julho 21, 2009

Panorama geral da rede Flor da Palavra

Panorama geral da rede Flor da Palavra

A rede começou em 2006, fruto de uma catalização de ações colaborativas que fizeram de alguns eventos zapatistas brasileiros híbridos muito interessantes de academias, movimentos sociais, apropriação de tecnologias de comunicação, artes etc. Daí a idéia de se formar uma rede Flor daPalavra.

Desde então, houve experiências muito interessantes porém localizadas e fragmentárias de comunicação e solidariedade, bem como de novos eventos na Flor da Palavra. Por trás desses contatos e ações fragmentários havia e há antigos e importantes movimentos sociais, trajetórias individuais de grande engajamento etc, acontecendo, mas aproveitando-se ainda muito pouco da idéia e invenção da prática de uma rede Flor da Palavra.

Vejo uma guinada importante com a sequências de Flores do final de 2008 que culminou com o primeiro ajuri do Caracol. Embora voltada à ação prática mais do que ao debate, o ajuri serviu como mística que criou pela primeira vez um senso de pertecimento e envolvimento mais profundo com a invenção desta rede para um considerável e diversificado grupos de pessoas dos mais variados grupos e redes (que não se confunda a rede com a lista, pois muita gente na lista não participa da rede, e muita gente da rede não está na lista). Existe hoje 5 pólos principais e outros tantos menos intensos de grupos desenvolvendo as ações que se pode definir como constituindo e inventando essa rede de redes que é a Flor da Palavra:

Tefé/ Amazonas:

É um dos pólos mais antigos, já experimentou diversas formas de realizar Flores, fazendo delas eventos que ajudam a aproximar movimentos locais entre si, criando em alguns casos alianças duradouras e com muitos frutos (como por exemplo entre movimento indígena, CMI e universidade), e também ajudando a divulgar esses movimentos nacional e internacionalmente, preparando o terreno para possíveis alianças mais amplas no futuro (ou apoios em caso de possíveis repressões futuras). A última Flor enfatizou a aproximação entre si de movimentos culturais de juventude e a denúncia da opressão vivida por jovens de origem rural e indígena, gerando novos híbridos com consequências ainda imprevisíveis.

Destaque-se aqui que a idéia de flores como eventos de curta duração pode passar uma imagem distorcida, pois por trás disso há a longa duração ou caráter permamente dos processos que, para quem está lonje, são menos visíveis do que aqueles eventos.

Curitiba:

É um caso de apropriação da rede Flor da Palavra e suas possibilidades de invenção, conexão, divulgação, alianças etc, primeiro por grupos que atuam principalmente com a solidariedade a sem tetos, e agora pelos próprios sem teto. As Flores têm servido principalmente para um diálogo mais franco e horizontal entre ativistas e sem teto e, nas últimas flores, passaram a servir de catarse, de explosão das vozes sufocadas e oprimidas de famílias que vivem o dia a dia do desalojo e ocupação. Ao mesmo tempo, servindo para mostrar a face humana das ocupações e colocar bloqueios ao desalojo. Servindo para difundir, por exemplo via CMI, um pouco mais suas lutas. No próximo sábado (25/7) acontece uma nova Flor da Calçada, por iniciativa dos moradores de Itaqui!!!

Rio Grande do Norte:

É um caso de prevalência de conexão com grupos que trabalham com as mais diversas formas de mídia livre em comunidades. Ao que parece, a vivência do Caracol e da rede tem sido uma inspiração para que o pessoal comece a experimentar formas mais politizadas e orgânicas de atuação junto a uma comunidade de descendentes indígenas. Estão começandoa planejar sua primeira Flor, embora um evento realizado pouco tempo atrás já tenha sido uma Flor. Tendem neste momento a promover uma outra faceta interessante do repertório que se constrói coletivamente: o elo entre a luta local e outras lutas locais, convidando grupos diversos para interagir com as comunidades do rio Grande do Norte. Enquanto Tefé e Curitiba, neste momento, tendem a fortalecer redes locais, o pessoal do RN tende a buscar, neste momento, redes mais amplas de comunicação e solidariedade, ao mesmo tempo que a inserção criativa e profunda numa comunidade local. Muito parecido com a proposta original do Caracol.

