abril 30, 2012

"Dilma: quando o consenso pisa na fantasia", por Bruno Cava

PICICA: "Os dilmistas admitem que nem tudo é perfeito. Mas mantêm uma crença granítica que o projeto de Brasil, no cômputo geral, é esse mesmo. Não há alternativa mais à esquerda. Megabarragens, mega-aeroportos, megaeventos, megainvenstimentos, enfim, megacoisas têm de ser feitas para a gente chegar lá. A incontinência quantitativa recheia as mensagens políticas, cada vez mais publicitárias. Dilma aparece como a pessoa capaz de fazer, decidida a fazer, e que faz. Os dilmistas confiam quase cegamente no juízo da presidenta. Se ela erra, é porque estaria mal assessorada, porque teria sido enganada por conselheiros mal-intencionados, por jornalistas mentirosos. A esquerda brasileira tem coração eslavo. Acredita na bondade última do czar*. Como duvidar do compromisso ideológico de alguém com a trajetória da presidenta? A convicção redime automaticamente qualquer ato da liderança e justifica a militância acrítica, convertendo todos os problemas numa primária aritmética de correlação de forças.
 
Dilma: quando o consenso pisa na fantasia


Poucas vezes um governo reuniu tamanho consenso ao redor de si. O governo Dilma surfa no otimismo nacional. Incensada pela grande mídia, paparicada por chefes de estado, premiada, admirada, a presidenta está com a bola toda. Seu modo de governar enfatiza a eficiência, a ordem, a capacidade gestora, a intolerância diante da corrupção, da leniência, do atraso, do mau funcionalismo. Dilma é daquelas pessoas que olha para a frente e anda em linha reta. A única fantasia digna da responsabilidade que assumiu é a casaca de general. A passo firme, sabe pra onde vai e ai de quem se colocar em seu caminho. Não tem muita elucubração de intelectual, é hora de realpolitik: o Brasil tem de continuar crescendo, ocupar a cadeira no rol de grandes nações, distribuir renda, incluir todos em seu projeto social e econômico.  Além (ou aquém) do governo Lula, Dilma foi abraçada pela velha classe média, se rodeou ainda mais de um peemedebismo por assim dizer “sociológico”, e não mexeu com as bases políticas estruturadas pelas igrejas evangélicas, — tudo isso em detrimento da relação com os movimentos sociais e das lutas concretas. Os 64% de ótimo-bom chancelam a combinação de sucesso, confirmada matematicamente também pelos indicadores do IBGE, IPEA e BC.

Os dilmistas admitem que nem tudo é perfeito. Mas mantêm uma crença granítica que o projeto de Brasil, no cômputo geral, é esse mesmo. Não há alternativa mais à esquerda. Megabarragens, mega-aeroportos, megaeventos, megainvenstimentos, enfim, megacoisas têm de ser feitas para a gente chegar lá. A incontinência quantitativa recheia as mensagens políticas, cada vez mais publicitárias. Dilma aparece como a pessoa capaz de fazer, decidida a fazer, e que faz. Os dilmistas confiam quase cegamente no juízo da presidenta. Se ela erra, é porque estaria mal assessorada, porque teria sido enganada por conselheiros mal-intencionados, por jornalistas mentirosos. A esquerda brasileira tem coração eslavo. Acredita na bondade última do czar*. Como duvidar do compromisso ideológico de alguém com a trajetória da presidenta? A convicção redime automaticamente qualquer ato da liderança e justifica a militância acrítica, convertendo todos os problemas numa primária aritmética de correlação de forças.

No caso do Ministério da Cultura, por exemplo, vários ativistas insistem em despender esforços para entender o que se passa na cabeça de Dilma; como convencê-la, por dentro do governo, do erro que é Ana de Hollanda; como mostrar por A + B dos despropósitos dessa gestão diante das realizações de outrora, no governo Lula. Ora, passados um ano e quatro meses tentando “derrubar a ministra”, — sob o assentimento quase paternal da grande imprensa, — será que esses ativistas não conseguem perceber que se trata de um subproduto da política do governo e do desenvolvimentismo dilmista, e não uma falha contingente? Analisar intenções neutraliza a capacidade de análise. A rigor, examinar o foro íntimo, a esfera de convicções e intenções de uma pessoa, é tão inútil quanto tentar descobrir o que se passa na cabeça de um caranguejo.

