setembro 20, 2009

Mídia e Hegemonia de Classe

Rádio Livre Muda
Campinas - São Paulo - Brasil
Foto postada em CMI
Nota do blog: Quando leio um texto como este abaixo, fico a pensar na auto-censura da consciência pequeno-burguesa. Alguém disse (acho que Roland Barthes) que a escrita é a verdade da linguagem, e a que ela vai sempre além da fala. Pensar, falar e escrever é enfrentar o sistema simbólico e semântico da nossa civilização. Desafio que não inibiu o autor do texto a escrever o que pensa, e que certamente fala. Aqui não se trata de valorizar o recorte de gênero. Já vi gente de ambos os gêneros praticando a auto-censura nossa de cada dia. É preciso ter o espírito livre para enfrentar a castração institucional dos nossos discursos.

MÍDIA E HEGEMONIA DE CLASSE ::

Se Gramsci estivesse vivo, tenho certeza que ele faria o máximo possível para divulgar a necessidade de se democratizar as comunicações, afinal ele propunha a chegada ao poder via Democracia. E é lógico, sem diversidade de pontos de vista não existe a tal Democracia.

por Ricardo Melo

Para que ninguém pense que eu sou dado a estrelismos e nem me chamem deconvencido, já vou avisando: escolhi a imagem do italiano Antonio Gramsci só porque acho que ele é “o cara” em termos de pensamento político. Não, não me pareço nem um pouco com ele, nem fisicamente e nem em inteligência. E também não sou assim um especialista em Gramsci, não li a sua obra completa. Não li nem os cadernos do cárcere, que ele escreveu enquanto mofava em uma prisão entre 1926 e 1934. Resumindo, seu eu fosse criancinha hoje, gostaria de ser que nem o Gramsci quando crescer. Com certeza, alguém vai aparecer para falar que isso tudo não é “original”, mas quem disse que tudo precisa ser “original” na vida?

O Gramsci foi original. Ele pegou a doutrina marxista e deu uma volta no velho barbudo. Concluiu e provou que o Socialismo não seria alcançado apenas com a luta direta do proletariado pela apropriação dos meios deprodução, via Revolução.

Ele propôs que os trabalhadores, antes de conquistar a posse dos meios de produção, deveriam estabelecer por conta própria uma Hegemonia na super-estrutura, ou seja, deveriam estabelecer na cultura e na política os seus próprios pontos de vista como consenso.

Eu acho que ele estava coberto de razão. A própria burguesia fez isso para chegar ao poder. Estabeleceu os seus valores de classe como os “válidos”na sociedade, colocou o Aristocracia na sinuca (inclusive economicamente) e depois sim é que partiu para a Revolução. Gramsci mostrou que, apesar da infra-estrutura (a produção econômica) determinar o tipo de sociedade em que vivemos, a super-estrutura (a cultura, a política, a ciência, etc.) tem um papel fundamental para quem se propõe chegar a uma transformação social. E como se tudo isso não bastasse, Gramsci propôs que o Socialismo poderia ser alcançado democraticamente, justamente através do estabelecimento de uma Hegemonia Cultural por parte do proletariado. Eu acho esse ponto de vista bárbaro.

Mas interessante mesmo seria analisar a realidade do nosso contexto apartir do ponto de vista do Gramsci, aliás isso precisa ser feito tambémpor causa do nome da coluna (Última Análise), afinal eu não sou ninguém para escrever uma análise derradeira sobre a filosofia do nosso Antonio.

E eu acho que do ponto de vista do Antonio (olha aí, já ganhei proximidade com “o cara”), o mundo passa por um momento em que a Hegemonia do capital financeiro sofreu um abalo considerável, abrindo um vácuo para que as esquerdas proponham novos pontos de vista e se candidatem a uma Hegemoniana cultura e na política.

O Consenso de Washington não é mais consenso algum, a especulação financeira colocou os países ricos de joelhos, os países emergentes estão se saindo melhor na crise e isso ocorre justamente por causa da ação do Estado na economia. Tudo isso contradiz aquela fé ortodoxa na capacidade dos Mercados se auto-regularem.

Nesse contexto, o Brasil cresceu como nunca, diminuiu a desigualdade comonunca, controlou a inflação como nunca e passou a ser reconhecido no plano global como exemplo de condução econômica e social eficiente. Foi através da ação do Estado que o Brasil estabeleceu o maior programa de complementação de renda do mundo, aumentou o salário-mínimo, está investindo fortemente na infra-estrutura produtiva, aumentou o número de empregos formais, equalizou a questão da previdência e civilizou o atendimento, descobriu o Pré-Sal e por aí vai.

Há pouco tempo, mesmo a contragosto, a mídia teve que anunciar que no mês passado o país gerou um saldo positivo de 240 mil postos de trabalho formais. Esse é também mais um resultado do governo Lula, que conseguiu combater a maior crise internacional desde a década de 1920 utilizando recursos equivalentes a 1% do PIB e mais nada. Só para comparar, a China “torrou” nada menos do que 13% do PIB. Muito mais.

Sim, as conquistas no governo Lula são inquestionáveis, mas a mídia não mostra isso. Com certeza as famílias que gerem a mídia conhecem algo de Gramsci ou mandaram os seus “feitores” ler os escritos do nosso Antonio. Eles manipulam, distorcem e mentem. Pois sabem que o fato objetivo é queum operário conduziu bem o Brasil nos tempos de calmaria e recentemente salvou o nosso “navio” de uma tempestade perfeita.

Se as famílias Marinho, Civita e Mesquita assumissem essa realidade, estariam dando pano pra manga. Teriam de concordar que existe uma transformação na Hegemonia Política em que os donos do poder perdem eleição e perdem a moral também. E isso não pegaria bem para o “andar de cima” desse país não é mesmo? Daí é que eles dizem que esse Lula tem mesmo é “sorte” e fim de papo.

Agora falando sério: está em andamento na Argentina a aprovação de uma nova lei do audiovisual, que vai democratizar no país o controle dos meios de comunicação.

No Brasil também existem iniciativas semelhantes, mas elas encontram uma rejeição enorme por parte da própria mídia, que por sua vez representa os verdadeiros “donos do poder”.

Se Gramsci estivesse vivo, tenho certeza que ele faria o máximo possívelpara divulgar a necessidade de se democratizar as comunicações, afinal ele propunha a chegada ao poder via Democracia. E é lógico, sem diversidade de pontos de vista não existe a tal Democracia. Chega daquela velha (e mesma) opinião formada sobre tudo na nossa mídia. A grande maioria da população tem muito interesse nesse tema e muitos precisam ser avisados disso.

Fonte: Olhar Analítico::

Nota do blog: Todas as dicas dessa postagem é de Alexandra Peixoto.

Assistam esses vídeos:

"War/No More Trouble" Playing for Change Song Around The World

Zeitgeist - The MovieZeitgeist Addendum

A História das Coisas

Loose Change

Alexandra Peixoto

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“Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém.”
caio fernando abreu"

É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática."
Paulo Freire
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