junho 18, 2008

Privação da liberdade e direito aos estudos

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Quando o extraordinário se torna cotidiano...

Esquecam tudo que aprenderam e comece por sonhar...

Perdoem esse e-mail carregado de emoções. Bem sei que esses comunicados devem ser objetivos, informativos e formais. Mas hoje os sentimentos do mundo já não cabem mais em minhas mãos, e a voz a tanto tempo sufocada se traduz em lágrimas e esperanças. Até que fim o dia da caça chegou....

Sábado passado, 14 de junho de 2008. Pela primeira vez em Minas Gerais, seis meninas da unidade prisional PIEP (sendo 5 do regime fechado) sairam para fazer prova de vestibular. A faculdade Isabela Hendrix em parceria com as brigadas populares conseguiram quarenta bolsas integrais para militantes sociais. E essas meninas partiram sem escolta (eu disse sem escolta!!!!!), sem o uniforme, armadas de lápis, borracha e caneta. Tornar o sonho realidade. Recomeçar a vida. Reconstruir a auto estima.

Lágrimas a parte. Lágrimas por ver o mundão depois de anos de invisibildade e de reclusão. A alegria ao sentir o cheiro da rua, do parque municipal, do chocolate. Fotos e mais fotos. Poder carregar um isqueiro, tirar o chinelo havaiana e colocar um salto, passar maquiagem. Tudo isso aconteceu. E foi extraordinário. Já valeria por se só. Mas não é só isso!!!!!

Depois da prova, a comemoração! Bolo de chocolate, comida boa que não cheira carne cozida e nem vem estragada, risos que há muito tempo não faziam sentido em existir. Mas hoje eles brotaram. E como os lírios não brotam da lei,os sorrisos também não. Nasceram da esperança e floresceram em alegria. Assim como os Ipês que colorem o inverno com suas cores, aquele dia coloriu o o tão nefasto e cinza sistema carcerário (pior que qualquer inverno).

E assim o sábado extraordinário anoiteceu. Anoiteceu mas não acabou. Ninguém, nem os poderosos podem impedir a primavera.

E a primavera continuou... E hoje, segunda feira dia 16, cinco dessas seis meninas passaram no vestibular. Irão se formar enfermeiras administradoras e fisioterapeutas. Poucos acreditaram. Era impossivel conseguir a autorização para fazer a prova. Era impossivel passar no vestibular. Desafiamos as impossibilidades ao acreditar que um mundo melhor é possível. Desafiamos ao considerar falido e desumano o sistema carcerário. Lutamos pelo fim dos manicomios, pelo fim da cadeia, pelo fim da maldade capitalista.

Essas meninas serão esporos. Esporos que carregam a esperança. Que germinarão em meio a grades, cimento, cercas elétricas. Que dirão basta a mais um presídio em Neves para tres mil almas. Não as tornozeleiras. Chega de revista vexatória. Tortura nunca mais.

Extraordinário.

Em maio de 68, pintaram em um muro qualquer: A revolução é quando o extraordinário se torna cotidiano...

Enfim...

Cheiro de alecrim....

Pátria Livre Poder Popular Brigadas Populares. Associação de amigos e familiares de pessoas em privação de liberdade.

Sílvia Maria
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