março 13, 2008

Nós, índios metropolitanos

Foto: Claudia Andujar - Yanomami
“Manaus- AM,11/03/2008 - 17h21”

“Índios são expulsos em reintegração de posse no Amazonas. Indígenas de várias etnias que ocupavam uma área no km 11 da rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara) foram retirados do local no final da manhã desta terça-feira (11) pela tropa de choque da Polícia Militar do Amazonas. Segundo a Funai local, cerca de 100 índios que vivem na periferia de Manaus estavam em um terreno particular na Lagoa Azul 2 em busca de novas terras. Os indígenas enfrentaram a polícia com paus, pedras e flechas.”

Manaus, a cidade onde nasci, é sem dúvida o lugar ao qual estou essencialmente enraizado.

Ao longo da minha vida tenho visto a cidade se transformar. Na minha infância, a cidade era habitada 200 mil pessoas, na minha adolescência por 300 mil, e na minha vida adulta por 2 milhões de habitantes. Nos últimos quarenta anos, grande parte da sua beleza natural, urbanistica e arquitetonica sofreram enormes alterações.

Nos primeiros anos de aprendizado fui aluno do Grupo Escolar Saldanha Marinho, nas datas festivas cantávamos o hino da cidade: “Manaus terra dos Barés, dos igarapés e rios colossais...”.

Para nós manauaras, os índios eram abstrações genéricas, virtuais. Naquela época ninguém se assumia como descendentes dos povos indígenas, Manaus a capital do Amazonas, era como um enclave, existia literalmente de costas para os rios, para os índios, caboclos e para cidades que compunham os municípios do Estado do Amazonas.

As cidades do interior apesar de fornecerem braços, inteligência, alimento para o físico e para o imaginário, estas, representavam o atraso e o medo de serem identificados como um selvagem.

Era comum ouvir dizer, “aqui não tem mais índios, eles foram extintos”.

Mas com a implantação da Zona Franca (1967), a oportunidade de emprego e de urbanização se tornou um dado concreto, principalmente porque se pagava salário, assinava-se a carteira de trabalho e mais os benefícios advindos desta atividade econômica.

Ao contrário do “interior” aonde predomina até hoje a economia de escambo, predatória do homem e dos recursos naturais. Não existem salários ou qualquer outra conquista das leis trabalhistas.

O homem analfabeto é mandado pra dentro da selva e arrancar o que houver nela pra trocar por açúcar, sal, café, arroz...

E para os seus filhos? Eles não vislumbram nenhuma oportunidade que lhes faça sair daquela situação, caso não migrarem para a capital (Manaus).


Com a Zona Franca começaram a aparecer os índios com nome e sobrenome (aqueles que diziam não existir mais) eram liderados por jovens: Álvaro Tukano, Lino Miranha, Dico Sateré-Mawé, Pedro Ticuna, entre outros. Inclusive foram reconhecidos e recebidos pelo Papa João Paulo II quando visitou Manaus (1980).

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Leia o texto na íntegra em Ceuvagem.

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