julho 24, 2008

Divagações pós-ideológicas & blasfêmias nebulosas

Foto: Rogelio Casado - Lula no Estádio de Vila Euclides - São Bernardo do Campo-SP - 1/maio/1988
Oleo do Diabo

Divagações pós-ideológicas & blasfêmias nebulosas

23 Jul 2008 12:35 AM

Tanto se fala no fim das ideologias, mas a verdade é que a humanidade já esqueceu o que elas são. Seu significado esgarçou-se, evaporou-se em meio à fumaça dos carros de luxo misturada à marola dos baseados hippies. Em verdade vos digo: minha ideologia hoje são meus livros, meu computador e alguma coisa no bolso pra cerveja, pizza e cinema. E o desejo de escrever, irreversível. Pois bem, ideologias. O problema das ideologias, assim como da política, é que se as confunde com idiossincrassias psicológicas ou culturais. Taí uma coisa que percebi há tempos. Esquerdistas e direitistas desenvolveram vícios de pensamento, uns preconceitos bobos, inclusive preconceito contra o preconceito. Partindo da premissa que é impossível viver sem preconceitos, sob o risco de nos tornarmos um software do Greenpeace, que se nos permitam tê-los. Que se nos permitam ser hipócritas, preconceituosos e maus. Isso que irrita na esquerda. A pretensão de ser bom. Ser bom não é uma questão de ideologia ou linguagem, mas de simpatia e generosidade. Já fui comunista, anarquista, capitalista, hoje percebo que esses conceitos são artificiais. Não existe capitalismo, por exemplo. Existe democracia. Por isso, os diretófilos são tão nervosos e insatisfeitos com o mundo. Outro dia, li um blog dum cara dizendo que os banqueiros estão apoiando os esquerdistas do Brasil, e clama por uma articulação da direita junto aos trabalhadores. Eles acreditam que o mundo atual é socialista. É de morrer de rir. Dá o que pensar.

No entanto, respeito a política. Assim como os médicos. No fundo, sou uma besta em política assim como em medicina. Sou um escritor, e só. E defendo minha classe e que ela tenha mais poder e mais dinheiro. Não pensem, contudo, que ser escritor vale grande coisa. Vale porra nenhuma, ainda mais no Brasil, terra de analfabetos funcionais. Respeito, ia dizendo, os políticos, os médicos e os pipoqueiros. Todos dignos e úteis à sociedade. Agora, não acredito num capitalismo que subsidia grandes agricultores, bancos, seguradoras e complexos militares privados. Que merda de capitalismo é esse? No entanto, esse é o capitalismo americano, europeu, japonês. É um estatismo pior que o comunismo, porque este ao menos ainda provê educação gratuita. Mas não sou comunista porque sou doido, como diria Fernando Pessoa, "com todo o direito a sê-lo, ouviram?", e como todo doido defendo o individualismo. Os loucos são grandes individualistas, porque se acham tão diferentes, tão estranhos.

E o talento. Acredito no talento. Assim como no fracasso. Acredito que os fracos, os bunda-moles e os medrosos têm tanta dignidade quanto seus antípodas, os valorosos. Essa é minha ideologia, que não é das melhores. Talvez seja cristã. Tudo bem, eu supero. Tem uns leitores do blog, uns caras legais, que gostam do que eu escrevo, que andam protestando das minhas divagações blasfemas sobre Deus. Eu andei dizendo que as pessoas não devem confiar tanto em Deus, pois se Ele não conseguiu impedir uma moça inocente como Eva de comer uma maçã, como irá controlar a vontade de três bilhões de mulheres ambiciosas, querendo enganar outras mulheres e todos os homens? Mas sobre isso, eu falo depois.

Voltando às ideologias, sempre defendi o individualismo, a liberdade e a democracia. A vaidade também. E o direito de errar e não ser humilhado por isso. Não aceito humilhação. Sei que ela é inevitável e inerente à liberdade que escolhi para mim e para os outros. Mas me revolta ver alguém ser humilhado, mesmo um adversário. Também não concordo com nosso sistema penal. Ninguém devia ir para a cadeia. Só os notoriamente psicopatas e sociopatas. Os outros deviam expiar seu crime trabalhando e pagando multas. Não acredito em ismos e sim em idéias práticas. Por exemplo, todas as estradas deveriam ter um espaço protegido para pedestres e ciclistas. Acho simplesmente irracional que não seja assim. Também acho que o Estado deveria criar uma estatal de aluguel de carros, para estimular as pessoas a, em vez de comprarem carro, alugarem-no na filial mais próxima, podendo entregá-lo em qualquer outra loja da mesma empresa. Idéias, idéias. E também bibliotecas. Espalhar bibliotecas públicas pelo país. Públicas, é claro, bancadas pelo governo federal, mas geridas pelos municípios.

As pessoas subestimam a importância das chamadas guerrinhas sectárias, entre petistas e tucanos. Como em toda guerra, em toda dialética, ali tambem corre uma energia filosófica. Segundo Heráclito, e também Hegel, a verdade reside na própria tensão dialética, no jogo entre tese, antítese e síntese. Um eterno cículo, águas do rio deslizando, eternamente, para o mar.

Falta também uma consciência mais sólida de classe por parte dos jornalistas. Falta coragem de assumir posições políticas e inteligência para compreender o jogo partidário. É preciso defender um governo aliado, por exemplo, sobretudo quando ele erra. Ou seja, nos momentos difíceis. É muito fácil defendê-lo quando as coisas estão bem. Se alguém acreditou na história de que pragmatismo é um defeito, não tem idéia do que seja a vida. São ranços ibéricos, aristocráticos, quase escravagistas, que ainda nos assolam. Pragmatismo é uma das principais qualidades da política. Dom Quixote foi um grande cara. Admiro-o, amo-o. Mas ele era totalmente insano e ridículo. Sancho Pança que o diga. Suas sandices criavam mais problemas do que ajudavam as pessoas. Isso está bem claro no livro de Cervantes.

Boa noite.

Fonte: Óleo do Diabo
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