outubro 11, 2011

Greve: repensar instrumentos e conteúdos, por Lúcio Carril

PICICA: Lúcio Carril, cientista social, filiado ao PT, e acima de tudo sangue bom, é o autor do texto abaixo, publicando na página dos militantes do Amazonas, no facebook. Para ele, não se pode fazer greve com "instrumentos e conteúdos de três séculos atrás". Concordo com o companheiro. Eu nem iria tão longe. Mesmo no tempo dos bolcheviques, os contéudos estavam adequados ao momento histórico. O mundo mudou, mas ainda tem sindicalista com práticas obsoletas.

Imagem postada em cartapotiguar.com.br

Quero compartilhar uma reflexão sobre greve. Inicialmente, quero deixar claro que sou a favor, reconhecendo seu potencial como instrumento de luta dos trabalhadores. Mas vejo a necessidade de repensar seu conteúdo. Não é mais possível admitir que a greve tenha na população seu alvo de pressão, enquanto o patrão, seja ele público ou privado, disputa a opinião pública com o trabalhador. Não é possível usar velhos conteúdos como se o mundo não tivesse mudado e os aparelhos ideológicos continuassem os mesmos. Temos, hoje, meios de comunicação sofisticadíssimos, que possibilitam disputas desiguais, pois eles, os meios de comunicão, continuam privados e a mídia pública não dispõe de mecanismos de massa eficazes. Os trabalhadores continuam fazendo greve como no início da era moderna e o pior de tudo é que escolhem como alvo o povo que precisa de seus serviços. Há enormes diferenças em parar uma fábrica e parar serviço público. Na fábrica, o operário pressiona o lucro. No serviço público, o governo. Ora, na segunda situação o governo se utiliza da opinião pública para pressionar o fim da greve e o movimento grevista dá uma ajudinha nessa estratégia. Quando os bancários fecham os bancos no fim do mês, impedindo os demais trabalhadores de receberem seus salários, se colocam frontalmente contra a população e não frontalmente contra o banqueiro. O cidadão não é atendido pelo banqueiro, mas pelo bancário, que nesse momento lhe impede o acesso ao serviço. Por que o bancário não abre o banco apenas para fazer pagamento? nessa hipótese o banqueiro não teria lucro e o serviço à população seria mantido. Sobre a atual greve dos correios. O prejuízo causado à população é atroz. Enquanto a categoria discute aumento salarial com a empresa, o cidadão e a cidadã ficam privados dos serviços. A quem os trabalhadores querem atingir: a empresa e ao governo? ou a população? ou conseguir sua finalidade de melhores condições de salários e de trabalho?. Penso que os sindicatos e os movimentos sociais devem fazer uma reflexão sobre os mecanismos de luta no mundo que vivemos. Usar instrumentos e conteúdos de três séculos atrás não é o melhor caminho para se conquistar melhores resultados. Ter a população e a solidariedade dos demais trabalhadores numa luta é fundamental para se alcançar vitória.



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