dezembro 21, 2010

Olimpíadas 2016: no festim do mercado imobiliário do RJ quem paga o pato são os pobres

PICICA: "Enquanto isso, o poder público acusa o pobre de tirar vantagem de morar em áreas irregulares. Quando é o rico que briga por justa indenização em desapropriações milionárias, exerce o seu direito contra as "garras do estado". O pobre, não, está querendo se dar bem: vira caso de polícia e termina em despejo e demolição. Código civil pro rico, penal pro pobre. Portas arrombadas de madrugada, casa abaixo sem choro nem vela nem fita amarela. Ódio aos pobres: o pobre é malandro, especulador, interesseiro, sempre atrapalhando os outros." (Texto de Bruno Cava).

19 de dezembro de 2010


Quem está pagando o pato pelas Olimpíadas no Rio?


Moradora da Restinga, comunidade sendo despejada neste instante no Rio, foto de ontem

É o pobre.

Os governos federal, estadual e municipal asseguram fábulas em investimentos. A rede hoteleira e as grandes empreiteiras festejam. Os barões da mídia calculam cifrões bilionários em marketing e transmissão dos jogos. Seus âncoras e repórteres ensaiam poses ufanistas. Políticos cariocas correm para os holofotes com discursos empolados do progresso, da prosperidade, do gigante pela própria natureza no berço esplêndido da Guanabara. Festim do mercado imobiliário do Rio de Janeiro. Mas quem paga a conta?

Demolição da comunidade de Vila Harmonia, foto da madrugada de ontem pra hoje

Desde o anúncio da sede das Olimpíadas de 2016, dezenas de comunidades estão sendo objeto da mais injusta remoção pelo poder público. Uma política urbanística de remoções sistemáticas e estratégicas. Nenhum condomínio de luxo em área ecológica ou "sob risco geotécnico" encontra-se em processo de demolição. Só comunidade pobre. As desculpas variam: risco de desabamento, obras viárias, meio ambiente, "paisagismo" antifavela. Não importa. Em qualquer caso, nem se cogita de outras soluções de engenharia, como contenções de encostas, projetos alternativos, compensação ecológica, melhorias do "paisagismo" local. É hora de aproveitar a chance histórica e enfiar o "interesse público" no reto... de quem?

Do pobre.

A regulamentação exige laudos individualizados, indenização justa, aviso prévio, debate do projeto urbanístico com a comunidade, negociação de local alternativo para a mudança dos moradores. Mas a Prefeitura do Rio quase sempre não reúne os requisitos da lei. Chega com agentes truculentos, maquinário, e manda o sujeito ir pegar depois um cheque de valor irrisório, ou então ficar a ver navios. Os laudos são genéricos e abrangem enormes áreas e nunca esboçam alternativas de engenharia. As avaliações são subvalorizadas, não têm contemplado os pequenos comércios, e não levam em conta o valor afetivo, tão pessoalmente relevante, de quem mora há mais de 10, 20, 50 anos na mesma vizinhança. Também não considera a perspectiva (óbvia) de valorização do imóvel. Quem sai perdendo na aplicação do "interesse público"?

Faixa de protesto na comunidade de Vila Harmonia, foto de ontem 

Enquanto isso, o poder público acusa o pobre de tirar vantagem de morar em áreas irregulares. Quando é o rico que briga por justa indenização em desapropriações milionárias, exerce o seu direito contra as "garras do estado". O pobre, não, está querendo se dar bem: vira caso de polícia e termina em despejo e demolição. Código civil pro rico, penal pro pobre. Portas arrombadas de madrugada, casa abaixo sem choro nem vela nem fita amarela. Ódio aos pobres: o pobre é malandro, especulador, interesseiro, sempre atrapalhando os outros.

Adivinha de que partido é o titular da Secretaria Municipal de Habitação? É uma vergonha do Partido dos Trabalhadores do RJ, que aliás nem parece PT.


Haja fascismo à carioca para ensinar aos pobres a importância do "interesse público". Nem que seja na porrada!

Então, você vai assistir ao Brasiiiiiil na TV com a família no seu apartamento confortável, e quem estará morando mal a 30 km da casa onde sempre morou e que havia construído tijolo a tijolo?

Pois é... feliz Olimpíada pra nós!

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