setembro 17, 2009

A imprensa! Que quadrilha!

Afonso Henriques Lima Barreto
Foto postada em sempapel.wordpress.com

Oleo do Diabo

A imprensa! Que quadrilha!

[...]

Lima Barreto me intriga. Sua obra é muito irregular. Está longe de ser um gênio da técnica literária, como Machado de Assis. Por que, então, Lima Barreto é colocado, por quase todos os críticos, apesar de tantos defeitos, como o segundo maior escritor brasileiro do início do século XX, superado apenas pelo hors concours Machadão? Por que não José de Alencar? Por que não tantos outros, com obras muito mais impecáveis, do ponto de vista técnico, mais coesas, mais "trabalhadas"?

Pensando nisso, pus-me a reler a obra de Lima e, no momento, percorro as páginas de Recordações do Escrivão Isaías Caminha. Acho que encontrei algumas pistas. Lima é sincero. Suas páginas exalam uma dor real. Talvez seja o primeiro escritor brasileiro a romper as barreiras formais para realizar uma literatura moderna, com mais despojamento e, sobretudo, mais verossimilhança e autenticidade emocional. Há trechos do Isaías Caminha que parecem sair diretamente do coração torturado de Lima.

Esse livro, conforme sabemos hoje através dos dados biográficos à nossa disposição, e como se pode depreender de sua própria leitura, nasceu de um profundo sentimento de revolta contra a imprensa brasileira de sua época, considerada por ele racista, reacionária, despreparada, e demais epítetos similares, que encontramos em abundância aplicados aos personagens-jornalistas do romance.

Vamos a um trecho:

A Imprensa! Que quadrilha! Fiquem vocês sabendo que, se o Barba Roxa ressuscitasse, só poderia dar plena expansão à sua atividade se se fizesse jornalista. Nada há tão parecido como o pirata antigo e o jornalista moderno: a mesma fraqueza de meios, servida por uma coragem de salteador; (...) um olhar seguro, uma adivinhação, um faro para achar a presa e uma insensibilidade, uma ausência de senso moral a toda prova... E assim dominam tudo, (...) fazem que todas as manifestações de nossa vida coletiva dependam do assentimento e da sua aprovação. Todos nós temos que nos submeter a eles, adulá-los, chamá-los gênios, embora intimamente os sintamos parvos, imorais e bestas... (...) E como eles aproveitam esse poder que lhes dá a fatal estupidez das multidões! Fazem de imbecis gênios, de gênios imbecis; trabalham para a seleção de mediocriades
(...).
[...]

Enfim, parece que a imprensa da época de Lima não mudou muito de lá pra cá. Durante a recente crise que assolou o mundo, nossos jornalistas babaram de euforia. A Miriam Leitão, que só por estar de férias faz o céu ficar mais azul no Brasil, entrevistou, no auge da crise, o tal José Pastore, que afirmou que o Brasil deveria perder este ano cerca de 1 milhão de empregos. Uma amiga minha, que trabalhou 12 anos no Estadão, riu quando eu falei isso, porque ela me contou que todo mundo entrevistava o Pastore, o cara mais conservador que ela conhecia. Pois bem, a expectativa do governo e do mercado agora é de que o Brasil CRIE um milhão de empregos esse ano. Mas ninguém vai lá cobrar explicação do Pastore, que forma, junto com Marco Antônio Vila e Roberto Romano, a tríade dos sábios que a imprensa entrevista sempre que precisa alguém para corroborar suas teses pré-fabricadas e atacar o governo Lula.

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