março 23, 2007

Hospital hospício ou Clínica manicômio?















HOSPITAL HOSPÍCIO OU CLÍNICA MANICÔMIO?

Logo nos primeiros dias de 2007 eu entrava em depressão profunda. Um psiquiatra tratou-me até o início de fevereiro, quando determinou que me internasse no Hospital Psiquiátrico Bom Retiro; já que continuava e se aprofundava a depressão com agravante de inclinação ao suicídio.

Lá chegado, em acolhedores sorrisos os plantonistas meteram-me na Ala Greca daquele Hospital. Minha esposa temia por mim, insistia que bastava que medicassem, ela me vigiaria em casa mesmo. Mas, os afáveis plantonistas peroraram: “fica tranqüila moça, nesta ala é só particular ou plano de saúde, não atende pelo SUS, fica tranqüila moça”. Entrei.

As instalações prometiam. Corredores largos revestidos do piso ao teto com pastilhas de boa qualidade. Quartos, um pouco tristes, porém, com apenas duas camas individuais em cada um, um banheiro para cada dois quartos et cetera.

O truque era dificultar a Alta

A alta só era fácil quando o próprio familiar que tivesse internado o doente a pedisse. Porém, invariavelmente, os familiares eram persuadidos a prolongar o internamento. Habilmente falam-lhe da “gravidade” do caso, das melhoras já alcançadas etc. O único motivo deste engodo: o hospital recebia R$ 180,00 por cada dia de internação.

Assim que entrei recebi um crachá. Destacava-se nele um número “1”. Para obter alta precisaria alcançar o “5”.

A classificação “2” foi fácil conseguir, contudo, para merecê-la, tive de comprometer-me a limpar o chão do refeitório. Deprimido que estava, aceitava tudo.

A classificação “3” obtive pela boa conduta (não há deprimido que não seja dócil e - eu ardia já pela alta). Porém, aí as tarefas se multiplicaram: obriguei-me a limpar o refeitório em 3 das 4 refeições servidas (péssimas) e varrer um extenso pátio. Tive ainda de cuidar, em horários alternados com os demais colegas de “3”, da portaria interna que dá para aquele pátio.

Eu era então “guarda” de pacientes que não haviam alcançado o “3”, e que, portanto, deveriam ficar confinados ao corredor. Ser hierarquicamente superior a pacientes com comprometimento psiquiátrico me gelava. A tal Ala Greca deveria atender apenas deprimidos, mas, efetivamente havia de tudo lá.

Observei que quem alcançava o nível “4” ficava tão atarefado que raro era vê-lo parado ou andando. Geralmente estava correndo para poder dar cabo das tarefas exigidas. Eles sabiam que para sair daquele inferno esta era a única maneira. Qualquer vacilo e algum funcionário o rebaixaria o número.

O castigo físico como mantenedor da ordem

Caso um médico, uma psicóloga, uma enfermeira ou uma servente viesse a sentir-se ofendid(o)a com qualquer palavra ou ato do paciente, poderia tocar uma campainha e, ato-contínuo, vinham oito pessoas que formavam um grupo eufemisticamente denominado: “grupo de ajuda” e faziam o que eles chamavam de “contenção”.

A contenção consistia em amarrar o paciente à cama, de maneira que ele não pudesse fazer nenhum, nenhum movimento com o dorso ou membros. Mal comparando, seria o equivalente a uma camisa-de-força associada a uma “calça-de-força” e ambas rijamente atadas à cama. Isto feito, eles o largavam lá, de castigo, por até seis horas ininterruptas (no mínimo eram duas horas). Soube mais tarde que no SUS os pobres diabos ficavam por até 24 horas “contidos”.

Ficava pensando: “Ora, se algum interno entrasse em surto e ameaçasse a própria integridade física e/ou a dos demais em volta dele, este procedimento seria aceitável e até necessário. Mas, ao contrário, só o via sendo aplicado como castigo moral. Geralmente causados por algum palavrão que eventualmente havia escapado dentre os dentes de um infeliz que não percebeu atrás de si uma auxiliar de enfermagem, uma faxineira ou quaisquer que as valham.

Era chegada a minha vez

A minha contenção se deu por outro motivo. Havíamos sido levados a uma sala onde uma psicóloga nos aplicaria a “terapia ocupacional”.

