abril 25, 2007

RABO DE FOGUETE

Anibal Beça

Colírio podia ser lírico
na cólera dos olhos hippies
na harpa de jimmy Hendrix
na cólica de Janis Joplin

Ação que gera ação
(sinta-se como em 60)

Sente-se lá & cá à toa no tempo
como um velho guru
numa viagem retrô
num take déjà vu
& lótus no tatame
não se dobrará
como origame
senão como um X
de pernas encabuladas

Um baseado
grassa na grama & engrossa
um caldo de miolos
servido numa cornucópia
de ossos
(à la carte)

Indiferente
enérgico
grasna o ganso
(da gravadora Capitol)
breve assovio lisérgico
descascando laranjas
(malemolentes mísseis)
tatuando folhas de rosas
de carne
na pele de crianças

Um inocente pirógrafo
atiça uma fogueirinha de papel
tece um tapete de fino tecido
uma comunhão de ventos secos &
espalha hóstias pelas avenidas
amaciando o trânsito
congestionando o tráfego
no bem-bom
de Saigon

Não mais para os pés condutores
de requixás
mas para as esteiras de águias rolantes
tanques altivos &
sua paz
blindada &
sua lábia de
mascate &
as chamas se derramam
na palma da mão
napalm na contramão &
o cheiro se esparrama &
os néons
&
todas as luzes
se acendem
feéricas
para o grande espetáculo
de um Vietnam
by-night-só-digo-enchanté-all-right

E por aqui
no dia do Fico
tudo era festa
na dança do AI-5
&
os cara-pálidas
na serra dos
Kaparaó

Ó pra ti (nIn) baby!

Bazuca nos brazucas
mar&goela na grife
pau-de-arara

Eis la marca tan
tropicana
saque de Ana
sacana cubacana

Em Amsterdã
os lírios rolando
dois dedos de rosa & um sonho &
uma guitarra & uma
canção em Liverpool
à procura de um porto-de-lenha


O sonho não pode acabar
num sonho

E acabou?

É acabou
num gulash
de beterrabas
alsacianas montenegrinas eslovenas
croatas-sérvias
no caldeirão de Alá

Que Bósnia!

& no freverdouro
da praça Castro Alves
Caetano pergunta:
- O Haiti é aqui?

&
mais ao sul
o catarina
saudoso barriga-verde
grita:
- Anauê!

&
em São Paulo
rides again
paraíbas baianeiros arigós
Go home!

Macunaíma está morto viva Macunaíma

Se morto
se duvida
na neblina
do Parima

E a dúvida
rola
como
nossa
dívida

num
eco
de sapo
tanoeiro:
foi não foi
foi não foi

Foi genocídio?
NÃO
Não mesmo
Não foi
Nonada

O Jornal Nacional já esclareceu:
“não foram 99 nem 74
os mortos
sem-terra
no sul do Pará”

E Zózimo confirma:
“Foram apenas 56
Nada mais
do que isso:
sorry poeiriferia”

Os incomodados que se queixem
ao Vigário Geral
ou apelem
para
qualquer santo:
- Valei-me
Nossa Senhora da Candelária!

E por favor
não confunda
Carandiru com Candiru
(O nosso peixinho amazônico
gosta de perfurar
mas nem tanto)

E agora
como diria
um sobrevivente
de Hiroshima:
- Quelo ver Chicago!


- CAPÍTULO SEGUNDO -

- Posso ler sua mão?

Por acaso estou ao acaso
à espreita do ocaso de casos
que fogem ao casulo de cada um

Cada caso é um caso
coletivo casual
&
a esperança
é a primeira que corre
na pista da revelação
de que Deus é brasileiro
de papo amarelo
de olhos azuis
de longa cabeleira verde
&
sua túnica branca
se envergonha
diante
do sutil
insulto/inconsútil

Consulte a quiromante
diria o poeta ao acaso
torne-se amante
da jogadora de búzios
abra sua alma
à geografia astral
&
do mapa
solte sua tara
engasgada no gogó
de enforcado do Gólgota &
encarte-se no tarot

Diria ainda o poeta
aos de alma ecológica
aos de paz celestial
- entre um sadam & um Bush -

Sirva-se
de um drink de Santo Daime
aliste-se nas forças amadas
do Exército da Salvação
da Irmandade da Cruz

(Remember Jim Jones
bispo Macedo?)

