novembro 13, 2011

Caso Bianca Abinader x CBN Manaus: um Raio-X das relações de poder e um certo mundo da informação, segundo Luis Nassif


PICICA: No país em que os monopólios e os oligopólios da comunicação reinam soberanos, sem que o Estado e a sociedade possuam instrumentos para contê-los, foi preciso a compressão do espaço/tempo do mundo contemporâneo para que o poder informacional sofresse um importante deslocamento com o advento de modernas tecnologias informacionais, entre elas a internet. É bem verdade que ainda estamos longe da democratização desse espaço. É visível a  reorganização dos referidos monopólios e oligopólios, face à retração da capacidade de representar um mundo de novos interesses e discursos. Neste mundo encurtado por satélites, fibras óticas, TVs a cabo, a grande mídia, escorada na força do capital, reforçou seus aparelhos privados de hegemonia. Com isso ela continua traduzindo interesses privados em públicos, intermediando-os, a começar pelos seus proprios. O caso da rede CNN é emblemático. Uma rede de radiodifusão se espalhou pelo país em nome dos interesses do monopólio da Rede Globo de Comunicações. No Amazonas, seu preposto deu um colorido paroquiano, dando guarida para o coronelismo político, segundo demonstra numa série de artigos postados na rede mundial de computadores por Luis Nassif, um dos mais respeitados jornalistas brasileiros, achincalhado num recente programa matutino da emissora em Manaus, como “aquele jornalista que recebe uma ponta da Fiesp para falar mal da Zona Franca”. Tudo porque Nassif, que inaugurou o primeiro portal interativo, deu abrigo a uma cidadã amazonense, sobre quem a mídia ignorou a obscena perseguição de que foi vítima pela referida emissora. O destempero verbal do proprietário da CBN local, atingindo a honra do jornalista Luís Nassif, deu-se por conta da rumorosa imposição de um castigo público que foi transformado em notícia, depois de suprimida a conexão entre as relações de poder e os interesses mercantis.  A médica Bianca Abinader, durante quase dois anos não apenas sofreu assédio moral, como a espetacularização radiofônica omitiu a relação com a mercantilização da notícia. Envolta na mais deslavada teatralidade, o ouvinte foi literalmente manipulado por meias informações que subtraíram o fato de que Bianca Abinader compunha um grupo de cidadãos que antecipou em dois anos a primavera amazonense ao enfrentar o autoritarismo do poder público local. O que você vai ler abaixo é um Raio-X das relações entre o poder e o mundo da informação, onde impera a promiscuidade de interesses nada republicanos. Uma lição que seria impossível socializar sem o advento da internet, instrumento precioso da democracia radical que queremos, sem monopólios, nem oligopólios, que expresse a pluralidade das vozes que compõem a sociedade civil e política brasileira. Esta postagem é dedicada à minha colega Bianca Abinader, com admiração pela lição de cidadania que ela nos dá nesses tempos que reclamam transparência na construção do público, liberdade de expressão na constituição dos novos meios de comunicação, e de novas formas de existência e exercício da cidadania. Em 1987, quando fiz um greve de fome no hospício da cidade - que encerrará as atividades no ano que vem -, o caso foi discutido na faculdade de direito da universidade federal. Com a proliferação de faculdades privadas suponho que o caso de Bianca, pela sua importância do ponto de vista do direito, também está sendo discutido. Com a análise impecável de Luis Nassif, o texto poderia ser adotado em outros cursos, pelo seu conteúdo informativo. Boa leitura.

A Primavera de Manaus


Primavera de Manaus - 1: tuiteiros vs coronéis da selva


Primavera de Manaus 2: a fonte do poder dos coronéis regionais


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