dezembro 22, 2009

"Você tem medo de conversar sobre drogas?"


Trabalho de RTVC, dos alunos da Universidade Estácio de Sá - curso de Comunicação Social - Rebouças. Institucional - Grife Das Doida Mais informações sobre a instituição: www.dasdoida.com.br

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Nota do blog: Meu caro ministro Temporão, substitua rapidamente a infeliz campanha sobre o crack veiculada na mídia nacional. Entregue a nova tarefa para os alunos da Universidade Estácio de Sá, do curso de Comunicação Social. Eles sabem tudo sobre material publicitário não estigmatizante. E tem mais. Se eles tiverem acesso ao material abaixo, que colhi no grupo de discussão em-defesa-da-reforma-psiquiátrica, o resultado será bem melhor do que o telespectador brasileiro está sendo obrigado a engolir. Num cenário em que os conservadores estão deitando e rolando na mídia brasileira, não vai faltar quem diga que a campanha atual foi a "campanha possível". Bobagem! Com um pouco de coragem, e com a força do movimento social, que recentemente pôs o bloco na rua (Marcha dos Usuários), conte conosco pra qualquer parada. A propósito, quando o Ministério da Saúde irá anunciar a Conferência Nacional de Saúde Mental, já aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde? Dê um puxão de orelhas nos seus assessores; alguém precisa fazer interlocução com o movimentos social, ora pois!

Contribuição para uma nova campanha sobre o crack

- Por uma nova campanha - Pensar em política de drogas na atual conjuntura é pensar nos efeitos contidos na linha divisória entre Saúde e Segurança Pública. Agentes de saúde não podem agir como agentes da lei. Temos ferramentas para campanhas que fogem dessa armadilha. Eis seus elementos:

- Subjetividade - A "subjetividade" a ser trabalhada deve associar a ideologia antidrogas ao medo de conversar sobre drogas. Portanto, é o despreparo que está em jogo. E isso não é novidade, está condizente com os pressupostos da atual lei sobre drogas, 11.343/06.

- Desconhecimento - Sugerir, sem tons de alarde, como os usos de drogas diversas estão inevitavelmente presentes na sociedade, para depois lançar de alguma forma uma pergunta que ainda não foi feita à "sociedade", e sobretudo aos/às trabalhadores/as da saúde: "Você tem medo de conversar sobre drogas?"

- Ao SUS o que é do SUS - Incentivar como eixo desse movimento a Atenção para a Estratégia de Saúde da Família. O CAPS-AD seria a referência num segundo plano. Vale lembrar que a alternativa de internação, via fazendas, faz parte de um eixo paralelo. Esse eixo atende uma parcela ínfima da demanda e é muito menor do que o SUS: famílias pagam mensalidades abusivas por estes serviços com dinheiro que não têm. Não esquecer que os contratos com essas clínicas são feitos com o dinheiro do SUS, pago pelos contribuintes, que estão a merecer acolhimento integral articulando Saúde Mental e Atenção Básica.

- Acolhimento e trabalho - Ressaltar que o acolhimento envolve escuta qualificada. As pessoas têm suas histórias de vida. Homogeneizar as demandas das pessoas que usam drogas é pecado capital. É preciso dizer com todas as letras que trabalhar em saúde envolve trabalhar. Esse é um ponto de honra na luta pela Saúde Coletiva, contra o corporativismo e a promoção dos serviços milagrosos (via ato médico, por exemplo).

- Nova visão sobre ilicitude e clandestinidade - Considerar a ilicitude e a clandestinidade como parte do problema, mas nunca como uma espécie de conseqüência dos usos.

- Redução de Danos – Jamais promover os saberes da Redução de Danos como um amontoado de sugestões para "usos seguros" do tipo "beba água". RD trata-se de um trabalho responsável diante do grave problema das demandas explícitas mal-acolhidas (usos problemáticos/abusivos) e as demandas invisíveis não-acolhidas (usos não-problemáticos e suas nuances). A RD não tem medo de conversar sobre drogas (o que é um ótimo dispositivo para provocar redutores/as de danos antimanicomiais também).

- Autonomia – Antes de incentivar a autonomia das pessoas que usam drogas existem etapas a serem cumpridas. É tarefa dificílima. Em primeiro lugar, não só porque a Saúde tem algo a aprender com elas, mas porque Saúde não anda sem o apoio de uma nova cultura em Saúde. Atualmente, a grande maioria das pessoas que vão parar nos serviços pedindo por desintoxicação (a demanda explícita) já chega imbuída da idéia do "objeto de cuidado", pedindo por drogas pra desintoxicar (?), drogas pra conter fissura, dentre outras "pílulas". Este “vício” deve ser combatido, pois ele ameaça trabalhadores/as da saúde a naturalizar a demanda. É claro que acolher não é concordar com todas as demandas. Muitas das vezes a demanda é uma idéia fantasiosa, nascida de política que no tem no modelo médico de mercado sua fonte de inspiração.

- Indicador da campanha - ABP. Isso mesmo, Associação Brasileira de Psiquiatria. Se eles gostarem é porque alguma coisa fizemos de errado. Nessa guerra não estamos sozinhos: temos uma lei sobre drogas que nos fornece ferramentas, temos estratégias que dão certo e milhares de pesquisas que o embasam; só temos que fazer algo organizado entre gestão e movimento social, declarar guerra oficialmente e sair para o abraço.


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