outubro 24, 2007

Encontro Nacional: 20 anos de luta por uma sociedade sem manicômio


Omissão de solidariedade - Há 20 atrás, entre os dias 11, 12, 13, 14, 15 e 16 de novembro de 1987 fiz uma greve de fome em Manaus, no interior do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, palco político da construção da Reforma Psiquiátrica no Amazonas. Com o apoio do movimento sindical e associativista da época, pretendia chamar atenção da sociedade civil e política dos perigos que a Reforma enfrentaria na década vindoura (sobreveio, então, um longo silêncio). Dias depois, no início de dezembro de 1987, o II Congresso Nacional de Trabalhadores de Saúde Mental radicalizava as teses da Reforma ao erguer uma nova bandeira de luta: "Por uma sociedade sem manicômios" (leia o Manifesto de Bauru, publicado abaixo). Curiosamente, o país volta as costas para o Amazonas no momento em que a luta antimanicomial ocupa outra vez seu lugar no cenário político, desta vez contando com um instrumento inestimável, a Lei 3.177, de 11 de Outubro de 2007, para a qual tanto lutou a Associação Chico Inácio - ong de defesa dos direitos civis, políticos e sociais dos portadores de transtorno mental do Amazonas. Salvo pelas raras manifestações de solidariedade, esse silêncio é inaceitável. Por mim, a luta continua; desta vez contra a omissão de solidariedade. Que que é isso, companheiros!!!

20 anos depois, a luta continua!

Entre os dias 6, 7 e 8 de dezembro acontece, em Bauru, o Encontro Nacional "20 anos em luta por uma sociedade sem manicômios". Comemorando 20 anos da luta, o encontro vai trazer de novo à pauta o debate aguerrido sobre as práticas, mas será também um momento de integração cultural, com shows e teatros, buscando a reaproximação de todos os atores desta que, de luta, passou a ser uma política pública do próprio governo federal – a Reforma Psiquiátrica.

Ao completarem-se 20 anos do II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental, momento que marcou o início da luta antimanicomial brasileira, é hora de renovarmos nossas forças.

Inscrição de trabalhos, narrativas históricas do tema, a serem apresentadas em Bauru podem ser feitas através do portal da Psicologia – http://www.pol.org.br/lutaantimanicomial/

As inscrições para o evento também já estão abertas no http://www.pol.org.br/ banner do evento.

Participe! Vamos fortalecer as organizações que trabalham com saúde mental e vamos avançar na luta. Em dezembro, todos a Bauru!

Informações sobre as inscrições:

As inscrições estão abertas até o dia 26 de novembro para as categorias profissional (R$ 60,00), estudante (R$ 40,00) e usuários/familiares (R$ 3,00) e o pagamento, para todas as categorias, deve ser feito à vista. As inscrições de trabalhos deverão ser feitas até o dia 06 de novembro, sendo possível até 02 trabalhos por participante, com quantidade de co-autores livre. Os trabalhos deverão ser tipificados "Apresentação Oral", tendo sempre como tema a expressão "Narrativas históricas: políticas, práticas, instituição e poéticas na construção de uma sociedade sem manicômios". O texto deverá conter até 250 palavras.

Eixo 01: Loucura e Cultura
Mesa 01 A emergência dos novos sujeitos sociais: a produção da organização dos usuários e familiares

Mesa 02 Arte e loucura na construção de uma sociedade sem manicômios

Mesa 03 "Quem não se comunica se trumbica": a mídia e a luta antimanicomial

Mesa 04 "Alguma coisa está fora da ordem mundial": hegemonia, homogeneização, monotonia e constrangimentos

Mesa 05 Invenções, metáforas e neologismos: reinvenção da teoria na relação com a loucura

Eixo 02: Narrativas históricas na construção de uma sociedade sem manicômios
Mesa 01 Memórias parlamentares

Mesa 02 Trajetórias e Gestão da Política Nacional da Reforma Psiquiátrica

Mesa 03 O 18 de maio como dispositivo coletivo de intervenção política do movimento antimanicomial

Mesa 04 Movimentos sociais: construindo a luta antimanicomial

Mesa 05 Do movimento de trabalhadores de saúde mental ao movimento da luta antimanicomial: atravessando conjunturas, construindo o presente

Eixo 03: A Luta Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica
Mesa 01 A insistência dos espaços manicomiais na cultura contemporânea: impasses teóricos, éticos e políticos

Mesa 02 Atores da desistitucionalização ou novos guardiões da ordem: tensões e intenções nas práticas dos trabalhadores da Reforma Psiquiátrica

Mesa 03 Práticas da desistitucionalização e desistitucionalização das práticas: quando a reforma no cotidiano confronta a rotina da Reforma

Mesa 04 O enfrentamento da desigualdade social no Brasil: conquistas e impasses na produção da cidadania dos loucos

Mesa 05 Refazendo as geografias das cidades: invadindo e contaminando os territórios

Eixo 04: Um outro mundo é possível
Mesa 01 Luta pelo espaço: MST Criança e Adolescente: Unicef Diversidade sexual: Arco-íris Salvador (Luís Mott)

Mesa 02 Transformar a vida, reinventar o trabalho

Mesa 03 Direitos Humanos: Urgência na luta por uma sociedade sem manicômios

Mesa 04 Formação de novos agentes na luta por uma sociedade sem manicômios

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MANIFESTO DE BAURU

Um desafio radicalmente novo se coloca agora para o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental. Ao ocuparmos as ruas de Bauru, na primeira manifestação pública organizada no Brasil pela extinção dos manicômios, os 350 trabalhadores de saúde mental presentes ao II Congresso Nacional dão um passo adiante na história do Movimento, marcando um novo momento na luta contra a exclusão e a discriminação.

Nossa atitude marca uma ruptura. Ao recusarmos o papel de agente da exclusão e da violência institucionalizadas, que desrespeitam os mínimos direitos da pessoa humana, inauguramos um novo compromisso. Temos claro que não basta racionalizar e modernizar os serviços nos quais trabalhamos.

O Estado que gerencia tais serviços é o mesmo que impõe e sustenta os mecanismos de exploração e de produção social da loucura e da violência. O compromisso estabelecido pela luta antimanicomial impõe uma aliança com o movimento popular e a classe trabalhadora organizada.

O manicômio é expressão de uma estrutura, presente nos diversos mecanismos de opressão desse tipo de sociedade. A opressão nas fábricas, nas instituições de adolescentes, nos cárceres, a discriminação contra negros, homossexuais, índios, mulheres. Lutar pelos direitos de cidadania dos doentes mentais significa incorporar-se à luta de todos os trabalhadores por seus direitos mínimos à saúde, justiça e melhores condições de vida.

Organizado em vários estados, o Movimento caminha agora para uma articulação nacional. Tal articulação buscará dar conta da Organização dos Trabalhadores em Saúde Mental, aliados efetiva e sistematicamente ao movimento popular e sindical.

Contra a mercantilização da doença!

Contra a mercantilização da doença; contra uma reforma sanitária privatizante e autoritária; por uma reforma sanitária democrática e popular; pela reforma agrária e urbana; pela organização livre e independente dos trabalhadores; pelo direito à sindicalização dos serviços públicos; pelo Dia Nacional de Luta Antimanicomial em 1988!

Por uma sociedade sem manicômios!

Bauru, dezembro de 1987 - II Congresso Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental

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