (quase todas) distúrbios neurodegenerativos do cérebro e que há que apressar o tratamento. Tardar pode significar cronificar o transtorno e agravar o prognóstico da doença. Além de permitir crescer o número de recidivas. Traduzindo-se tudo em futuros déficits cognitivos.

Tratar inclui medicações de última geração; modernas técnicas psicoterápicas; combinações sofisticadas das substâncias citadas acima; eletroconvulsoterapia, já que as causas das doenças mentais ( fisiopatologia ) são fenômenos muito mais complexos do que se imaginava. E ainda há muito por desvendar. Pertencer a uma religião e o efeito positivo das preces, novo horizonte a ser conhecido. A interface da religião com a ciência.

Há distúrbios cujas causas remontam às fases precoces da gravidez e cujos primeiros sintomas, no filho, só virão a aparecer entre os 15 e 30 anos ou mais de idade, aproximadamente. Poucos sabem disso. É necessário divulgar. Cabendo à Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde iniciar campanhas preventivas através dos meios de comunicação - jornais, televisões, rádios e outros -, imediatamente, para por em prática a prevenção primária desses males. Associando-se ao que há de mais moderno na ciência médica. Sem deixar de fora o combate ao uso de drogas ilícitas, todas. Sabe-se, hoje, que, por exemplo, o uso de maconha por jovens de 12 a 15 anos, cobra um preço alto em futuras depressões. Esquizofrenias.

Não se pode mais aceitar que a eletroconvulsoterapia continue banida oficialmente do arsenal terapêutico do psiquiatra brasileiro. Um atraso a ser corrigido. Na prevenção secundária - intervenção médica sobre transtorno já instalado - é tão importante quanto um desfibrilador para cardiologistas.

Melhorar as condições de hotelaria e de terapêutica dos hospitais psiquiátricos conveniados com o SUS, investir financeiramente neles, modernizá-los. Permitir-lhes utilizar medicação de última geração, o que hoje nem se cogita. Esquecer aracaísmos como o movimento da luta anti-manicomial, coisa baseada em equívocos sócio- psiquiátricos dos anos oitenta do século passado. Enterrar o fantasma antigo da "desospitalização" que só trouxe atraso a nossa especialidade. Em muitas ações desenvolvidas pelo SUS ainda se "sente" a inspiração nessas velhas idéias.

Aos profissionais de psiquiatria, um mergulho imediato e profundo na moderna neuropsicofarmacologia e tantos aspectos mais. Não desdenhar da importância do trabalho próximo de psicólogos. Têm sido forte referência de nossas ações. Afinal, não é por outra razão que nos cursos de psicologia a neuropsicologia tornou-se a especialização mais procurada. Segundo o mestre Douglas Sucar, em simpósio promovido pelo Cognitium em novembro último no Recife pelo professor Everton Botelho, "psiquiatras e psiquiatria serão em breve os especialistas e a especialidade mais importantes da medicina".

Incluir nos programas de tratamento psiquiátrico a população de doentes mentais habitantes das ruas, algo tido como "folclórico" e aceito complacentemente até há pouco. Levantamento em cidade de grande porte levado a cabo por alunos de universidade importante encontrou um número expressivo de esquizofrênicos, alcoolistas crônicos, usuários de drogas, psicopatas em geral e portadores de diversas outras patologias largados nas ruas. Indaga-se: não constituiria omissão de socorro e infração ética um cardiologista passar ao largo de alguém infartando em plena rua? Qual a diferença de um doente do coração para um do cérebro? A infração não seria a mesma? Há muito doente mental nas ruas e psiquiatras passam e apenas os identificam, nenhum pára e os encaminha a tratamento. Quem atende à demanda dessa gente? E o que ela faz nas ruas sem atenção que lhes previna da cronificação?

O mesmo levantamento vale para encarcerados. Em meio à população prisional há muito doente mental desdenhado, com suas patologias se agravando, quadros clínicos fazendo-se crônicos e o índice de recidivas aumentado por ausência de cuidados médicos. Precisamos somar forças com os órgãos governamentais, Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde, prefeituras em gestão plena e superar essas dificuldades. Ao lado do Conselho Federal de Medicina e regionais, Associação Brasileira de Psiquiatria e regionais, afinal doença mental é matéria a ser tratada por médicos psiquiatras. Não podemos deixar nosso doente ao relento nas ruas, encarcerado ou em suas próprias casas mantidos por familiares mal intencionados ou desinformados.

* Psiquiatra. Posted by Picasa

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