novembro 23, 2009

TESC - nos bastidores da lenda


dia 25, quarta-feira, às 18 horas, no SESC da Henrique Martins

TESC - NOS BASTIDORES DA LENDA


APRESENTAÇÃO

Em julho de 1971, Nielson Menão, em manuscrito, assim explicava a peça Calígula para os atores do Tesc: “(...) [ Hoje] as pessoas não estão contentes, sentem necessidade de uma mudança. ... Mas seguram suas pontas. São muitos que pensam assim: uns acreditando e tentando, outros somente se limitando a saber; outros sentindo, sem saber. Mesmo assim, ainda são muitos os ‘fantasiosos’. O atual sistema de vida – porque todos vivem debaixo de um – não deixa condições humanas. Por isto a necessidade de uma verdadeira revolução-mudança. Por exigir muito – a época que vivemos é efervescente, prestes a estourar – é preciso que se conserve a vontade de querê-la até o fim. Muitos pensam – por não procurar conhecer a fundo – que tudo é simples entusiasmo, sem perceber que por certas coisas se percebe um todo. Um sinal para uma verdade que, por ser sempre simples, é difícil de descobrir e complicado o caminho pra se chegar a ela. Pra isto é preciso coragem! A vida é absurda, você percebe que um dia você vai morrer e agora já se sabe que o papo de uma outra vida espiritual é falso, que a vida é o tempo que se vive... No entanto, até agora o homem viveu sempre em angústias, mas as pessoas se acomodam e negam isto. Tanto que recebem coisas na cara e continuam seus caminhos, sem se tocar que estas coisas são importantes”.

Os tempos eram outros, tempos de guerra. A porrada corria solta lá fora, nas ruas, nos sindicatos, faculdades. Viver era perigoso, em cada esquina o perigo te espreita, seqüestros, tiroteios, assaltos a bancos, mortos nas calçadas. A ditadura militar mandava e desmandava. Censura a tudo e todos. As perseguições a políticos, cientistas, estudantes, professores e artistas tinham como único objetivo causar medo e afirmar os poderes sem limites do regime. O mundo cultural reprimido a ferro e fogo. Contestar, quem se atreve?

O Tesc se atrevia, aqui em Manaus, neste “fim de mundo”, a viver o “desbunde” e realizar “Calígula”, “Pastum”, “Mikage”... O Sesc recebia Gal Costa, José Wilker com “O Arquiteto e o Imperador da Assíria”. José Celso Martinez Correa e o Oficina iluminaram o caos manauara e carregaram muitos visionários num rabo de cometa, rumo a São Paulo.

Eram tempos sem sol. Mas, numa rua do centro de Manaus, nos fundos de um grande prédio, em um pequeno espaço, um teatrinho era só luz, iluminando as noites desassossegadas, inquietantes. Ponto de encontro de muitos, de chegada e partida de alguns, o Tesc da rua Henrique Martins reciclava e atualizava temas clássicos e outros nem tanto. Lá se reencontravam todos - atores, músicos, estudantes, professores, meliantes e comerciantes. O teatro-cabeça. Depois, nova postura; vamos descobrir quem somos. A questão da identidade, social e cultural, na Amazônia, ganha espaço na produção teatral. A expressão amazonense sai do livro e ganha o palco com peças imemoriáveis.

Os tempos eram sombrios. O “vazio cultural” dos anos 70 seria “preenchido” na Amazônia por obras militares grandiosas, faraônicas, terríveis como um cogumelo atômico. Águas mortas, povos mortos, florestas mortas... Cinzas. A ordem do dia era “terra sem homens” para “homens sem terra” e eles foram chegando, e enlouquecendo, pela Transamazônica, a enorme e louca serpente abrindo picadas e fendas, em busca do novo Eldorado.

Eram tempos de integração, de perdas identitárias. A região amazônica e Manaus entram na marra, com a Zona Franca, na tal de globalização.

Alô, alô, quem tem medo do Tesc? Zona Franca, mon amour, my love, veja como são gostosas as cocotes das folias do látex! Venha e renda-se aos esculachos, às orgias, aos cambalachos dos nossos “heróis”, nossos coronéis de barranco. Mas, cuidado, que o mar não está pra candirus, tem piranha no pirarucu. Quer nos vender alhos por bugalhos, Mister Pile?