É, no mínimo, paradoxal. Com a crise, os governos da Europa e Estados Unidos têm por pesadelo virar algo como o Terceiro Mundo. O grande medo incutido nas populações estaria na alta civilização ocidental “regredir” à condição de sociedade favelizada, violenta e extremamente desigual. Esse medo preenche o tecido social de pulsões xenófobas e racistas, chocando mais uma vez o ovo da serpente. Mas até filósofos mais radicais derrapam ao equiparar brasilianização com favelização. A esquerda européia, com raras exceções, simplesmente não enxerga a potência gerada na América Sul, com seu devir de raças e sua antropofagia, principalmente na década passada. Foi necessária uma mobilização geracional muito além da Esquerda para que a Praça Tahrir, a mais árabe das revoluções, pudesse chegar a Madri, Londres e Nova Iorque. O devir-sul do mundo contagia e acaba se afirmando, apesar das barreiras, desdéns e miopias de partidos e grupos organizados da esquerda. Por outro lado, igualmente míope e desdenhoso, o governo Dilma se limita a pretender ser como o Primeiro Mundo. O projeto de Brasil é chegar lá, no futuro primeiromundista, no exato momento histórico em que esses regimes capitalistas fracassam a olhos vivos. Como se o planejamento de Brasil e brasileiro, — um projeto econômico e antropológico, — estivesse orientado à Europa e ao europeu de cinquenta anos atrás, desconsiderando toda a dinâmica da crise global. Enquanto surgem novos processos e subjetividades, novas bases materiais para ousar o máximo existencial, o modelo dilmista reproduz a mesma lógica economista e desenvolvimentista, uma racionalidade que já é passado. O norte não quer ser o sul e o sul quer ser o norte, enquanto todo o problema talvez esteja exatamente em querer ser como o norte.

O mal do consenso costuma ser a falta de imaginação.
———————–
* Devo o insight ao amigo Hugo Albuquerque, do Descurvo, que passou um agradável fim-de-semana no Rio, entre noites de boemia e longos papos eslavófilos. O Hugo é um blogueiro franzino, mas tem uma Rússia dentro de si.

Fonte: Quadrado dos Loucos

Pasolini, televisão e poder / De como produzir vídeos-de-urgência é coisa de doido, de quem está fora-do-eixo.


PICICA: Não raro, tudo que não presta é contabilizado como coisa de doido. Até o Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) dizia, lá na década de 60, que televisão é uma máquina de fazer doido. Descontado o caráter polissémico da palavra, vou, humildemente, discordar daquele mestre do humor. A TV está mais para fábrica de fazer imbecis do que fazer doidos. Sua capacidade de deformar a comunicação é tanto pior quanto menor for a taxa de informação. O caso do Mensalão é exemplar. Certamente houve um crime que deve ser apurado. Chama-se Caixa 2, crime que sustenta campanhas políticas bilionárias. O que se subtrai desse crime é o fato de que somos governados a partir de interesses privados. Grandes empresas mandam e desmandam no país. E reforma política que é bom... neca de pitibiriba. Ademais, já não é de se perguntar sobre a que conjunto de interesses servem alguns conteúdos específicos de informação hegemonicamente impostos de cima para baixo, mas em que marco e como elas são produzidas. Na esteira da crise da esfera pública burguesa, os mass-media capturaram o ethos moderno de organização social, ávida por novidades. No caso da televisão, temos uma enxurrada de programas que invadem o campo existencial do espectador produzindo espaços e tempos simulados. Aqui a porca torce o rabo. É aí que as mediações simbólicas do olhar dão lugar a místicas liberatórias, mediante a satisfação alucinatória dos desejos. Como afirma o professor Muniz Sodré, ao invés da libertação política a liberação psicológica... falsa, acrescento eu. Daí, quem sabe, a alusão à doidice-nossa-de-cada, segundo Sérgio Porto. Não é à toa que a indústria passou a organizar a "doidice" das massas mediante uma alteração na matriz da comunicação e da informação, onde tudo virou um espetáculo. O "cultural" passou a ser o instrumento operador dos fluxos sociais. Quebrar esse monopólio é uma tarefa pra quem está "fora do eixo", disposto a combater padrões reacionários e conformistas da realidade atual. Quando, em 1989, realizei o vídeo Balbina no País da Impunidade - um vídeo de emergência para fazer contraponto à mídia publicitária do governo federal e à mídia movida a interesses comerciais), e que serviu à luta contra barragens na Amazônia - eu 'tava fora-do-eixo há muito tempo. Convenhamos, fazer um vídeo naquelas circunstâncias - em que a imbecilidade não era menor que a de hoje - só sendo muito doido. Me orgulho dessa doidice. Doidice compartilhada. Nunca estive sozinho, graças-(a)deus.

12 de Maio: Queremos informação livre


abril 29, 2012

Movimento Brasil Pelas Florestas apoia o VETATUDODILMA

Publicado em 26/04/2012 por
Video do Movimento Brasil Pelas Florestas para pressionarmos pelo VETA DILMA, o veto ao novo Código (anti) Florestal dos ruralistas retrógrados. Apoio: Matilha Cultural.
http://brasilpelasflorestas.com

PICICA: Dilma vetará o novo Código (Anti) Florestal? E sua promessa de campanha, ela honrará?

Lewandowski recusa-se a receber ampulheta do Mensalão

Lewandowski recusa-se a receber ampulheta do Mensalão

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, recusou-se ontem (25/4) a receber representantes do movimento Queremos Ética na Política e da Transparência Brasil, que lhe entregariam ampulheta para simbolizar a presteza que se espera do tribunal quanto ao julgamento do processo do Mensalão (Ação Penal nº 470).

Lewandowski, que é revisor do processo relatado por seu colega Joaquim Barbosa, havia não apenas agendado com bastante antecedência a audiência durante a qual se faria a entrega da ampulheta, como uma semana antes, em conversa com o diretor executivo da Transparência Brasil, tratou da audiência com naturalidade, não dando indicação de que a cancelaria.

