maio 18, 2008

O INTELECTUAL ANÔNIMO

Milton Santos

Dia do Geógrafo: 29 de maio

O INTELECTUAL ANÔNIMO

Milton Santos - Geógrafo e Professor

“A atividade intelectual jamais é cômoda e a exigência de inconformismo, que a acompanha, faz com que a sociedade reconheça os seus portadores como porta-vozes das suas mais profundas aspirações e como arautos do futuro”

“(...) A força autêntica da universidade vem do espírito acadêmico partilhado por professores e alunos e cuja preservação seria de esperar que as autoridades universitárias sejam capazes de conduzir. É essa fortaleza da instituição acadêmica o garante na autonomia na produção do saber, assegurada através da liberdade de cátedra e da liberdade acadêmica efetiva, conferida a cada professor, a despeito da vocação, às vezes, autoritária dos colegiados e da prática de falsificação da democracia acadêmica.

A força exterior da universidade deriva de sua força interior e esta é ferida de morte sempre que a idéia e a prática do espírito acadêmico são abandonadas em favor de considerações pragmáticas.

Na grande crise em que o país agoa se confronta, torna-se evidente e clamorosa a ausência de uma discussão mais intensa e mais profunda, partindo da academia, em suas diversas instâncias, e que, como em outras ocasiões na vida de todos os povos, mostra o papel pioneiro da universidade na construção dos grandes debates nacionais.

A apatia ainda está presente na maior parte do corpo professoral e estudantil, o que é sinal nada animador do estado de saúde cívico dessa camada social cuja primeira obrigação é constituir, como porta-voz, a vanguarda de uma atitude de inconformismo com os rumos atuais da vida pública".


Milton Santos - Geógrafo e professor - Correio Braziliense - Brasília, 03.06.2001 - Opinião, p. 5.

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Milton Santos para novas gerações
'Ambicioso projeto' do geógrafo, reunido em dois livros, dá início a reedição de sua obra


As teorias de Milton Santos são grandes responsáveis pela renovação crítica da geografia brasileira e mundial. Sua morte privou a nova geração das palestras nas quais ele expunha suas idéias e visões de mundo. A relevância de sua obra -- que ainda influenciará por muito tempo estudiosos da geografia humana -- incentivou a Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) a criar a Coleção Milton Santos, que reúne os principais livros do geógrafo, em sua maioria já esgotados.

Por uma geografia nova e A natureza do espaço inauguram a ColeçãoMilton Santos da Edusp, que relançará 31 dos 40 livros do geógrafo

Os relançamentos da coleção foram iniciados com Por uma geografia nova (1978) e A natureza do espaço (1996), já nas livrarias. Os livros resultam da insatisfação de Milton com a geografia da época, que segundo ele discutia mais a disciplina que o objeto da ciência geográfica: o espaço. Isso o motivou a escrever o que chamava de seu 'ambicioso projeto': uma série de cinco volumes dedicados exclusivamente ao tema.

Por uma geografia nova é fruto de um trabalho transdisciplinar, no qual Milton busca nas ciências sociais, na filosofia e até nas ciências exatas um melhor conhecimento do espaço humano, que ele caracteriza como "a casa do homem e também sua prisão". A intenção é fazer uma revisão crítica da evolução da geografia e buscar sua renovação.

A natureza do espaço, resultado de quase 25 anos de pesquisa, completa o projeto de Milton. O livro é dividido em 4 partes, que correspondem a bases da construção de uma teoria social crítica, e propõe uma definição de espaço sobre a qual se possa construir uma análise coerente e então formular problemas e visualizar conceitos. Milton apresenta perspectivas relacionadas à ação espacial e social e propostas de mudanças para a geografia e as ciências sociais.

O baiano Milton Santos (1926-2001) era formado em direito, mas trocou a profissão de advogado pela de professor de geografia, que exercia desde os 15 anos. Suas pesquisas logo se voltaram para o aspecto humano da disciplina, e seu maior interesse era compreender o homem dentro de seu espaço social. Acreditava que o estudo da geografia devia passar pelos conceitos -- era um incentivador dos debates, das discussões teóricas e da retomada dos autores clássicos --, e pela análise de casos, tema de suas primeiras obras.

