setembro 26, 2009

Woodstock não aconteceu Honduras

Alto ao golpe
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Oleo do Diabo

Woodstock não aconteceu Honduras

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Mas o que aprendemos desde Woodstook? Pelo jeito não muita coisa. As forças conservadoras, por outro lado, aprenderam muito, e se reformularam formidavelmente, de maneira que, se os anos 60 e 70 se caracterizaram pela eclosão de grandiloquentes movimentos libertários, em todo o mundo, os anos 80 e 90 assistiram a uma reação brutal das forças conservadoras, e o resultado foi o que vimos: uma expansão da miséria e da injustiça num grau jamais visto antes na história da humanidade. Todas as épocas da civilização tiveram sua face cruel, mas não creio que houve momento em que percentual tão grande da população humana sofreu de fome e doenças como vimos nos anos 80, 90, e até hoje.

De maneira que não basta lutarmos com flores e música. A luta precisa acontecer na esfera política. Há que se ganhar eleições, para ser mais preciso. A utopia de se fazer política fora do ambiente institucional revela-se debilitante e ineficaz. O controle democrático do Estado é fundamental. De certa forma, as pessoas aprenderam isso. E votaram em Obama, surpreendendo profundamente o conservadorismo global. Os reacionários tupiniquins até hoje gaguejam e respiram acelerado, trêmulos e ansiosos, com essa mudança simbólica, geopolítica e ideológica profunda que foi a eleição de um negro democrata, com idéias de esquerda, para o comando da Casa Branca.

Precisamos, por isso mesmo, reagir ao que acontece em Honduras com muita perspicácia, porque se trata de mais uma batalha contra as forças do atraso. Não basta esmagarmos esse golpe, mas usá-lo a nosso favor, o máximo possível. É preciso otimizar a vitória. É a única maneira de dignificar e dar um sentido maior ao sofrimento por que passa o povo hondurenho. Já contei que meu tio, Francisco do Rosário Barbosa, foi barbaramente torturado, mutilado e assassinado em 1981, por policiais da 9ª Delegacia do Catete no Rio de Janeiro. Era um jovem poeta, sem ligações partidárias, um cidadão brasileiro inocente, cheio de sonhos e ideais, que foi morto covardemente por brutamontes pagos com nosso dinheiro. Então somos todos culpados. O Brasil é culpado pela ditadura militar, porque se acovardou. O país inteiro se acovardou, porque o povo brasileiro havia sido mantido na ignorância por governos anteriores, e estava debilitado pela pobreza e pela falta de perspectivas, e a ditadura triunfou. Os poucos que se revoltaram foram massacrados.

Mas falei do meu tio porque meu pai (já falecido) contou-me que, após a sua morte, extremamente traumática para a família, ele reuniu a todos e disse o seguinte: "perdemos nosso querido Chico. Nossa obrigação agora é dar sentido a essa tragédia, transformá-la numa batalha contra a ditadura militar." E assim foi. Meu pai foi a todos os jornais e canais de TV. Apareceu no Fantástico. Fez um escarcéu. Publicou um livro. Foi o único caso, na época, em que os policiais foram presos, embora só depois de dois anos de um processo judicial kafkiano. Então, temos que usar o golpe em Honduras como arma para desmascarar a mídia golpista brasileira, e que agora, mais que nunca, merece o epíteto "golpista" que lhe vem sendo pespegado por uma blogosfera cada vez mais barulhenta, lúcida e influente.

Eis que os mesmos setores da mídia que apoiaram e depois legitimaram a ditadura militar no Brasil agora apoiam, uns abertamente, outros de forma mais discreta, o golpe de Estado em Honduras. Antes de Zelaya voltar à Honduras e abrigar-se na embaixada brasileira, a imprensa brasileira havia estabelecido um sinistro pacto de silêncio. Havia dado destaque ao golpe nos primeiros dias, mas depois reinou um estranho e apavorante silêncio sobre Honduras. Agora, é obrigada a falar, e ficou nua. Merval Pereira, em sua coluna de hoje, reproduz, e chancela, um artigo de um jurista de São Paulo (tinha que ser paulista), chamado Lionel Zaclis, publicado no site Consultor Jurídico, no qual afirma que o golpe em Honduras não foi golpe. Jabor, no Jornal da Globo, ou seja, numa TV aberta, uma concessão pública, diz que se tratou de "um golpe democrático", porque teve apoio, entre outros, da Igreja... Faltou citar o Rotary Club...

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