agosto 27, 2008

Eleições Municipais e Saúde Mental (V)

Foto: Marquinhos - Abraço simbólico na Assembléia Legislativa - Manaus-AM, 16/Maio/2003
Eleições Municipais e Saúde Mental (V)

Novembro de 2003: o Conselho Estadual de Saúde aprova a Política de Saúde Mental. Presentes os usuários do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro e da Associação Chico Inácio – filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial. Fato inédito: jamais participaram de uma sessão sequer.

Os obstáculos enfrentados até ali tinham caráter ideológico. Tal era a força do modelo manicomial e seus ambulatórios de consultas, que saltava aos olhos as distorções éticas contidas nas propostas de reformistas “bem intencionadas”.

Dois exemplos são emblemáticos: uns queriam a implantação de um CAPS numa sala no antigo PAM da Getúlio Vargas. Ora, Centro de Atenção Psicossocial é um serviço comunitário, substitutivo ao manicômio, que não tem caráter ambulatorial. Imagine uma salinha com plaquinha escrita CAPS! O Brasil iria rir da piada. Tragicômica foi a proposta de implantação das moradias assistidas na Nova Cidade: além de ser um monstrengo arquitetônico fora dos padrões mínimos de uma habitação digna, isolava os usuários de longo período de hospitalização psiquiátrica em bairro longínquo, tão ao gosto das classes médias zelosas em promover a “limpeza” do “lixo humano” criado por uma sociedade excludente.

Mais um exemplo enriquece o que o imortal Stanislaw Ponte Preta um dia nomeou como Festival de Besteiras as estultices que assolavam o País. Foi o caso da proposta de alfabetização dos usuários de saúde mental em dependência do próprio hospital psiquiátrico, em franco desacordo com os princípios de inclusão social. Ora, inclusão, neste caso, exige acordos pactuados com Secretarias de Educação. Como diz a sabedoria popular: era muita areia para o caminhãozinho dos reformistas de araque.

Incapazes de enxergar o conteúdo manicomial das suas propostas, esses reformistas prestam um desserviço à luta por uma sociedade sem manicômios. Douram pílulas com tintas surradas de um humanismo obsoleto. São maus exemplos, se seguidos. Especialmente pelos candidatos à Prefeitura de Manaus.

Manaus, Agosto de 2008.

Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota do blog: Artigo publicado no jornal Amazonas em Tempo, no Caderno Raio-X, que circula às quartas-feiras.
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