Milton foi um grande crítico da globalização atual, à qual se referia como globalitarismo (união dos conceitos de globalização e totalitarismo). Influenciado pelas idéias de Jean-Paul Sartre sobre a experiência da escassez, acreditava que os pobres seriam os deflagradores de uma nova globalização. Em 53 anos de pesquisas, publicou 40 livros; o último O Brasil: território e sociedade no início do século 21, já no ano de sua morte.

Os próximos relançamentos da coleção -- Economia espacial: críticas e alternativas e O espaço dividido: os dois conceitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos -- ocorrerão em maio, durante a bienal do Rio de Janeiro. Ao todo, serão reeditados 31 volumes, que resgatam a obra daquele que é considerado pelos próprios colegas de profissão o maior geógrafo brasileiro.

Gisele Lopes
Ciência Hoje on-line
25/02/03


Fonte: CH on line
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O militante de idéias
Geógrafo Milton Santos criticou a globalização mas acreditava em transformação social


"O sonho obriga o homem a pensar" Milton Santos

Milton Santos (1926-2001) é considerado o maior geógrafo brasileiro pelos colegas de profissão. O professor de voz calma e olhar tranqüilo sublinhou o aspecto humano da geografia e criticou a globalização perversa. Via na população pobre o ator social capaz de promover uma outra globalização, que defendeu em livros e conferências pelo mundo.

Milton nasceu em Brotas de Macaúbas (BA) a 3/5/26 e faleceu em São Paulo a 24/6/01.(foto: Oswaldo J. dos Santos/Agência USP)
Milton introduziu importantes discussões na geografia, como a retomada de autores clássicos, e foi um dos expoentes do movimento de renovação crítica da disciplina. Preocupado com a questão metodológica, construiu conceitos, aprofundou o debate epistemológico e buscou na transdisciplinaridade uma visão totalizadora da sociedade.

Esquerdista convicto, não se filiou a partidos: "não sou militante de coisa alguma, apenas de idéias", diz em uma de suas frases mais divulgadas. O estilo independente revela a influência sartreana desse brasileiro que se celebrizou na França, onde obteve o doutorado e lecionou durante a ditadura.

Apesar da complexidade de seu pensamento, o alcance das idéias de Milton pode ser medido pela repercussão de uma entrevista concedida ao programa Roda Viva em 1998: os telefones ficaram congestionados com pessoas emocionadas, agradecendo a emissora pela transmissão. Sua produção acadêmica não permite modéstia: são cerca de 40 livros e 300 artigos científicos. Foi o único estudioso fora do mundo anglo-saxão a receber o mais alto prêmio internacional em geografia, o Prêmio Vautrin Lud (1994). Considerada equivalente ao Nobel na Geografia, a láurea marcou o reconhecimento de suas idéias no Brasil.

Milton foi consultor da Organização das Nações Unidas, da Unesco, da Organização Internacional do Trabalho e da Organização dos Estados Americanos. Também foi consultor em várias áreas junto aos governos da Argélia, Guiné-Bissau e Venezuela. Possuía 13 títulos de doutor honoris causa, recebidos no Brasil, França, Argentina e Itália, entre outros. Foi membro do comitê de redação de revistas especializadas em geografia no Brasil e exterior. Fez pesquisas e conferências em mais de 20 países, dentre eles Japão, México, Índia, Tunísia, Benin, Gana, Espanha e Cuba.

Recebeu em 1997 o prêmio Jabuti pelo melhor livro em ciências humanas: A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. Em 1999 recebeu o Prêmio Chico Mendes por sua resistência. Foi condecorado Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico em 1995. Hoje, o geógrafo tantas vezes laureado empresta seu nome ao Prêmio Milton Santos de Saúde e Ambiente, criado pela Fundação Oswaldo Cruz.

Milton Santos nunca participou de movimentos negros -- acreditava que deveriam conquistar reconhecimento em atitudes como, por exemplo, ingressar na universidade. "Minha vida de todos os dias é a de negro", declarou. "Mantenho com a sociedade uma relação de negro. No Brasil, ela não é das mais confortáveis."

Raquel Aguiar
Ciência Hoje/RJ
dezembro/2001


Fonte: CH on line

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