O Tesc era assim, um espaço sério, que responde com muito humor ao sufoco geral. Que zomba de uma elite passadista e anuncia, denunciando, com agressiva alegria, uma nova consciência: “somos todos aculturados”, mas ainda é tempo de nos despirmos e confeccionarmos nova roupagem. Ajuricaba, Jurupari, o canto livre dos Dessana aí estão para abrir os caminhos.

O Tesc dos anos 70, o real e o imaginado, está todinho aqui na escrita de Ediney Azancoth. Do recôndito da memória para o papel do livro, uma lenda foi tomando corpo, recriando-se e recompondo-se. A trajetória de mais de 15 pessoas, atores-amigos, alguns hoje não tão amigos, mas reconhecido o caminho percorrido.

Pesquisar é um ato de amor ao conhecimento. Pesquisar sobre Manaus e seus espaços culturais é um ato de reconhecimento à cidade que fiz minha morada.

Pesquisar é ter sensibilidade para ouvir as vozes que vêm do passado e criar uma sinfonia polifônica mas, antes de tudo, pesquisar é armazenar paciência, muita paciência para vencer os entraves que aparecem no caminho, as portas que se fecham, as vozes que se calam, jornais e revistas que desaparecem, um patrimônio que se perde pelo descaso e desgovernança. É importante dar visibilidade a pessoas, grupos, processos, movimentos, como o movimento teatral dos anos 70 ao fim do século 20. Muitos grupos teatrais já não existem e seus feitos não podem ficar existindo apenas na memória daqueles que os vivenciaram. A vida é curta, a memória muito mais, porque sensível, mais frágil. É preciso resguardá-la através da escrita, da imagem, para que nossa existência não se transforme também em um vazio.

Hoje, a história do Tesc continua a ser escrita pela performance do grupo, mas seu passado corria o risco de afogar-se no mar de amnésia que banha a nossa vida social. Por isso, nada melhor que o escrivão-mor, Ediney Azancoth, o guardião da memória, para dar conta das peripécias desta trajetória, que remonta a tempos que já lá vão e que alguns desejam não ver esquecidos.
Selda Vale

SUMÁRIO

Agradecimentos.
Prelúdio para um tempo de mudanças

TUA - Teatro Universitário do Amazonas (1968).

Os árduos caminhos do engajamento
Atores à procura de um autor
Mais um paulista na zona
No palco, os anos militares

Grupo Sete (1969)

III Festival de Cultura (1969)

Teatro Experimental do Sesc
Parte 1:
1968 – 1982

Cena 1 : O surgimento do Teatro Experimental do Sesc -TESC (1968)

Cena 2: Eles não usam Black-tie (1969).

Cena 3: A Árvore que Andava (1969)

Cena 4: Calígula ou Como Cansa ser Romano nos Trópicos (1969)

Cena 5: Pastum (1970)

Cena 6: I Supermercado de Arte do Amazonas (1970)

Cena 7: Mikage, a Longa Viagem do Primata (1971)

Cena 8: Calígula outra Vez (1971)

Cena 9: O Funeral do Grande Morto (1972)

Cena 10: As Trompas do Apocalipse (1972)

Cena 11: A Hora e a Vez de Partir. (1973)

Cena 12: O Marinheiro (1973)

Cena 13: Aprendiz de Feiticeiro (1973)

Cena 14: Espinhos no Coração (1973)

Cena 15: A Paixão de Ajuricaba (1974)

Cena 16: O Show do Beco e Corre, Cometa, Corre (1974)

Cena 17: Dessana, Dessana (1975)

Cena 18: O Terrível Ciumento (1975)

Cena 19: A Maravilhosa Estória do Sapo Tarô-Bequê (1975)

Cena 20: Espinhos no Coração n. 2 (1975)

Cena 21: Viagens ao Interior (1975)

Cena 22: As Folias do Látex (1976)

Cena 23: A Paixão de Ajuricaba – segunda versão. (1977)

Cena 24: O Pequeno Teatro da Felicidade (1977)

Cena 25: O Projeto Mambembão (1978)

Cena 26: Tem Piranha no Pirarucu (1978)

Cena 27: Jurupari, a Guerra dos Sexos (1979)

Cena 28: O Elogio da Preguiça (1980)

Cena 29: Teatro Saltimbanco de Combate (TESC): A Resistível Ascensão
do Boto Tucuxi (1982)

Parte 2:
(2003 - )

Cena 30: A ressurreição (2003 -...)

Epílogo

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