A “Missão Ampulheta” resultou de iniciativa que se alastrou por redes sociais no sentido de manifestar preocupação em relação &agrav e; possibilidade de protelação do julgamento do caso do Mensalão.

Durante a audiência que Lewandowski deixou de cumprir, além da ampulheta ele receberia o texto de uma petição pública com milhares de assinaturas.

Ao recusar-se a cumprir o compromisso que havia agendado, Lewandowski só alimenta ainda mais as preocupações que originaram a ideia.

Transparência Brasil.

"Sobre Quotas e o STF", por Hugo Albuquerque

PICICA: "A um primeiro olhar, aquilo que se constitui em uma derrota do DEM, somado a uma simultânea vitória do movimento negro, só pode se tratar de uma boa nova, mas, para variar, o buraco é mais embaixo. Vemos aqui, o velho problema do agigantamento gradual do STF como espaço de captura do debate político."

Sobre Quotas e o STF 

Plenário do STF durante o julgamento
A notícia do momento trata do fato de que o STF decidiu, por unanimidade, que as quotas raciais são constitucionais ao julgar ação movida pelo Democratas contra o referido mecanismo de inclusão  -  o que, provavelmente, já deve ser a quinta  morte do referido partido, se contarmos a queda de José Roberto Arruda do governo do Distrito Federal, a hecatombe eleitoral sofrida nas eleições de 2010, o racha que deu origem ao PSD e a implosão de Demóstenes Torres no escândalo Cachoeira.

A um primeiro olhar, aquilo que se constitui em uma derrota do DEM, somado a uma simultânea vitória do movimento negro, só pode se tratar de uma boa nova, mas, para variar, o buraco é mais embaixo. Vemos aqui, o velho problema do agigantamento gradual do STF como espaço de captura do debate político.

Para muito além do aumento da importância daquele tribunal em virtude da Emenda nº 45 de 2004, existe uma tendência à neutralização, até mesmo, das arenas de mediação política do próprio Estado para a redução da luta ao meramente judicial - a retirada dos embates do campo da disposição, ainda que mediada, para a sua reinscrição na linguagem da dívida infinita. 

O governo não compra brigas, não entra em polêmicas, apenas defende certas posições via AGU - junto com sua capacidade ímpar de fazer lobby junto aos ministros - e resolve as questões por meio máquina transcendente do STF. A oposição não confronta diretamente nada, mas apela para a transcendência da lei: uma confrontação que, no campo da política, jamais seria inciada pela inevitável pecha de racismo, acaba mascarada pelo aparato legal.

O que parece uma astúcia interesantíssima do atual governo, dadas as suas posições razoáveis no campo social e dos direitos civis, é, na verdade, uma redução que se envereda por um caminho perigoso: as decisões do STF variam entre o óbvio e o descalabro, mas elas estão disfarçadas pela névoa neutra da lei  (isto é, o pendulo que varia entre o poder de veto dos sábios até a benevolência da outorga). 

A Constituição, enunciada como uma divindade pelos ministros-oráculos, poderia dizer que os negros continuariam apartados da Universidade, mas também poderia, como o fez, tomar a voz dos excluídos e fazer uma luta ganha pelos próprios quotistas - que desmistificaram toda sorte de argumentos contra si nos últimos anos - passar a ser sua: o STF ratificou as quotas e só isso importa.

Na prática, a verdade histórica produzida pelos quotistas negros e pelos quotistas do Prouni, enquadrados por critério social - em que pese a consideração étnica em enquadramento subsidiário - é que eles próprios constituiram a desmistificação da névoa ideológica usada contra si e por isso forçaram o sistema, por meio dessa ratificação, a absorver-lhes na tentativa de lhes capturar pela impossibilidade de uma exclusão estanque determinada pela sua própria resistência.
Essa absorção é estratégia de sobrevivência da Ordem, mas gera um risco dentro de si, ao seu funcionamento interno, com o qual ela será obrigada a conviver de agora em diante. No mais, ainda resta o bônus que o presente processo ajudou a levar consigo o que há de mais ofensivo em termos de partido grande brasileiro.
 
Fonte: O Descurvo

"Colômbia: da arte de vender um país", por Eric Nepomuceno



PICICA: "(...)a Colômbia é também um dos países de maiores e mais gritantes diferenças sociais neste continente de injustiças. A dívida social do Estado diante dos cidadãos tem dimensões de escândalo." 


Colômbia: da arte de vender um país

Apesar de ser o aliado mais leal e servil aos interesses dos Estados Unidos na América do Sul, a Colômbia carece – e muito – de recursos. Agora, ele trata de atrair mais dinheiro da Espanha, que já é o terceiro maior investidor estrangeiro no país. Em um fórum de investimentos e cooperação empresarial Espanha-Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos deu uma estocada na Argentina e disse: "Se for bom para os empresários, será bom para nós. Aqui, nós não expropriamos". O artigo é de Eric Nepomuceno, direto de Bogotá.