XÔ SATANÁS!

“ O salário do pecado é a morte!”

Disse um pastor aos paaca-novas
enquanto 77 kaiwás & guaranis
- inclusive meninas de 15 anos -
seguiam o exemplo de Judas
pelo nó da culpa

Os pajés aposentaram Jurupari
não espanam mais os males
nem as curas
nem o uso das plantas medicinais

Os chocalhos os trocanos e gambás
se calaram

Estão vazios os sons de Uakti

Nem se sabe mais
o gosto gostoso
do tarubá yagé caxiri
&
a língua pentecostal
(juntamente com os fuzis
da Senhora Calha Norte)
é quem defuma
o que era rito
do seu tauary

- TERCEIRO CAPÍTULO -

Quando chegar o Natal &
depois o Carnaval
a tradição manda
na Santa Semana
que se coma novamente
o cólera
nos peixes que vêm
do Peru
de Páscoa &
choquemos
os ovos de magos coelhos
alquimistas férteis
da terra de Brida de Nosso Senhor
promissora & prometida
aos olhos de espiar a fé
num teto qualquer
nem que seja nos viadutos
da paulicéia da garoa
embaixo da 1ª 2ª 3ª pontes
dos elevados da Manaus moderna
ou
no aterro do Flamengo

Tudo sob as vistas
do Redntor que lindo!

& os expulsos dos campos
posseiros sem posses
sem terras sem tetos
querendo um cantinho & um violão
TUDO BEM!

Que bossa a nossa
Nova?
Nem tanto

Que bosta
a nossa de cada mangue
alagada entre as nossas pernas
Ah chuvas de março!
Mocambos
Palafitas
Bodós-na-lama
igarapés
nos dai hoje
as fezes de ontem
que engordam
os jaraquis de domingos
&
os caranguejos de cada dia do ano
na comunhão do nosso cotidiano
mínimo

Ó salário minguante
como a lua dos vira-latas
uivando para a seguridade
magra
social socialites
carajás de caras-sujas
na rima dos marajás
do mar de Búzios
Margarita & Aruba

É
Deus é brasileiro!

&
cada um
herdará um lote de azul
livre de IPTUs
quando estiver sentado
de cócoras com ele
à sua direita ou à sua esquerda

Por acaso
o poeta está à espera
dessa aliança?
Mesmo em preto & branco
sem technicolor by de luxe?

A ilusão
fica por conta
dos olhos do mundo
porque por aqui vai TUDO BEM
como no ano que vem
por que Deus é brasileiro
gosta de carnaval & agora anda
amarrado
assim
com o Boi-Bumbá
(Quem não gosta
é intelectual e pentecostal)
&
gosta ainda de levar
um céu de vantagens
Certo?

E assim prosseguimos
à reboque do fusquinha
numa paz ecológica
juntamente com os galos-da-serra
os micos-leões
& os jacarés de Nhamundá

Sempre abençoados
pelo santo descamisado
São-Francisco-deAssis-
é-dando-que-se-recebe


- FINAL -

Quando o carnaval passar
o traficante estará nas salas de aula
fazendo campanha
pela privatização do ensino

Privados de todo o mundo uni-vos!

Os homens de branco
hipócritas/hipócrates
penduram troféus
estropiados ex-votos
nos imundos corredores
dos estaleiros de plantão

&
nós comendo casca de ferida
querida
porque tumor
amor
não os seduz
assim como o cancro a AIDS
o pus
exsudato de votos
amealhados em consultas
datapreviamente & pagas assepticamente

Lazarentos de todo o mundo uni-vos!

Sabemos todos
ser um caso de polícia
mas as virgens
os parentes dos chacinados
os sequestrados
os estuprados &
principalmente os de boa fé
preferem relaxar & gozar

Estuprados de todo o mundo uni-vos!

Ave mesa
das nossas refeições
onde comemos
os ossos do ofício
&
as espinhas
do desemprego e da inflação

Santificada seja a nossa poupança
venha a nós o vosso over
assim como nas DBs
como no Fundão
& não nos deixeis cair
pelas sarjetas
sem que tenhamos
as notas verdes
da aposentadoria
de cavalo-do-cão!
A
M
É
M

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