junho 24, 2011

Meios de comunicação e Marcha da Liberdade, a marcha da Liberdade de Expressão

PICICA: É compreensível o entusiasmo que tomou conta da multidão que participou da Marcha da Liberdade em Manaus. Há tempos não acontecia em Manaus uma manifestação com tamanha espontaneidade, ainda que alguns movimentos sociais expressivos estivessem ausentes, menos por descompromisso do que por temor em enfrentar temas-tabus da sociedade atual. Não faltou coragem às novas gerações. O único senão ficou por conta de um episódio que reproduz o mesmo equívoco dos estudantes universitários que fecharam o trânsito numa manifestação em frente ao campus da Universidade Federal do Amazonas. Naquela ocasião, se as laterais da Av. Rodrigo Octávio fossem ocupadas pelos estudantes com bandeiras, acenos e distribuição de panfletos, os passageiros dos veículos tomariam conhecimento do conteúdo das reivindicações e aí, sim, abrir-se-ia (ui!) a oportunidade de ganhar a adesão da população à justa causa dos manifestantes. Vivendo e aprendendo. No mais, tudo transcorreu na paz. Com a Marcha da Liberdade, ganhou a liberdade de expressão, mesmo contra parte da mídia que quis folclorizá-la e reduzi-la a uma manifestação monotemática. Na manhã seguinte à marcha, um radialista ao ler o texto da matéria de um jornal local, por conta própria resolveu distorcer a informação tascando o aposto gracioso "marcha da maconha" à expressão Marcha da Liberdade. E ainda recomendou cinicamente ao filho não procurar saber do que a referida marcha tratava. Ora, senhor radialista, trata-se daquilo que o senhor mesmo usa, ainda que em proveito pessoal, e que nos é tão caro: a liberdade de expressão. Pena que os manifestantes não possuam um veículo de comunicação para o estabelecimento do contraditório, e ficam sujeitos a este tipo de banalização de um alto valor da vida republicana. Ora, aprendemos que toda insensatez verbal chafurda no mar da ignorância ou da má fé, ou de ambos. Por essa e por outras, é que lutamos por um novo marco regulatório dos meios de comunicação. Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós. Em tempo: Recomendo a leitura do texto publicado (abaixo) no site Tudo [é] crítica: "Algumas palavras sobre a #marcha da liberdade".
Enviado por  em 23/06/2011
A Marcha da Liberdade reuniu em Manaus os movimentos contra a homofobia, socioambiental, luta antimanicomial, cultura livre, afro-ameríndio, teatral e pela legalização da maconha. Tudo transcorreu na paz. Por duas ocasiões, fechou-se o trânsito na Av. Constantino Nery. Taí uma doença infantil do ativismo. Não é vista com simpatia pela população, impede que os ocupantes do transporte urbano tenha contato com os manifestantes. É uma estratégia que depõe contra a comunicação que se deseja estabelecer com o cidadão. Pior só a cobertura da mídia, tendenciosa e moralista, mal disfarçou o mal-estar com a manifestação alegre dos partidários da legalização da maconha. Exceção à cobertura do Diário do Amazonas.

***


O que queremos, de fato, é que as ideias voltem a ser perigosas. (escrito em um muro em Paris, 1968)


A marcha pela liberdade, que tomou as ruas de 40 cidades brasileiras, de Recife a Porto Alegre, no último sábado 18, é a manifestação mais clara da democracia das ruas, aquela que se enreda nas redes, nos contatos. Revoltas incendiárias começaram nas redes sociais no mundo árabe (Egito, Síria, Tunísia, Líbia), derrubaram regimes totalitários e opressores, se alastraram para a Europa, onde tomaram as ruas e as praças da Espanha, com o Movimento 15M. Resguardadas suas respectivas proporções, incentivaram a tomada das ruas no Brasil, país repleto das mais variadas culturas e etnologias, país da mestiçagem, das possibilidades antropológicas e antropofágicas, das periferias, da cultura do povo. O que se constituiu nas redes virtuais, agora ganhou as ruas, o espaço público-democrático comunicável.