Bogotá - Certas mulheres costumam aparecer ao cair da noite em determinadas esquinas e começar a rodar sua bolsinha oferecendo-se ao melhor pagante, sem se importar muito com aquilo a que terá de submeter-se. Certos presidentes costumam aparecer a qualquer hora do dia em determinadas reuniões e começar a rodar sua bolsinha oferecendo ao melhor pagante não o próprio corpo, mas o próprio país, sem se preocupar com a submissão que for. É o que anda fazendo Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, sem o menor vislumbre de pudor.


É evidente que qualquer país, ainda mais nos dias de hoje, precisa atrair investimentos e estabelecer leques cada vez mais amplos em suas relações comerciais com o resto do mundo. É natural que haja esforço e até mesmo disputa quando se trata de atrair capitais destinados a investimentos produtivos.


Mas como em tudo nesta vida, é preciso agir com um mínimo de dignidade, exigir um mínimo de respeito, impor limites e observar regras mínimas de convivência – mesmo quando se trata de competir por um mesmo objetivo, que neste caso especifico se resume numa só palavra: dinheiro. Ou seja, investidores de qualquer latitude.


Agora mesmo Juan Manuel Santos deu um verdadeiro espetáculo da não tão nobre arte de vender um país a qualquer preço. Dia desses foi realizado em Bogotá o fórum de investimentos e cooperação empresarial Espanha-Colômbia. Anote-se: embora realizado na capital colombiana, não foi um fórum Colômbia-Espanha, porque, também nesse caso, a ordem dos fatores alteraria o produto.


Neste raro momento da história contemporânea sul-americana em que a maioria dos países da região busca linhas de ação conjuntas, entendendo que desunidos somos presa fácil da avidez dos grandes centros econômicos, uns poucos governos – e o colombiano é exemplo cabal disso – preferem atuar por conta própria.


Em Bogotá, o presidente anfitrião lascou, de saída, uma peculiar frase de boas-vindas ao chefe de governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy: “Aqui, nós não expropriamos”. Uma piscadela despudorada à Espanha, país submergido numa crise de proporções dramáticas, e uma alusão deselegante, provocadora e desnecessária à decisão da Argentina de re-estatizar a petroleira YPF, controlada até agora pela espanhola Repsol.


Bastante razão tem Juan Manuel Santos para procurar investimentos externos. Apesar de ser o aliado mais leal e servil aos interesses dos Estados Unidos na América do Sul, a Colômbia carece – e muito – de recursos. Agora, ele trata de atrair mais dinheiro da Espanha, que já é o terceiro maior investidor estrangeiro no país.


“Se for bom para os empresários, será bom para nós”, disse Juan Manuel Santos. Não explicou quem seria esse “nós”. Disse que só pede “responsabilidade ambiental e social”. Não explicou como se daria essa responsabilidade. Mas afirmou que a troco oferece “regras de jogo estáveis, segurança jurídica”. São expressões que aos ouvidos empresariais têm o som de Brahms ou Beethoven.


O Banco Mundial diz que, na América Latina, a Colômbia ocupa o primeiro lugar na proteção aos investidores estrangeiros. No mundo todo, ocupa o quinto lugar.


As taxas de crescimento da economia são firmes e elevadas, na média de 4% anuais ao longo dos seis últimos anos, com marca impressionante em 2011: expansão de 6% no PIB, de 43% nas exportações e de 59% no volume de investimentos estrangeiros.


Mas a Colômbia é também um dos países de maiores e mais gritantes diferenças sociais neste continente de injustiças. A dívida social do Estado diante dos cidadãos tem dimensões de escândalo.


O presidente colombiano faz questão de dizer que cumpre todos os deveres de casa e não comete rebeldias como as da Argentina (onde, aliás, a pobreza extrema foi reduzida a 6% da população, menos de um terço da registrada na Colômbia). Reiterou que seu país vive aquilo que classificou de “processo espetacular de transformação econômica”. Anunciou a existência de um plano de desenvolvimento para dez anos, com ênfase em projetos de infra-estrutura.


Também disse que o país sofre enormes carências que significam, ao mesmo tempo, excelentes oportunidades para empresas estrangeiras. A troco dos recursos necessários – e que se situam na casa dos cem bilhões de dólares – seu governo jura fidelidade irrestrita aos sócios estrangeiros.


Diz, com relação ao Mercosul, que ‘essa idéia de acordos em bloco são coisas fora de moda’. Para o seu governo, a ordem é cada um por si e ninguém por todos. Para ele, bom mesmo é acatar a velha ordem estabelecida: Quem paga, manda.


A América Latina cresce e cresce, e continua sendo um dos continentes mais desiguais do planeta. Nesse quadro de grandes distâncias sociais, as da Colômbia são cada vez mais nítidas. Não é por acaso que, em seus esforços para vender o país, Juan Manuel Santos mencione de passagem a necessidade de combater essa desigualdade. De passagem e apenas roçando a superfície, sem aprofundar nada.


Ele foi ministro de Comercio Exterior no governo liberal de César Gaviria, foi ministro da Fazenda no governo conservador de Andrés Pastrana, foi ministro de Defesa no governo liberal de Álvaro Uribe. Transitar com essa leveza entre dois partidos tão radicalmente enfrentados como o Liberal e o Conservador pode ser entendido como dedicação às grandes causas nacionais, acima das diferenças partidárias. E também pode ser entendido como artimanhas de um trânsfuga sem escrúpulos.


Enfim, que fique bem claro: em seus pronunciamentos aos empresários, Juan Manuel Santos não fez uma única menção a programas de combate à desigualdade que assola seu país. Disse e redisse aos espanhóis: “Aqui, não expropriamos nada”.


Não perguntou nada nem disse nada aos milhões de colombianos expropriados de seu próprio país. Aos que tiveram e têm sua esperança expropriada.

Fonte: Carta Maior

Diplô e Outras Palavras: Por que o Brasil precisa das cotas; Pataxós-Hã-Hã-Hãe: breve crônica de uma injustiça; CPI & Mídia: do "abafa" aos novos truques; São Paulo, militarização e autoritarismo


bibliotecadiplô e OUTRASPALAVRAS


Boletim de atualização de Outras Palavras e Biblioteca Diplô - Nº 167 - 27/4/2012


Noam Chomsky escreve – e fala – sobre o Occupy
Entrevistado ao lançar novo livro, ele debate perspectivas do movimento, Primavera Árabe, crise da democracia, internet e como os EUA produziram seu próprio declínio.
Entrevista a Joshua Holland, do Alternet

Por que o Brasil precisa das cotas
Políticas anti-discriminatórias vão muito além de reparar injustiças. Libertam país de laços que nos prendem a segregação, violência e privilégios. Por Luiz Felipe de Alencastro

Desenvolvimentismo inglês, muito antes de Keynes

José Luís Fiori escreve: a partir do século XVII, protecionismo, sistema financeiro muito avançado e expansão militar fizeram da Inglaterra primeira grande potência capitalista 


Festa num país dividido

Comemoração da Revolução dos Cravos, em Portugal, escancarou o descompasso entre discurso oficial e sentimento popular: tensão está no ar. Por Antonio Barbosa Filho, correspondente na Europa


O monitor
Embora muitas as músicas, a sensação melódica era uma só. Talvez o tema fosse também um único: erguer-se à santidade. Por Theotonio de Paiva


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PONTO DE CULTURA
Os primeiros textos da Escola Livre de Comunicação Compartilhada

Pataxós-Hã-Hã-Hãe: breve crônica de uma injustiça
Cabe ao Judiciário uma resolução imediata e definitiva do conflito de terras envolvendo os indígenas do sul da Bahia. Por Carlos José Ferreira dos Santos

Que carro você tem?
Carros particulares já ocupam 25% do espaço urbano de SP. Um colapso é previsível e bastante provável – o que exige mudar mentalidades, assim como fizemos com o cigarro. Por Maristela Bleggi Tomasini

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OUTRAS MÍDIAS 
Uma seleção de bons textos publicados na blogosfera brasileira



Desinteresse dos jovens por carros preocupa montadora
Novas pesquisas revelam: geração entre 18 e 24 anos já não se encanta com mercadoria-símbolo do capitalismo – e valoriza, em contrapartida, justiça social, ambiente, compartilhamento e comunicação horizontal.
Por Maria Fernanda Cavalcanti
 
Relatório expõe fraudes do ECAD
CPI sobre órgão que deveria distribuir direitos autorais encerra trabalhos, constata série de irregularidades e pede criação de órgão público para proteger criadores.
Por Beatriz Mendes, na Carta Capital
 
CPI & Mídia: do “abafa” aos novos truques
Tentativa de evitar investigações naufragou. Mas surgiram outros artifícios para tentar esconder envolvimento de políticos conservadores e sua revista predileta com o crime.
Por Maurício Caleiro, no Cinema & Outras Artes

São Paulo, militarização e autoritarismo
Excluir os camelôs, abrir novos territórios para especulação imobiliária e legitimar violência da polícia: aos poucos, ficam claros os motivos da vasta presença de coronéis na prefeitura paulistana.
Por Daniel Hirata, no Diplô Brasil

Revista de História: Para inglês ver; Salve, choro; Reencontro com o passado; De Minas para a Web; Navegar é preciso; Revolução dos Cravos

 
Boletim eletrônico da Revista de História da Biblioteca Nacional

Para inglês ver

Documentos desclassificados pelo Itamaraty apimentam discussão sobre apoio do Brasil à Argentina na Guerra das Malvinas, em 1982. Postura oficial de neutralidade já era contestada naquele tempo [Leia mais]

Salve, choro

23 de abril foi dia de festa no Rio de Janeiro. Além de homenagear São Jorge, os cariocas comemoraram o aniversário de Pixinguinha e do gênero que ele consagrou: o choro. [Leia mais]

Reencontro com o passado

Em entrevista à RHBN, Esther Bertoletti, ex-coordenadora do Projeto Resgate, conta um pouco da trajetória da iniciativa que deve recuperar até o fim do ano mais de 5 milhões de páginas documentos históricos [Leia mais]

De Minas para a web

Museu da Inconfidência agora pode ser visitado pela internet. Espaço cultural é o mais novo investimento do projeto Era Virtual. [Leia mais]

Os reis do beijo

Uma revolta separatista digna de primeiro de abril, a fundação da Casa de Rui Barbosa e até o fim de uma tradição beijoqueira foram alguns dos acontecimentos que marcaram este mês em tempos passados [Leia mais]

Em tempo

Está terminando o prazo de inscrição para o Encontro Estadual de História (RS) e Prêmio Funarte de Arte Contemporânea. Cadastros de projetos deve ser feito na web. [Leia mais]

Navegar é preciso

Depois de passar por restauro, canoa mais antiga do Baixo São Francisco é tombada e ganha prêmio do Iphan. [Leia mais]

Revolução dos Cravos

Em contradição com sua própria linha política, o regime militar brasileiro apoiou, em 1974, a Revolução dos Cravos, em Portugal, que acabava com um período de ditadura [Leia mais]

Loja virtual

Na Loja virtual da Revista de História, você pode assinar a revista por um ou dois anos, além de comprar exemplares da revista História da Ciência, assim como a coleção História no Bolso. [Confira]

abril 28, 2012

ABORTO: "A cobertura de um julgamento histórico" (Observatório da Imprensa)


PICICA: "O Estado de direito é imperiosamente laico e a imprensa, se pretende apresentar-se como democrática, deve ser o sustentáculo deste laicismo."




DECISÃO STF SOBRE ABORTO

A cobertura de um julgamento histórico

Alberto Dines | Programa nº 636 | 24/04/2012 | 0 comentários


Para que os fatos cheguem à sociedade não basta apenas a cobertura da mídia, importante é que esta cobertura produza uma percepção correta do acontecido. Significa que, além do destaque e volume de notícias, o leitor precisa ser abastecido com avaliações a fim de que possa montar os seus juízos e tomar as suas decisões.

O resultado da votação do STF que deu às gestantes o direito de abortar em caso de anencefalia do feto foi amplamente noticiado na semana passada. Os jornalões comemoraram a “decisão histórica” de oito votos contra dois, autêntica goleada. Mas não se preocuparam em explicar por que era histórica.

Ora, em 1988 os constituintes já haviam admitido o aborto em caso de estupro e quando a gestante corre risco de vida. O caso da anencefalia segue a mesma lógica e o mesmo princípio de interrupção da gravidez não desejada. A votação ganhou dimensão histórica por tratar-se de decisão judicial irrevogável e, sobretudo, porque é um avanço na direção do Estado laico e secular.

A conotação laicista da decisão no noticiário ficou subentendida, subalterna, escondida. O Brasil é o quarto país do mundo em número de fetos anencéfalos, o STF como instituição republicana não poderia ficar alheio à estatística nem desconsiderar os interesses das gestantes e das mulheres para atender as pressões de grupos religiosos.

No farto noticiário dos dias seguintes, o voto do ministro Marco Aurélio Melo, marcadamente laicista e secular, praticamente desapareceu. Desapareceu apesar de ter sido o único que concentrou a argumentação em defesa do laicismo do Estado brasileiro.

Curiosamente, o encerramento do Jornal Nacional de 12 de abril e o do Jornal das 10 da GloboNews valorizaram o voto de Cezar Peluso, que, além de minoritário, foi proferido por um ministro que na semana seguinte deixaria a presidência da Suprema Corte.

O Estado de direito é imperiosamente laico e a imprensa, se pretende apresentar-se como democrática, deve ser o sustentáculo deste laicismo.


São Paulo se mobiliza pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Todos ao 18 de Maio.

PICICA: Na cena do movimento social por uma reforma psiquiátrica verdadeiramente antimanicomial destaque-se a mobilização dos companheiros de São Paulo, estado que tem pelo menos duas das mais importantes contribuições à luta por uma sociedade sem manicômios, como as experiências de Santos e Campinas, enquanto que na capital do Estado o processo vem sendo emperrado pelo tucanato que ali fez ninho. Xô, tucanada! Viva a Frente Estadual Antimanicomial de São Paulo!

Plenária de Mobilização para o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, dia 03 de Maio – SINPSI

No dia 3 de maio de 2012 as 19 horas, na sede do Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo (Sinpsi-SP), será realizada plenária de mobilização para o Ato do dia Nacional da Luta Antimanicomial. Com o intuito de realizar uma análise de conjuntura e pactuar o funcionamento do ato do Dia Nacional da Luta Antimanicomial
 
A Frente Estadual Antimanicomial de São Paulo, convida todas as Entidades e Movimentos Sociais que tem o compromisso social e lutam por uma cidadania plena e pelos direitos humanos a participarem da referida plenária de mobilização.
 
Dia 3 de maio de 2012
Atividade: Plenária de Mobilização para o Dia Nacional da Luta Antimanicomial
Horário: 19 horas
Local: Sede do Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo (Sinpsi)
Endereço: Rua Aimberê, 2053, Vila Madalena, São Paulo – SP (Próximo ao metrô Vila Madalena).
 
Dia 18 de maio de 2012: Dia Nacional da Luta Antimanicomial
Atividade: Ato com concentração no Vão Livre do MASP
Concentração: 13 horas
Endereço: Avenida Paulista 1578 – São Paulo – SP (Próximo ao Metrô Trianon-Masp)
Trajeto: Masp – CAPS Itapeva – MASP – Avenida Paulista – Av. Dr. Arnaldo – Secretaria de Estado da Saúde.
 
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Nós & Voz - vídeo de Nivaldo de Lima, usado pela Associação Chico Inácio para esclarecer as relações entre Saúde Mental & Economia Solidária

Enviado por  em 16/11/2011
Nivaldo de Lima é ex-presidente da Associação Chico Inácio - entidade sem fins lucrativos que atua no campo da construção dos direitos de cidadania de pessoas com trastorno mental, filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial. Pernambucano de origem, mora em Manaus há 20 anos. Foi batizado pela jornalista Vera Lima como "Fotógrafo dos Esquecidos". Neste vídeo ele interage com o morador de rua Benedito, personagem popular da cena manauara, que livrou-se da institucionalização mas não da estigmatização a que são submetidos os seus pares.
PICICA: Este vídeo, feito por Nivaldo de Lima, veio à luz como verdadeiro achado arqueológico. Garimpando as imagens que me foram confiadas pelo autor, entre as centenas encontrei essa preciosidade. Nivaldo, ex-pesidente da Associação Chico Inácio (filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial), em dabate com seus companheiros, ainda no exercício do cargo, convenceu a todos de nomear a iniciativa de um projeto de geração de renda, mediante a prática de Economia Solidária, pela feliz expressão NÓS & VOZ. Confira e veja as relações entre o conteúdo do vídeo com o referido projeto, que caminha em seu terceiro ano de vida.

Saúde Mental & Economia Solidária - lá e cá (a experiência de Campinas e Manaus)

PICICA: Ao lado de Belo Horizonte Campinas constitui-se numa das mais sólidas experiências do modelo de atenção psicossocial vigente no país. Ambas tem uma particularidade em comum, é preciso que se diga: floresceram durante administrações do Partido dos Trabalhadores em seus respectivos municípios. Certamente teriam sido bombardeadas sem o apoio de administrações comprometidas com causas populares, a exemplo do que ocorreu em Santos, com a da derrota no PT. Foi nesse município que David Capistrano Filho, que já havia sediado o II Congresso Brasileiro dos Trabalhadores de Saúde Mental, quando era Secretário de Saúde em Bauru, e que resultou na criacão do movimento por uma sociedade sem manicômios, a partir de 1989 quebrou o paradigma manicomial liderando a mais importante iniciativa que aprofundou a reforma psiquiátrica numa perspectiva verdadeiramente antimanicomial. Essa bandeira seria resgatada pela Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila) por ocasião da Marcha dos Usuários de Saúde Mental à Brasília, quando mais de 2000 mil pessoas, entre usuários, familiares e técnicos em Saúde Mental garantiram junto ao governo federal, em 2009, a realização da IV Conferência Nacional de Saúde Mental. No Amazonas, estado pioneiro no início do processo de construção da reforma psiquiátrica, que resultou, em 1980, na primeira experiência de reabilitação psicossocial mediante a noção de trabalho protegido, há três anos o Projeto Nós & Voz, da Associação Chico Inácio (filiada à Renila), nascida como projeto de extensão da Universidade do Estado do Amazonas, em parceria com a Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas), Secretaria de Estado da Saúde, Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam) e Central Única dos Trabalhadores (CUT), recuperou a dimensão criativa da reforma psiquiátrica depois de superar toda sorte de canibalismo social e boicotes institucionais. Só para se ter uma idéia do ambiente cultural da cidade de Manaus, basta refletir sobre o significado do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ter surgido somente em 2006, quando a primeira experiência brasileira data de 1986, na cidade de São Paulo. O mérito do projeto Nós & Voz é ter nascido antimanicomial desde o primeiro momento. Trata-se de um projeto inteiramente estruturado fora dos muros do hospício, e com uma característica encantadora: sua prática está baseada nos princípios da Economia Solidária, de cujo Fórum - Estadual e Municipal -, a Assoociação Chico Inácio foi fundadora.  Quando o projeto crescer, ele quer ser igualzinho ao Gera Renda de Campinhas, que temos o prazer de divulgar no espaço democrático do PICICA. 

Novo Folder do Fórum Gera Renda – Campinas

O Fórum GeraRenda faz parte da Rede Estadual de Saúde Mental e ECOSOL e é composta 33 oficinas/ projetos de trabalho impulsionados pela área da Saúde, representando mais de 450 pessoas que são incluídas socialmente através do Trabalho.
Rua Coronel Quirino, 172 • Cambuí
Telefone (19) 3251-9677
13.025-004 Campinas-SP
vendas@armazemoficinas.com.br - http://www.armazemoficinas.com.br

abril 27, 2012

CRP SP põe em discussão: "Em nome da proteção e do cuidado, que formas de sofrimento e exclusão temos produzidos?" / Um apelo às irmãs Sampaio.