Sampa/Piracicaba:

O pessoal de Sampa parece estar conectando pouco suas lutas locais com a rede da Flor. Sabe-se que possuem experiências importantes, como por exemplo CMI-SP e Espaço Ai Carmela. Mas isso parece ser algo paralelo à sua atuação que tem sido constante no sentido de apoiar, seja com viagens, oficinas, ou produção de vídeos, outras ações geralmente ligadas a tecnologias de comunicação, a rede Flor da Palavra, principalmente o Caracol. Talvez agora direcionem sua solidariedade a outros pólos da rede.

Acre:

Apoio principalmente financeiro.

Maringa/Sampa

Ações esporádicas com flores esporádicas (ajudou também em Marília, Sampa, Campinas), constribuições importantes ao debate ideológico (embora esteja meio quieto no momento) e apoio financeiro.

Campinas/ Rádio Muda:

Divulgação e solidariedade com livros. Foi onde aconteceu a primeira Flor da Palavra em 2006, tendo havido a incrível participação do Centro de Médios Livres e Rádio Zapote atravéz streaming de internet durante o evento.

Paraná:

Doação de livros.

México:

Temos muitos ativistas do México acompanhando nossas ações na lista, principalmente como observadores, embora em outros momentos já tenham participado de trocas de áudio postal com vídeo carta, troca cruzada de programação de rádios livres e de zines e publicações em antigas Flores, debate de idéias e apoio a pesquisadores e ativistas em viagem ao México.

Belém/Caracol:

Embora o caracol tenha começado como uma experiência praticamente de cunho nacional, até internacional, inspirando-se na experiência dos caracóis zapatistas de intercâmbio permanente entre grupos locais e entre estes egrupos de longe, no momento parece estar numa fase instrospectiva e de difícil adaptação e aprendizagem. Questionamentos, crises e rupturas profundas parecem estar acontecendo na experiência pessoal dos seus participantes, a ponto de se estar criando uma situação de difícil comunicação com os outros grupos da rede. Quanto ao estilo de ação, no momento nota-se a ênfase nas práticas de permacultura. É sem dúvida um dos experimentos mais difíceis acontecendo na rede, afinal não se trata de um grupo atuando há anos numa localidade ou região e procurando, pela rede, novas formas de táticas, deslocamentos, alianças etc. É um grupo que saiu de suas localidades originais para tentar se inserir e aprender a lutar num contexto social novo para eles, daí as crises, sofrimentos, conflitos pelos quais estão passando. Mesmo o grupo não existia antes, sendo novo e formado por pessoas de origens diversas. Todos os exilados e migrantes sabem como isto é difícil. Mas garanto a vocês que em nosso caso, que buscamos voluntariamente aprender com nossos brasis profundos, a experiência vale a pena e os frutos mais valiosos em sabedoria aparecerão apenas com o passar dos anos. Para o EZLN foram 10 anos. Ingrediente findamental e que nunca é demais: humildade.

Brasília:

Está adormecida, mas já rolou muita, muita coisa fera por lá em matéria de Flor da Palavra. Nos aventos anteriores prevaleceu a aproximação entre grupos autônomos e a temática das ocupações urbanas - squats.

Em ação no momento, o Ruiter em solidariedade com o Rio Grande do Norte.

Outros/as anônimos/as observadores/as:

São muitos e muitas, de muitos lugares diferentes. Ficam acompanhando ou simplesmente deletando as mensagens da lista. Lêm editoriais do CMI ou participam de Flores. Os frutos desses contatos são imprevisíveis e jamais chegaremos a saber a maioria deles.

Eis aí o quadro geral com um mínimo de pé no chão.

Esse relato acabou, quem quiser que conte outro!
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