Vendo que a “terapia ocupacional” consistida em colorirmos uma figura que nos era fornecia desenhada, era excessivamente pueril, resolvi virar a página e escrever um poema no verso do tal desenho.

Como naqueles últimos dias eu havia visto colegas “contidos”, escrevi um soneto, onde lamentava este tipo de procedimento. Achei que assim, com fumos de arte, poderia criticar a instituição. O pus no mural destinado aos internos e que só ostentava uns lugares-comuns de cunho evangélico. Empolguei-me, e, uma vez no quarto, escrevi outro texto no qual fazia reclamações dos trabalhos aos quais éramos sujeitos. Li este último em voz alta na refeição seguinte como que concitando os colegas de martírio a reagir ou, pelo menos, refletir: pagaria caro por tanta ingenuidade

...

Por acaso, não havia muito, eu havia ficado impressionado, nauseado mesmo, ao ler em O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo, essa forte passagem:

“... há muitos, muitos anos um Caré roubou um cavalo dum Amaral. Para castigar o ladrão o estancieiro mandou seus peões costurarem o pobre homem dentro dum couro de vaca molhado e deixarem-no depois sob o olho do sol. O couro secou, encolheu e o Caré morreu asfixiado e esmagado.”
(VERÍSSIMO, Érico. O tempo e o vento. O Arquipélago, 1961, v. I, p 297).

...

Mal sabia que passaria por “quase” isso:
Oito trogloditas me amarraram à cama, mas, o fizeram com uma tensão absurdamente acima da usual. Ou por ver em mim um perigo, ou por estarem estressados com o fato de que eu não me calasse durante a operação, a exigir uma explicação para o que estava acontecendo, ou ainda porque a “psicóloga” fazia sinais com a mão direita “como quem estivesse a parafusar o ar com uma chave de fenda fictícia” incitando-os.

Lá fiquei por três horas amarrado e com a respiração extremamente limitada. Meu peito e meu diafragma estavam inteiramente comprimidos. A única respiração possível era aquela curta e rápida, como a de um cachorro em dia de verão. Lastimava o Caré do Veríssimo. Pensava nas histórias de “enterrados vivos” que ouvira na infância...

Fui internado para que não me suicidasse e estava agora sendo exterminado, lenta e dolorosamente? Repercutiam-me as gargalhadas dos trogloditas que me amarraram, imagens fantásticas se me afiguravam e explodiam sem parar, ouvia os baldios gritos do Caré podendo jurar que ele jamais havia roubado cavalo nenhum, quanto mais daquele canalha do Velho Amaral. Laranja sim, talvez roubasse, mas, cavalo não! Via-me num esquife, depois, voltando um pouco à razão pesava: na última hora estes crápulas me salvam. Não vão querer enfrentar a polícia e a imprensa por minha causa.

Quando estava amarrado havia 15 minutos aproximadamente, veio uma enfermeira e sem proferir palavra tascou-me duas injeções na parte anterior da coxa direita, meio que por cima das ataduras. Negou-se a dizer do que se tratava. Talvez fosse apenas de “efeito moral” para causar a dor de tomar duas injeções praticamente no osso da coxa. Se fosse calmante eu deveria sentir o efeito, mas não senti.

Depois de mais de uma hora entrou no meu quarto um paciente. Arregalou os já grandes olhos azuis e (como se isso fosse possível) gritou sussurrando: “Cara, ... tá loco!? Cê tá roxo pra c...”. Por sorte minha, ele – mesmo arriscando o “4” que ostentava no peito - ousou mexer nas ataduras e diminuir quanto pudesse a pressão. Pouco me valeu tanta coragem. Continuava muito, muito comprimido e ofegante.

Até hoje, quando me vem a imagem daquela psicóloga que ordenou minha contenção, um instinto primitivo emerge de não sei onde. O primeiro texto que escrevi ao voltar pra casa era impublicável, era mais um vômito que um texto. Decidi deixar passar o tempo para amainar o espírito.

Estava naquela condição e nenhum enfermeiro, muito menos um médico ou psicóloga me aparecia. Mas não deslembraram de reduzir o “3” que heroicamente havia alcançado para “1”.

Logo que fui desmaneado, covardemente, sem sequer levantar os olhos a quem me dirigia a palavra fui obedecendo cegamente, aterrorizado pela hipótese de ser novamente “contido”.

Ainda neste dia, ao final da tarde, minha esposa promoveu a “alta a pedido”, mesmo que sob os argumentos e ameaças do costume.

Neste mesmo dia houve uma fuga. Enquanto outro paciente com celular emprestado tentava alta através do 190 da polícia, pobre infeliz.

Quando voltei ao meu psiquiatra entreguei-lhe uma versão anterior deste texto. Ele, muito desconcertado, desculpou-se e sentenciou um tanto solene: isso é um manicômio, acredite, eu não fazia idéia que ainda existisse isso. Mas não quis comprometer-se com a minha idéia de denúncia.

Só a imprensa pode fazer alguma coisa, é urgente. Pensei em processá-los, mas, sem testemunhas e sendo um caso único não vai resolver. Talvez um órgão público, mas, é loteria acreditar em políticos.

“Nel mezzo del cammin” aprendi, sentindo na pele, o óbvio (quase um anexim): se você entra são no hospício: sai louco. Se entra louco: sai com um comprometido psiquiátrico muito maior do que tinha quuando entrou. Se você entrar lá por um diagnóstico relativamente comum (depressão) e ficar o período mínimo que eles exigem (trinta dias) vai virar freguês, et factum est.

Os hospitais psiquiátricos, pelo menos este, absolutamente não servem para curar e nem buscam curar. Servem apenas para “proteger a sociedade dos depressivos ou maníacos” mantendo-os presos. Os pacientes lá mais que receber um tratamento cumprem uma pena.

Os textos que pus no mural falavam apenas as verdades claras, expostas a todos. A tal Psicóloga, no dia seguinte, na “terapia de grupo” me pediu para retirá-los de lá. Falei que tudo bem, os tiraria, mas, qual a resposta para as reivindicações daqueles textos? Ela deu de ombros e virou para outro paciente. Uma hora depois começava o martírio que descrevi acima.

Os textos

(Obs.: para melhor compreensão do poemeto é necessário falar que lá é proibido chamar o local de hospício, e o tradicional grupo de oito deve ser chamado de grupo de ajuda).

O poemeto

Amarrado o ___ago,
Amarraram o ___mar.
Aqui é sem afago.
Hospício? se falar...

“Hospital Psiquiátrico”
É politicamente correto.
Grupo de ajuda, não D’oito
Eufemizam direto

No peito tens um número
A custo conquistado,
E nem mesmo no útero

És tão enclausurado.
Nem Calvino nem Lutero,
Só a morte a paz tem dado.

O texto pro mural

1. É repugnante que embora paguemos ao hospício ou a um plano de saúde que o cubra, sejamos aqui coagidos a fazer a faxina do refeitório e pátios, além do trabalho de portaria.

2. É repugnante que tenhamos que tomar banhos frios para aumentar o lucro da instituição.

3. É repugnante que a qualquer momento e ao seu bel prazer, quando algum interno demonstre a mínima exaltação (própria do ser humano e, na maioria das vezes resultada da medicação que foi prescrita pelo próprio hospício) uma auxiliar de enfermagem (se tanto, já que não há diplomas expostos) resolva amarrá-lo, sem nunca fazer antes o menor esforço por acalmá-lo.

Não peço nada a mim, mas espero que a imprensa possa ajudar as vítimas que continuam lá, e as que prosseguem a chegar.

Sálvio Luiz Nienkötter

NOTA 1: Sálvio é um excelente professor de latim e grego do Departamento de Letras da UFPR.

Em Tempo: Sálvio pede para fazer um reparo na informação acima, que foi repassada para este blogueiro: "Na realidade eu sou estudante de grego antigo e de latim. Já dei aulas sim, mas não sou nem excelente nem professor da UFPR". Tá dado o recado.

*************

NOTA 2: À maneira dos antigos:

Moral da história: A psiquiatria e a psicologia conservadora detestam poesia.

Seria isso, se não fosse mais. Fiel ao princípio de "punir não, educar sempre", proponho a seguinte "medida sócio-educativa" para a psicóloga infratora: copiar mil vezes, em papel cartolina, a canção de Simone Cristicchi, vencedor do Festival Internacional de Sanremo 2007, Ti regalerò una Rosa – Te darei uma Rosa (aqui traduzida pela mentaleira de boa linhagem Fernanda Penkala), e afixá-la nas escolas municipais e estaduais da capital do Paraná, seguida de uma palestra sobre a ética dos cuidados em saúde mental.