PICICA: As irmãs Conceição Sampaio e Socorro Sampaio, respectivamente deputada estadual e vereadora, surpreendem no parlamento pelo apoio a efetivas ações de saúde mental. O gesto é raro entre parlamentares. No caso da Câmara, Socorro é uma das poucas vozes a se manifestar. Já na Assembléia, Conceição conta com a voz atuante do deputado Luiz Castro. Entretanto, enquanto Socorro apoia, acertadamente, a implantação de um Centro de Atenção Psicossocial AD (para abusadores de álcool e outras drogas), Conceição foi induzida a um equívoco ao apoiar a criação de um Centro Público de Tratamento para Dependentes Químicos. Essa indução decorre do silêncio das assessorias do campo da saúde mental, que preferem engolir a seco decisões que contrariam a laboriosa experiência construída pela reforma psiquiátrica antimanicomial, depois que a presidenta da república desconsiderou decisão tomada pela IV Conferência Nacional de Saúde Mental. Investir em estruturas isoladas é um contrasenso, na medida em que reproduz um modelo superado de atenção e cuidados aos abusadores de álcool e outras drogas. A trágica experiência das clínicas para "dependentes químicos" (um outro equívoco conceitual) foi fartamente documentada pela mídia nacional. Além do mais, cada vez nos distanciamos da Política de Saúde Mental, aprovada pelo Conselho de Saúde Mental do Estado do Amazonas, que previa a desativação do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro para dar lugar a um Hospital de Clínicas, devidamente verticalizado, com todas as clínicas ocupando seus respectivos andares - inclusive a de saúde mental, e por que não para o público abusador de psicoativos e álcool? Com isso, estaríamos dando mais racionalidade para o sistema, posto que atualmente o corpo do cidadão vem sendo esquartejado pela divisão das nossas unidades de saúde ("problemas de osso" no Hospital Adriano Jorge, na zona sul; "problemas neurológicos", no Hospital João Lúcio, na zona leste; e assim por diante). Num momento que a mobilidade urbana passou a se constituir num grave problema, é um contrasenso abandonar essa idéia, inclusive por que especula-se sobre a desativação do Hospital Psiquiátrico em razão dos projetos de saúde exigidos pela Copa do Mundo de 2014, notícia que trouxe inquietações para o setor e para quem depende de uma rede consistente de saúde mental, que tarda em Manaus. Mais uma voz no parlamento pode fazer a diferença. Teríamos três vozes a cobrar medidas coerentes com os princípios éticos da reforma psiquiátrica antimanicomial que queremos, para que não sobrevenha o mesmo destino a instituições assemelhadas aos manicômios. A degradação de suas práticas é uma questão de tempo. 

Em nome da proteção
e do cuidado, que formas
de sofrimento e exclusão
temos produzidos? 

No ano em que se comemora os 50 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil, o tema da Semana da Luta Antimanicomial nos remete às motivações dos primeiros tempos de organização do movimento antimanicomial e traz uma oportunidade de reflexão. Para tanto,é necessária uma análise crítica, não moralista e não conservadora, dos atuais discursos e práticas relacionadas as questões de Saúde Mental no estado de São Paulo.

Atualmente o uso abusivo de drogas é identificado como epidemia e associado à marginalidade avançada, alimentando a cultura do medo que produz pânico e autoriza a violência. Apesar dos mecanismos legais de regulamentação, na ânsia do governo em limpar das ruas os “indesejáveis”, observa-se no cotidiano ações violadoras de direitos, uma polícia repressora e sem acolhimento e práticas de cuidado desarticuladas.

Tudo isso reforça o ataque aos direitos humanos, aos princípios do SUS e da reforma psiquiátrica, quando assistimos à retomada das internações involuntárias e compulsórias em clínicas privadas.

Diversas ações apresentadas como acolhimento e tratamento, na verdade configuram-se em práticas manicomiais, numa reedição das políticas higienistas do século XIX, com a medicalização e o encarceramento dos desajustados. As saídas apressadas, preconceituosas e criminalizadoras encontram contraponto naquilo que foi construído pelos movimentos sociais antimanicomiais e preconizado na Rede de Atenção Psicossocial e nos princípios e diretrizes da Reforma Psiquiátrica.

Entendemos e lutamos para que o local de acolhimento e tratamento continue sendo a rede aberta do SUS. É urgente promover modelos centrados no desenvolvimento de projetos de cuidado, no território do sujeito e suas redes sociais. É fundamental a revisão crítica do papel hegemônico e centralizador dos hospitais psiquiátricos, o respeito aos direitos humanos e civis dos loucos e usuários de drogas, enfim, dos mais vulneráveis.

Nossa posição é coerente com a ampla mobilização social que resultou na IV Conferência Nacional de Saúde Mental e XIV Conferência Nacional de Saúde, fóruns legítimos de um estado democrático de direito, que decidiram: comunidades terapêuticas não cabem no SUS, bem como as internações compulsórias.


Para contribuirmos com essa reflexão preparamos uma semana de debates, manifestações públicas, eventos culturais e festivos, para comemorarmos as conquistas importantes já alcançadas! Confira a programação que preparamos e sinta-se à vontade para contribuir para a construção de um mundo mais solidário e menos repressor.

Clique aqui e leia a Carta Aberta da Frente Estadual da Luta Antimanicomial sobre o Ato de 18 de maio.

Fonte: CRP SP