maio 27, 2011

"ABGLT: Fundamentalismo é retrocesso inaceitável para os Direitos Humanos", por Rachel Duarte

PICICA: "Apesar de entender que houve suspensão, e não cancelamento, do kit, a ABGLT considera que sua suspensão representa um retrocesso no combate a um problema – a discriminação e a violência homofóbica – que macula a imagem do Brasil internacionalmente no que tange ao respeito aos direitos humanos." Em tempo: Leia, também, sobre a reação da direita desde o anúncio da produção do kit anti-homofobia - material didático sobre a abordagem da homofobia nas instituições de ensino: "MEC prepara kit anti-homofobia e provoca reação (da extrema-direita)".A imagem abaixo foi postada no blogdocappacete.com.br

ABGLT: Fundamentalismo é retrocesso inaceitável para os Direitos Humanos

Rachel Duarte

A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT, por meio de suas 237 ONGs afiliadas, assim como a Articulação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA, a Articulação Brasileira de Lésbicas – ABL, o Grupo E-Jovem e demais militantes dos direitos humanos se manifestaram publicamente ainda na noite de ontem (25) sobre a decisão da presidenta Dilma Rousseff em suspender o kit educativo do projeto Escola Sem Homofobia. “A notícia foi recebida com perplexidade, consternação e indignação”, diz a nota emitida pela ABGLT.

Apesar de entender que houve suspensão, e não cancelamento, do kit, a ABGLT considera que sua suspensão representa um retrocesso no combate a um problema – a discriminação e a violência homofóbica – que macula a imagem do Brasil internacionalmente no que tange ao respeito aos direitos humanos.
“Este episódio infeliz traz à tona uma tendência maléfica crescente e preocupante na sociedade brasileira. O Decreto nº 119-A, de 17 de janeiro de 1890, estabeleceu a definitiva separação entre a Igreja e o Estado, tornando o Brasil um país laico e não confessional. Um princípio básico do estado republicano está sendo ameaçado pela chantagem praticada hoje contra o governo federal pela bancada religiosa fundamentalista e seus apoiadores no Congresso Nacional. O fundamentalismo de qualquer natureza, inclusive o religioso, é um fenômeno maligno atentatório aos princípios da democracia, um retrocesso inaceitável para os direitos humanos”, diz o texto.
Os ativistas contra a discriminação por opção sexual lamentaram a postura da presidenta, por considerarem a educação uma boa forma de combater o preconceito. E, defendem o kit educativo do projeto Escola Sem Homofobia, já que foi construído exaustivamente por especialistas, com constante acompanhamento do Ministério da Educação, e com base em dados científicos.
As razões da defesa do Kit

A pesquisa intitulada “Juventudes e Sexualidade”, realizada pela UNESCO e publicada em 2004, foi aplicada em 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras. Segundo resultados da pesquisa, 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um colega de classe homossexual, 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual, e 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da homossexualidade na sala de aula.

O estudo “Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas”, publicado em 2009 pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, baseada em uma amostra de 10 mil estudantes e 1.500 professores(as) do Distrito Federal, e apontou que 63,1% dos entrevistados alegaram já ter visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito; mais da metade dos/das professores(as)  afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais nas escolas; e 44,4% dos meninos e 15% das meninas afirmaram que não gostariam de ter colega homossexual na sala de aula.

A pesquisa “Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar” realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, e também publicada em 2009, baseou-se em uma amostra nacional de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores, professores e funcionários, e revelou que 87,3% dos entrevistados têm preconceito com relação à orientação sexual e identidade de gênero.
A Fundação Perseu Abramo publicou em 2009 a pesquisa “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerância e respeito às diferenças sexuais”, que indicou que 92% da população reconheceram que existe preconceito contra LGBT e que 28% reconheceram e declarou o próprio preconceito contra pessoas LGBT, percentual este cinco vezes maior que o preconceito contra negros e idosos, também identificado pela Fundação.
“Estas e outras pesquisas comprovam indubitavelmente que a discriminação homofóbica existe na sociedade é tem um forte reflexo nas escolas. Eis a razão e a justificativa da elaboração do kit educativo do projeto Escola Sem Homofobia”, diz a nota.

O conteúdo do Kit:
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Fonte: Sul21

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