Que falta nos faz Sérgio Porto, o imortal Stanislaw Ponte Preta e seu Febeapá! O festival de besteiras que assolam o país não para de produzir novos atores. O troféu do ano vai para a psicologia conservadora que ainda se pratica no país, exceções de praxe. O caso do estimado professor Sávio seria cômico, não fosse trágico.

Definitivamente, o país carece de um novo modelo de formação em saúde mental. Precisa ainda de uma política de financiamento de novos serviços substitutivos para que não proliferem os arranjos que ainda matém entre nós a "pilantropia" nossa de cada dia.

Desta vez não houve vítima fatal, como no caso recente que indignou os mentaleiros de todo o país: em plena vigência da Política Nacional Substitutiva ao Manicômio, no Hospital Psiquiátrico do Rio Grande-RS morreram três adolescentes carbonizadas dentro de um quarto (14, 15 e 17 anos) em 2006.

À semelhança do hospital psiquiátrico de Curitiba onde o professor Sálvio Luiz foi internado, também se dizia tratar-se de um hospital modelo/referência (referência para quem cara-pálida?). Curiosamente, esses dois hospitais, o do Paraná e do Rio Grande do Sul, também adotam o modelo de hospital-dia, conforme o "figurino" da Reforma Psiquiátrica, alguma coisa do tipo-feito-sob-medida.

Travestidos de serviços substitutivos, esse "modelito" está com a validade vencida. A carta denúncia do professor Sálvio Luiz é exemplar: contenção, punição, tortura, humilhação, reclusão é coisa de Capsicômio. Pior! O fato não é isolado.

Daí, a pergunta que não quer calar: O PNASH - Plano Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar foi o instrumento usado como resposta à necessidade de avaliação e fiscalização dos hospitais psiquiátricos; não é hora de criar instrumento semelhante para os nossos serviços substitutivos, como os CAPS, hospitais-dias etc.? Afinal de contas os serviços substitutivos, inclusive os filantrópicos, abocanham uma fatia expressiva do financiamento da Política Substitutiva ao Manicômio. Dinheiro público e qualidade da atenção exigem fiscalização. É de lei.

Ainda mais que essa espinha está atravessada na garganta: como continuar convivendo com a gerência de modelos de cuidado tão antagônicos - Hospícios/Hospitais-Dia/CAPS - gerenciados pelos mesmos interessados? Como diz Fernanda Penkala, mentaleira de fibra, nas brechas do modelo há sempre grupos interessados na possibilidade de ampliar seus ganhos: atirando para todos os lados, uma hora dessas eles acertam. Não é a primeira vez que acertaram um usuário em plena era dos direitos civis e humanos.

Recusar a violência como forma de relação é o mínimo que se exije, sobretudo se os coletivos trabalham pela desinstitucionalização do paradigma. Não é o caso dos hospitais psiquiátricos citados. Análises críticas são bem-vindas. O que se pode desejar é que, a partir delas, brotem intervenções operativas capazes de corrigir de modo exemplar o funcionamento da nova rede institucional pretendida.

Serviços substitutivos costumam nascer a partir da desmontagem dos recursos materiais e humanos existentes nos hospitais psiquiátricos, já dizia Rotelli. Haverá sempre um argumento de algibeira a favor de uma suposta prevenção contra a ingenuidade. É fato que não há modelos estáveis, eles estão sempre em conflito. Toda reforma tem uma conotação dinâmica, conflitiva, não resolutiva, se no centro da nova prática esteja claramente colocada a superação do manicômio.

Sabe-se que os serviços territoriais - como os CAPS, no Brasil - se configuram, em qualquer processo de Reforma Psiquiátrica digna do nome, no principal ator de mudança social, justamente por ser um propulsor de transformações concretas capaz de promover mudança social nas instituições e na comunidade. Mas para isso, precisamos de um outro perfil profissional em todas as categorias que atuam no campo da saúde mental.

Considerando que não há soluções institucionais concluídas, é certo, no entanto, que ações operativas concretas, experimentações, aprendizagem etc. exigem mais quem uma Reforma, exigem uma Revolução.

Lembro-me - ao participar de um dos trinta e sete grupos de discussão na III Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em Brasília, em 2001 - do companheiro Antonio Lancetti, andando de um lado para outro pela sala onde nos encontrávamos. Lamentava-se do desaparecimento prematuro do grande médico-sanitarista David Capistrano Filho, que abrigou o Movimento do Trabalhadores de Saúde Mental, quando era o Secretário de Saúde de Baurú, num momento em que se esgotavam as formas de luta adotadas até então, resultando no surgimento de uma nova bandeira: "Por uma sociedade sem manicômio! " Nesse mesmo período, dezembro de 1987, cá no Amazonas havia acabado de sair de uma greve de fome, no governo Amazonino Mendes, para chamar atenção da opinião pública de que a Reforma Psiquiátrica, entre nós, sairia dos trilhos.

Pois bem! Antonio Lancetti, lembrando o seu querido companheiro David Capistrano Filho, bradou, em alto e bom som, contra o espírito conformista dos novos tempos. Mais do que um trocadilho, uma advertência, um libelo contra os perigos da visão reformista cair em acomodação. "Chega de Reforma! O que precisamos é de uma revolução", concluiu o coordenador da série Sáude e Loucura, publicada pela Editora Hucitec, dirigida por David Capistrano Filho, Gastão Wagner de Souza Campos e José Ruben de Alcântara Bonfim.

Aproveitando o espírito revolucionário que tomou conta do companheiro presidente, que pretende fazer uma revolução na educação, não é hora do mesmo acontecer no campo da saúde mental?

Mãos à obra, mentaleiros!

*************

Ti regalerò una Rosa – Te darei uma Rosa

Simone Cristicchi - Vencedor do Festival Internacional de Sanremo 2007 (57º)
(Tradução: Fernanda Penkala)

Ti regalerò una rosa
Te darei uma rosa
Una rosa rossa per dipingere ogni cosa
Uma rosa vermelha para colorir qualquer coisa
Una rosa per ogni tua lacrima da consolare
Uma rosa para consolar cada lágrima tua
E una rosa per poterti amare
E uma rosa para poder te amar
Ti regalerò una rosa
Te darei uma rosa
Una rosa bianca come fossi la mia sposa
Uma rosa branca como fosses a minha esposa
Una rosa bianca che ti serva per dimenticare
Uma rosa branca que te sirva pra esquecer
Ogni piccolo dolore
Cada pequena dor

Mi chiamo Antonio e sono matto
Me chamo Antonio e sou louco
Sono nato nel '54 e vivo qui da quando ero bambino
Nasci em 54 e vivo aqui desde que era menino
Credevo di parlare col demonio
Acreditava falar com o demônio
Così mi hanno chiuso quarant'anni dentro a un manicomio
Assim me enclausuraram quarenta anos dentro de um manicômio

Ti scrivo questa lettera perché non so parlare
Te escrevo esta carta porquê não sei falar
Perdona la calligrafia da prima elementare
Perdoa a caligrafia da primeira elementar
E mi stupisco se provo ancora un'emozione
E me surpreendo se ainda experimento uma emoção
Ma la colpa è della mano che non smette di tremare
Mas a culpa é da mão que não para de tremer

Io sono come un pianoforte con un tasto rotto
Sou como um piano-de-cauda com uma corda rebentada
L'accordo dissonante di un'orchestra di ubriachi
O acorde desafinado de uma orquestra de bêbados
E giorno e notte si assomigliano
E dia e noite nos parecemos
Nella poca luce che trafigge i vetri opachi
Na pouca luz que atravessa os vidros opacos
Me la faccio ancora sotto perché ho paura
Me submeto ainda porquê tenho medo
Per la società dei sani siamo sempre stati spazzatura
Para a sociedade dos sãos somos sempre imundos
Puzza di piscio e segatura
Fedor de urina e serragem
Questa è malattia mentale e non esiste cura
Esta é a doença mental e não tem cura

Ti regalerò una rosa
Te darei uma rosa
Una rosa rossa per dipingere ogni cosa
Uma rosa vermelha para colorir qualquer coisa
Una rosa per ogni tua lacrima da consolare
Uma rosa para consolar cada lágrima tua
E una rosa per poterti amare
E uma rosa pra poder te amar
Ti regalerò una rosa
Te darei uma rosa
Una rosa bianca come fossi la mia sposa
Uma rosa branca como fosses a minha esposa
Una rosa bianca che ti serva per dimenticare
Uma rosa branca que te sirva pra esquecer
Ogni piccolo dolore
Cada pequena dor

