fevereiro 17, 2010

IV Conferência Nacional de Saúde Mental


Em reunião com integrantes da Marcha dos Usuários a Brasília - Por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial, o chefe de gabinete da presidência da República Gilberto Carvalho informou que o presidente Lula assumiu o compromisso da realização da 4a Conferência Nacional de Saúde Mental. O vídeo mostra alguns trechos da fala de Gilberto Carvalho na reunião, e ao final traz um resumo da reunião dado por Gilberto ao Blog do Planalto.

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IV Conferência Nacional de Saúde Mental

A conquista da IV Conferência Nacional de Saúde Mental pelo movimento social por uma sociedade sem manicômios, para a qual foi necessária a realização da Marcha dos Usuários a Brasília, em 30 de setembro de 2009, me lembrou Aldísio Filgueiras irritado com alguns intelectuais que esqueciam seus compromissos sociais por um punhado de reais, ao serem guindados para uma função pública.

Justa é a reclamação do poeta. Não se trata de raciocínio ingênuo, desprovido de valor, mas da nova configuração ideológica assumida pelo intelectual nas recentes transformações do capitalismo. Em última instância, em causa o renascimento da crítica social como motor da história dos povos.

Ora, a natureza do cargo não deve ser impeditiva quando questões relevantes estão em jogo. Omissões podem comprometer a vida de populações inteiras. O caso da construção de um terminal portuário privado na região das Lajes é um exemplo doméstico.

Há quem acredite que a construção da ordem política que não leva em consideração os movimentos da sociedade organizada pode se surpreender com cenários de reação, “ora brandos mas firmes, ora violentos mas convulsivos”, como exemplificou no domingo passado em sua coluna o psicólogo João Bosco Araújo, neste jornal.

A sociedade civil antimanicomial organizada optou pela via pacífica da manifestação pública, articulada sobre uma agenda com os setores mais sensíveis ao diálogo do governo federal. Encontrou apoio nos que acreditam que partilhar poder é possível com quem é capaz de emitir juízos legitimados em sua história de luta.

Deixar de amparar-se na força dos movimentos sociais acreditando em mecanismos institucionais de inibição da psiquiatria conservadora – em crise desde que o edifício que lhe dava sustentação epistemológica começou a ser desmontado, obrigando-os a refugiar-se nos saberes que elidem os sujeitos de suas histórias –, essa sim foi uma visão ingênua. Até porque nossas conquistas estão longe de se consolidar à falta de um vigoroso programa de investimentos na rede substitutiva ao manicômio e na formação de novos recursos humanos sob o paradigma psicossocial, fato que nos tem fragilizado.

O Palácio do Planalto soube entender a retomada do espírito crítico existente dentro e fora do governo. Deixar de apostar na renovação da crítica social é um sinal de desinteligência, imprópria para um novo tempo que não aceita as formas tradicionais de autoridade.

Desejo êxito aos companheiros da comissão provisória da conferência, que certamente será um marco na luta por uma reforma psiquiátrica antimanicomial.

Manaus, Janeiro de 2010.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota do blog: Artigo publicado no Caderno Saúde & Bem Estar do jornal Amazonas em Tempo, que circula aos domingos.

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