fevereiro 14, 2012

"Escala F" (de Fascismo), por Wladimir Safatle (Conversa Afiada)


    PICICA: "(...)o bom governo é aquele capaz de reconhecer a existência de um potencial autoritário nas sociedades de democracia liberal e a necessidade de não se deixar aprisionar por tal potencial."
Saiu na Folha (*) excelente artigo de Vladimir Safatle sobre a “Escala F”, de Fascismo e apesquisa do Datafalha que mostrou como tucanos e petistas de São Paulo aprovaram – com incontido entusiasmo ! – o Massacre da Cracolândia.

(A aprovação ao Massacre de Pinheiro deve ser ainda maior.) 

Trata-se de leitura indispensável, especialmente num Estado que se considera vencedor da Guerra da Secessão de 1932 e há 17 anos se deixa governar por políticos que se especializam em vender o patrimônio público (Ciro Gomes explicou o papel do  Padim Pade Cerra na venda de São Paulo) e assegurar “reintegração de posse”.

Essa é uma especialidade dos tucanos de São Paulo.

É assim com a Cutrale, Naji Nahas, o ramo imobiliário de Pinheirinho e da Cracolândia: duco, non ducor.

Diz Safatle (que não deve durar muito na Folha (*). Já, já o Cerra pede a cabeça dele):

Escala F


Na década de 50, o filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969) uniu-se a um grupo de psicólogos sociais norte-americanos para desenvolver um estudo pioneiro sobre o potencial autoritário inerente a sociedades de democracia liberal, como os Estados Unidos.


O resultado foi, entre outras coisas, um conjunto de testes que permitiam produzir uma escala (conhecida como Escala F, de “fascismo”) que visava medir as tendências autoritárias da personalidade individual.


Por mais que certas questões de método possam atualmente ser revistas, o projeto do qual Adorno fazia parte tinha o mérito de mostrar como vários traços do indivíduo liberal tinham profundo potencial autoritário.


O que explicava porque tais sociedades entravam periodicamente em ondas de histeria coletiva xenófoba, securitária e em perseguições contra minorias.


O que Adorno percebeu na sociedade norte-americana vale também para o Brasil. Na semana passada, esta Folha divulgou pesquisa mostrando como a grande maioria dos entrevistados apoia ações truculentas como a internação forçada para dependentes de drogas e intervenções policiais espetaculares como as que vimos na cracolândia.


Se houvesse pesquisa sobre o acolhimento de imigrantes haitianos e sobre a posição da população em relação à ditadura militar, certamente veríamos alguns resultados vergonhosos.

Tais pesquisas demonstram como a idealização da força é uma fantasia fundamental que parece guiar populações marcadas por uma cultura contínua do medo.


É preferível acreditar que há uma força capaz de “colocar tudo em ordem”, mesmo que por meio da violência cega, do que admitir que a vida social não comporta paraísos de condomínio fechado.


Sobre qual atitude tomar diante de tais dados, talvez valha a pena lembrar de uma posição do antigo presidente francês François Mitterrand (1916-1996).


Quando foi eleito pela primeira vez, em 1981, Mitterrand prometera abolir a pena de morte na França. Todas as pesquisas de opinião demonstravam, no entanto, que a grande maioria dos franceses era contrária à abolição.


Mitterrand ignorou as pesquisas. Como se dissesse que, muitas vezes, o governo deve levar a sociedade a ir lá aonde ela não quer ir, lá aonde ela ainda não é capaz de ir. Hoje, a pena de morte é rejeitada pela maioria absoluta da população francesa.


Tal exemplo demonstra como o bom governo é aquele capaz de reconhecer a existência de um potencial autoritário nas sociedades de democracia liberal e a necessidade de não se deixar aprisionar por tal potencial.


VLADIMIR SAFATLE


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