julho 20, 2010

Rádio no manicômio?


justicaemquestao | 28 de maio de 2010
Vamos mostrar o município mineiro conhecido como "a cidade dos loucos" e o museu que guarda registros de um passado de sofrimento e exclusão.

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Nota do blog: O texto abaixo foi publicado na Carta Capital no período em que acontecia em Brasília a IV Conferência Nacional de Saúde Mental. Continua atual. Foi enviada pela baianíssima Rose Sobrinho.

Rádio no manicômio?
01/07/2010 16:18:08
Milton Nogueira País tem mais de cinco milhões de doentes mentais graves 
 
Manicômio, não! Casa de saúde mental, a que respeita os direitos humanos. Eis três idéias para melhorarem um pouquinho a vida de internos: enviar um locutor de rádio para transmitir de dentro de uma casa de saúde mental; ensinar os internos a trocar cartas com pessoas de fora; e organizar um festival na praça com a participação de doentes mentais e suas famílias.

Apesar do progresso recente no seu tratamento, os doentes mentais são ainda ignorados pelo povo, até mesmo pelos familiares. Vivem no limbo? Falam prá paredes? O que eles conversam? Ouvem música? A comida fede? Reclamam? Têm insônia? Fazem sexo? O povo, sem saber ao certo, viaja na imaginação, cria mitos e ri com a baixaria na TV que abusa de clichês sobre loucos.

Com 5,5 milhões de doentes mentais graves, o Brasil ainda mantém manicômios, porém pouquíssimas casas de saúde mental. Nos anos 1980, ao abrirem os manicômios de Barbacena, em Minas Gerais, descobriram-se horror, abandono, castigos, remédios ao acaso. Entrementes, a cidade mudou e faz anualmente o Festival da Loucura – De Perto Ninguém É Normal, e põe nas ruas músicas, passeios, palestras, loucuras cênicas (epa!), em meio a internos, cientistas, familiares, psiquiatras e povo. Único no país, o festival atrai boquiabertos turistas do Brasil e do mundo.

Que tal criar um programa de rádio, sem baixaria, transmitido ao vivo de dentro dessas casas? Nele, o povo ouviria os internos a cantarem, conversarem, reclamarem ou a contarem suas histórias. Haveria menos preconceitos e crendices populares sobre loucos. Seria mais fácil mobilizar cidadãos para apoiar essas casas, hoje vivendo à míngua.

Pode-se também ajudar o interno a escrever cartas a pessoas que voluntariamente aceitem ser correspondentes no papel, tipo pen-friend; uma carta manuscrita pode levar o paciente a entender que não está só no mundo e que alguém lá fora tem olhos para ele.

As três iniciativas poderiam ajudar a diminuir mitos, isolamento e discriminação contra pacientes, uma luz na escuridão. Quer saber mais? Veja as idéias que a IV Conferência Nacional de Saúde Mental sugere sobre direitos humanos, assistência social, educação, cultura, justiça, trabalho e esporte para doentes mentais.

Fonte: Carta Capital

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