I matti sono punti di domanda senza frase
Os loucos são interrogações sem expressão
Migliaia di astronavi che non tornano alla base
Milhares de astronaves que não retornaram à base
Sono dei pupazzi stesi ad asciugare al sole
São fantoches a secar ao sol
I matti sono apostoli di un Dio che non li vuole
Os loucos são apóstolos de um Deus que não lhes quer

Mi fabbrico la neve col polistirolo
Faço minha neve com o isopor
La mia patologia è che son rimasto solo
A minha doença é que permaneço sozinho
Ora prendete un telescopio… misurate le distanze
Neste momento peguem um telescópio... meçam a distância
E guardate tra me e voi… chi è più pericoloso?
E vejam entre eu e vocês... quem é mais perigoso?

Dentro ai padiglioni ci amavamo di nascosto
Dentro dos pavilhões em que nos amávamos às escondidas
Ritagliando un angolo che fosse solo il nostro
Procurando um canto que fosse somente o nosso
Ricordo i pochi istanti in cui ci sentivamo vivi
Recordo os poucos instantes em que nos sentíamos vivos
Non come le cartelle cliniche stipate negli archivi
Não como o prontuário clínico amontoado nos arquivos

Dei miei ricordi sarai l'ultimo a sfumare
Das minhas recordações serás a última a sumir
Eri come un angelo legato ad un termosifone
Eras como um anjo unido a um aquecedor
Nonostante tutto io ti aspetto ancora
Apesar de tudo eu te espero ainda
E se chiudo gli occhi sento la tua mano che mi sfiora
E se fecho os olhos sinto tua mão que me toca

Ti regalerò una rosa
Te darei uma rosa
Una rosa rossa per dipingere ogni cosa
Uma rosa vermelha pra colorir qualquer coisa
Una rosa per ogni tua lacrima da consolare
Uma rosa pra consolar cada lágrima tua
E una rosa per poterti amare
E uma rosa pra poder te amar
Ti regalerò una rosa
Te darei uma rosa
Una rosa bianca come fossi la mia sposa
Uma rosa branca como fosses a minha esposa
Una rosa bianca che ti serva per dimenticare
Uma rosa branca que te sirva pra esquecer
Ogni piccolo dolore
Cada pequena dor

Mi chiamo Antonio e sto sul tetto
Me chamo Antonio e estou no telhado
Cara Margherita son vent'anni che ti aspetto
Querida Margherita são vinte anos que te espero
I matti siamo noi quando nessuno ci capisce
Os loucos somos nós quando ninguém nos entende
Quando pure il tuo migliore amico ti tradisce
Quando simplesmente o teu melhor amigo te trai
Ti lascio questa lettera, adesso devo andare
Te deixo esta carta, agora devo ir
Perdona la calligrafia da prima elementare
Perdoa a caligrafia da primeira elementar
E ti stupisci che io provi ancora un'emozione?
E te assombras que eu experimente ainda uma emoção?
Sorprenditi di nuovo perché Antonio sa volare
Surpreende-te novamente porquê Antonio sabe voarPosted by Picasa

2 comentários:

Anônimo disse...

Interessantíssimo texto senhor Rogelio, imprimi com suas devidas referências para que pudesse estar compartilhando com meus colegas de faculdade.

Estudante de Enfermagem
Faculdade Evangélica do Paraná

Nilak Penaforte disse...

Achei muito bom seu blog. Esta me ajudando muito. Eu particularmente sou contra internação,e ultimamente estou passando por problemas pois a mma~e do meu namorado o internou,sendo que não havia necessidade desta ação extrema.
O caso dele precisa de tratamento sim(pois segundo o medico ele tem desvio de personalidade),mas internação ,confinamento,reclusão,não ai é demais.
O caso dele foi acarretado por problemas familiares,que não tiveram acompanhamentos necessários,desencadeando o problemas atuais. Junto ,aos conflitos do processo de formação,crescimento que não obteve orientação,atenção,amor suficiente e ajuda.