setembro 18, 2008

Eleições Municipais e Saúde Mental (VII)

Nota do blog: Observe na imagem do Google Earth os três únicos serviços públicos de Saúde Mental existentes no município de Manaus. Todos estão sob a responsabilidade do poder público estadual. Até agora o poder público municipal não se manifestou pela implantação de serviços substitutivos ao manicômio. Em quatro anos não foi criado um CAPS sequer. Mas não é só a atual administração municipal que se abriga na sombra do preconceito social. Até o presente momento, todos os candidatos ignoram os portadores de transtorno mental (valho-me do conceito, com reservas), não emitem nenhuma mensagem sobre o futuro dessas pessoas, desprezando o potencial de eleitores dos familiares de mais de trinta mil usuários dos poucos e precários serviços existentes. É mole?

Eleições Municipais e Saúde Mental (VII)

No processo de desinstitucionalização da loucura, se as situações de tutela em que se encontram as pessoas internadas em hospitais psiquiátricos são tomadas como chances de construção de autonomias, é bem verdade que no campo do cuidado de saúde mental é preciso construir outras competências que o modelo manicomial costuma inibir entre aqueles que ali trabalham.

Há de se tomar de empréstimo outros olhares e modos de fazeres, para não repetir o corolário dos humanismos de verniz, incapaz de criar redes de conexões sociais para sujeitos historicamente oprimidos, que tenha como princípio ético a relação com o outro como sujeito e não como objeto de um cuidado clínico obsoleto.

Nessa perspectiva nasceu a Residência Médica em Psiquiatria (RMP). Como em Manaus só existe um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) – implantado pelo Estado, em 2006, após longo período de inércia do setor, somada à indiferença do Município, que só agora, no apagar das luzes, criará o segundo CAPS de Manaus – nossa RMP foi implantada no Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, onde, paradoxalmente, ainda estão a maior parte dos serviços de saúde mental (ambulatório, pronto atendimento, internação breve), todos inspirados no modelo manicomial, com data de validade vencida.

Essa contradição foi encarada como um desafio: substituí-la tão logo haja a expansão da rede de CAPS. Junto com outros serviços antimanicomiais e leitos psiquiátricos em hospitais gerais, estariam garantidas um padrão de formação de novos psiquiatras dentro do perfil exigido pelo movimento social que luta por uma sociedade sem manicômios.

Candidatos a Prefeitura de Manaus que não estejam comprometidos com a expansão da rede de CAPS – onde os serviços sejam vistos em sua totalidade, e não da maneira fragmentada, tal como encarnada nos discursos e práticas de servidores de diferentes matizes ideológicos – e uma boa formação de pessoal estará praticando um desserviço à Saúde Mental, o patinho feio das políticas públicas de saúde.

Manaus, Setembro de 2008.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com
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