março 22, 2008

Censo Psiquiátrico (I)

Foto: Rogelio Casado - Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Manaus-AM, 1998
Censo psiquiátrico (I)

Num debate sobre saúde mental ocorrido na UniNilton Lins, depois que deixamos a direção do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, o representante deste último projetou várias fotografias do lugar. Estranhei o ângulo em que elas foram tomadas. No minúsculo espaço do HCTP, o fotógrafo conseguiu subtrair da sua lente um enorme abrigo para a prática de terapia ocupacional e um painel pintado em toda a extensão de um antigo muro acinzentado (que dera lugar à representação da floresta amazônica, com rio, árvores e um imenso céu azul) - pintura que envolveu vários internos durante nossa administração. A construção de uma nova lixeira, em substituição do depósito de lixo a céu aberto existente há mais de uma década, também teve sua autoria negada. Não tive outra saída: dei um ralho público contra tamanha distorção da história do processo do tratamento de loucos infratores.

Fatos como esse não são isolados. Eis que veio à luz o Censo da População Psiquiátrica - projeto que elaboramos ainda na Coordenação Estadual de Saúde Mental –, cuja verba orçamentária, obtida junto ao Ministério da Saúde, foi liberada no final de 2007. O projeto censitário, a partir das demandas atendidas no Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, identificará os principais territórios onde residem os portadores de sofrimento psíquico. Com isto, a administração pública terá um instrumento capaz de nortear a política de criação da rede de serviços que substituem o hospital psiquiátrico (CAPS, Centros de Convivência etc.), bem como a definição das estratégias de implantação de leitos psiquiátricos com indicação para internação em hospitais gerais dos casos que estão fora do alcance do Pronto Atendimento Psiquiátrico, ou seja, que exigem tratamento com restrição temporária do espaço físico. Muito bem! Dessa vez, importa menos a negação da autoria do que o desprezo pelas articulações realizadas entre os agentes sociais que dariam sustentação científica ao projeto. Até quando, a falta de senso?

Manaus, Março de 2008.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota: Artigo publicado no Caderno Raio-X, do jornal Amazonas em Tempo, onde escrevo às quartas-feiras.

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