#marchadaliberdade é, antes de tudo, e sobretudo, a marcha dos amores incompreendidos, das revoltas coletivas, dos poderes populacionais criando políticas próprias, movimentos horizontais, apartidários, independentes, livres. Lá estavam todas as crenças, independentemente de qual bandeira estavam tremulando: homossexuais, negros, brancos, estudantes, deficientes físicos/visuais, índios, músicos, blogueiros, jornalistas; marcha da maconha, das vagabundas, dos defensores dos direitos humanos, dos alunos da PUC/RS, pela Banda Larga popular, pelo software livre, por um Estado laico, pelo compartilhamento por uma imprensa verdadeira e não-sensacionalista.

Como a própria decisão do STF foi revogada, liberando a marcha da maconha, a #marchadaliberdade é um movimento que quer o debate público, não clausulas pétreas; quer ouvir todos os cantos lamuriosos e pensantes, quer democratizar a democracia. Com isso, é inevitável que a classe-média fascista apoie a repressão policial, pois deseja que ela, a Polícia (que deveria salvaguardar e proteger os direitos constitucionais do cidadão) limpe as ruas, que instaure um embranquecimento nos bairros da nobreza. Mas, diremos: as ruas estão tomadas por um poder incontrolável, ingovernável. Mas é necessário mais. É necessário que a “gente diferenciada” tome as ruas, que o jovem negro, reprimido, desça o morro – é essencial que essa manifestação contagie mais grupos, converse com mais pautas, explicite as diferenças e as necessidades de cada uma. É a mesma luta, diferentes.

As reinvindicações são várias, não centralizam um discurso homogêneo, não bradam por uma causa inútil como querem fazer crer os neoliberais, que exclamam contra a marcha, dizendo que ela não serve para nada, que existem coisas mais importantes para se realizar uma marcha, como educação, saúde. Quem participou sabe da dimensão e da importância. O discurso do qual muitos fazem uso para demonstrar posições contrárias a marcha gira em torno de uma falsa-questão. Para estes, também temos algumas coisas a dizer: a marcha não defende a unilateralidade dos pensamentos, tampouco das ideias e das indignações. A manifestação é dos indignados, todos eles, todos nós. Na próxima, leve sua indignação, ao invés de condenar a democracia das ruas. A #marchadaliberdade é heterogênea, é de todos os protestos, todos os reclames, todas as cores, todos os gritos afogados por anos de repressão intelectual. As redes sociais unificam e potencializam os movimentos, mas nossa arma é o poder do povo, um poder pacífico e indignado que se constitui efetivamente nas ruas. As páginas dos livros de História das gerações subsequentes não serão mais escritas pelos mesmos ditirambos dionisíacos.

Quem disse que a marcha não protesta por um melhor e mais eficiente sistema de saúde pública? Quem disse que a marcha não exige uma reforma no sistema educacional brasileiro? Quem disse que a marcha não reivindica por um transporte público mais abastado? A causa da manifestação não é essa que a grande mídia nos quer vender. A marcha não é monotemática, pois distribui ideias distintas, visões de mundo que se equivalem através do desejo pela mudança e com a força do coletivo. Pluralidade. Não raro, e ironicamente, os mesmos corações que repudiam a revolta são aqueles que, outrora, pediam certa urgência nessa nossa juventude contemporânea. O que acontece agora é só um começo, diremos.

Links inseridos no texto:

O Ingovernável: http://moysespintoneto.wordpress.com/2011/05/20/sobre-a-minha-geracao-e-a-politica/
Quadrado dos Loucos: http://www.quadradodosloucos.com.br/1558/marchas-revolta-e-geracao/
O Inferno de Dandi: http://dandi.blogspot.com/2011/05/eblog-abrindo-novas-fronteiras.html
O Descurvo: http://descurvo.blogspot.com/2011/06/breve-comentario-sobre-decisao-do-stf.html
Blog do Sakamoto: http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/06/18/a-marcha-e-o-churrasco-da-policia/
Movimento 89 de Junho: http://movimento89dejunho.wordpress.com/
Somos andando: http://somosandando.wordpress.com/2011/06/15/e-preciso-vontade-politica-para-que-a-banda-larga-seja-de-fato-um-direito/

Fonte: Tudo [é] crítica

Nenhum comentário: