junho 10, 2007

De perto ninguém é normal

Leia o comentário de Marilice Costi sobre o encontro organizado por entidades que lutam por uma sociedade sem manicômios em Porto Alegre-RS.

De perto ninguém é normal!

Comentarista: Marilice Costi

No dia 25/05, a Câmara de Vereadores acolheu um encontro organizado por entidades que vêm lutando e fazendo o que podem(!) – e vêm demonstrando resultados importantes na luta anti-manicomial – na tentativa contínua de dar cidadania e qualidade de vida aos Portadores de Sofrimento Psíquico (PSP). O Fórum Gaúcho de Saúde Mental, a Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul, o Instituto de Psicologia da UFRGS, a Residência em Saúde Mental Coletiva do Ministério da Saúde Geração/POA e os CAPS do Centro PMPA e do Hospital de Clínicas estavam representados, AGAFAPE, funcionários-cuidadores, familiares, e, também, usuários que no momento estão vivendo em moradas, portanto desinstitucionalizados.

Sobre a situação atual dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), foram ouvidas diversas pessoas. A emoção marejou os olhos de muitos dos presentes em diversos momentos, porque é impossível ser insensível a avanços e resultados, por mais pequenos que sejam. Conforme afirmou Sandra Fagundes (MS/GHC), aproximadamente 3 mil pessoas não moram mais em manicômios no Brasil, e isto significa mais dignidade e respeito pelos PSP. Fátima Fischer relatou o trabalho que vem sendo desenvolvido na Morada Viamão e funcionários da Pensão Nova Vida relataram as dificuldades que possuem com invasores das áreas dedicadas ao trabalho, e como a sociedade vem aceitando e incluindo estas pessoas no seu dia-a-dia sem se sentir invadida ou com medo. Marta Borba, assistente social, falou sobre as pessoas portadoras de transtornos mentais e que vivem na rua em Porto Alegre, referente à sua dissertação de mestrado.

O encontro contou com a participação também de usuários e trabalhadores de SRTs (Pensão Pública Protegida Nova Vida, Morada São Pedro, Morada Viamão, Morada Itapuã).

Houve apresentação de trabalhos dos moradores e de funcionários, vídeos demonstrando as atividades que ocorrem e foram colocadas preocupações quanto à situação do atendimento de emergência do PAM Vila dos Comerciários, devido às péssimas condições do prédio, hoje interditado.

Observa-se que há avanços e retrocessos na luta anti-manicomial e que os avanços são devido à garra das pessoas que abraçam a causa, as quais valorizam pequenos resultados e seguem em frente, persistentes na sua humanidade e na luta pelo direito do PSP de viver partícipe da sociedade. Não se trata de entendermos a estatística, afinal, o que são 3 mil em todo o Brasil? Mas o número demonstra o andamento de um trabalho difícil, complexo, de alta exigência, resiliência e flexibilidade nas relações humanas em todas as esferas. A boa informação trazida do MS é que no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) haverá contemplação de verba para os SRTs, conforme palavra dada pelo Presidente Lula.

A sociedade deveria participar mais desses encontros onde, provavelmente, vá encontrar alguma saída, algum colo, algum ouvido atento para acolher seus filhos portadores de sofrimento psíquico com criatividade na busca continua de soluções.

Há muito por fazer e o mínimo que se pode, no momento, é apoiar, fazer um pouco mais, falar, denunciar, ouvir e ser empático com a dor do outro.

Revisão e edição: Emily Canto Nunes

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NOTA: O Amazonas prepara-se para ter a sua primeira residência terapêutica para 8 usuários de longa permanência do único hospital psiquiátrico público (Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro), que será substituído por um hospital de clínicas, e que abriga, até hoje, 40 internos de longa permanência. Dos serviços existentes, dois permanecerão: o pronto atendimento para crises psiquiátricas, com 20 leitos, e o ambulatório; o que permitirá a implantação de pelo menos um SRT, a curto prazo. No mais, só um fato poderá atrasar o cronograma de implantação do hospital de clínicas e outras residências terapêuticas: a falta de ampliação da rede de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), atualmente reduzido a apenas um, na zona norte da cidade de Manaus (CAPS Silvério Tundis), implantado pelo poder público estadual, e que será repassado ao município. É grande a expectativa de que o poder público municipal venha ampliar o número de CAPS, responsabilidade que lhe cabe desde a municipalização da saúde em 2003.

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