janeiro 23, 2011

"Os Contos Morais de Éric Rohmer", por Éric Rohmer

PICICA: "De extração literária, os roteiros dos Contos Morais abordam encontros e desencontros, dilemas e ambiguidades, de personagens hesitantes, da classemédia média --- ordinária. O "Morais" não implica julgamento moral ou bom-mocismo, e remete à tradição dos moralistas franceses, de Montaigne a Camus, passando por Pascal e Stendhal. Isto é, a finos exames do ser humano, perscrutando por suas paixões, desejos e inseguranças. Os Contos Morais investigam a máxima pascalina: "o coração tem razões que a própria razão desconhece"."
Uma cena de meu conto moral predileto, com minha personagem predileta

22 de janeiro de 2011


Os Contos Morais de Éric Rohmer.



Crítica completa da sextologia, pelo QdL:


Antes de cineasta, Éric Rohmer (1920-2010) foi jornalista, escritor e cinéfilo. Admirador dos críticos André Bazin e Jacques Doniol-Valcroze, Rohmer escrevia na legendária revista Cadernos de Cinema, na década de 1950. Seu longa-metragem de estréia, O signo do leão, data de 1959, quando o diretor contava 39 anos. Era o mais velho dos jovens turcos, como eram chamados os diretores da nouvelle vague. Godard, Truffaut, Rivette e Chabrol, todos eles também debutaram com longas na virada dos 1950 para os 60.

Depois de O signo do leão, dirigiu a sextologia intitulada Contos Morais. Foram quatro longas e dois médias-metragens entre 1963 e 1972. Seis trabalhos de mise-en-scène, ou seja, concentrados numa poética autoral em que o diretor imprime seu estilo às obras. Rohmer assinou-os com um visualmente lacônico, em locações reais, com sonoplastia artesanal, ausência de trilha não-diegética, em longos planos médios, dramaturgia naturalista, e muito mas muito diálogo.

De extração literária, os roteiros dos Contos Morais abordam encontros e desencontros, dilemas e ambiguidades, de personagens hesitantes, da classemédia média --- ordinária. O "Morais" não implica julgamento moral ou bom-mocismo, e remete à tradição dos moralistas franceses, de Montaigne a Camus, passando por Pascal e Stendhal. Isto é, a finos exames do ser humano, perscrutando por suas paixões, desejos e inseguranças. Os Contos Morais investigam a máxima pascalina: "o coração tem razões que a própria razão desconhece".

Éric Rohmer não se preocupa em ser vanguarda. Não trilha a senda de radicalização brechtiana de Godard (A Chinesa, Week-End à Francesa), nem o laboratório dramático de Jacques Rivette (Out 1, que corre por mais de 12 horas). Tampouco se deixa contagiar pela vanguarda literária da época, o Novo Romance francês, que plasmava o cinema de Alain Resnais (O ano passado em Mariebad, Hiroshima mon amour).

Os Contos Morais se estruturam como um romance do século 19. Desdobra personagens bem delineados num enredo linear e unívoco. O protagonista homem burguês se coloca no centro da história, conquanto a verdadeira instância narrativa (fílmica) o acompanha a certa distância, entre a ironia e a condescendência. Como no romance novecentista, os filmes se recheiam de nuances psicológicas, sutilezas de personalidade, pequenos gestos e impudicícias. Mas a dinâmica dos personagens dos Contos Morais é sempre contida, sem dar azo para melodrama ou conflitos abertos.

O Quadrado dos loucos completou críticas para os seis filmes, além de um ensaio sobre a personagem-chave feminista Haydée (de A colecionadora), que irão integrar o dossiê Éric Rohmer em elaboração lado a lado com o blogue TUDO [é] Crítica, para o portal Cinefilia.NET

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