abril 21, 2012

"O método perigoso de Jung" (Psicotramas)


O Método Perigoso de Jung

O excepcional roteirista Christopher Hampton consegue a proeza tanto de repetir seu talento – já destacado na obra-prima “Dangerous Liaisons” (Stephen Frears, 1988), quanto no instigante “Carrington” (ele mes-mo, 1995), e no + recente “Atonement” (Joe Wright, 2007) – quanto de domar a Besta-bestial do diretor David Cronenberg.

Aposto 10 contra 1 que a história tem muuuuito + o jeitão do roteirista do que do diretor. Andamento&estrutura, comedimento mes-mo – quem diria alguém 1 dia falar de contenção em Cronenberg?!??

A trama Hampton&Cronenberg é envolvente,  instigando&informando. Sem correria, conclusões e/ou imposições. Traz 1 tipo de redenção subjacente em toooodo o drama, a justificar as atitudes de cada personagem no enredo, que os valoriza&condena, ao mesmo tempo.

Doktor Sigmund Freud sabe que criou Frankenstein, pero… como mãe devotada protege sua cria, diante duma sociedade hostil&perplexa.

Doktor Carl Gustav Jung saca que foi comprado pelo establishment, pelos luxos&confortos e… sossegos(??) que sua esposa rica lhe oferta, pero… tá phudido, gosta dessa vida e at the same time se descobre vivendo 1 Simulacro.

Sabina Spielrein aprendeu deeeesde seus 4 aninhos a rudeza y ausência de piedade com que este mundo pode nos brindar, a começar por nossas sagradas famílias, pero tem rasgos corajosos&brilhantes de ímpeto&virtude.

Esse caldeirão díspare fervendo não resulta em coisas boas… seja como for, quem se incumbiu de detoná-lo, ao longo dos anos, foi + o Nazismo do que forças ocultas ou reveladas. Freud teve uma morte sofrida demaaaais pra qualquer que fosse o tamanho de seus pecados, assim como Sabina, executada pelos nazistas. + sorte no quesito levou Jung, que morreu em circunstâncias semelhantes às do Von Aschenbach de Thomas Mann.

Na técnica em si, Michael Fassbender faz 1 Jung impressionante, a máscara-da-máscara-da-máscara dum homem que quanto +&+ se conhecia +&+ se estranhaaaava.

Keira ‘Que Night!’, ôps, Knightley compõe uma Sabina histeriforme, como as boas heroínas desta época. E quem imagina que as crises de histeria, bem  interpretadas por La ‘Que Night!’ são exageradas é porque num viu uma crise de “grande histeria”.

Viggo Mortensen faz 1 Freud como todos nós (os que o apreciam, claro!) idealizamos: sereno, comedido, conciliaDOR, charuteiro, evasivo(?)… Escuta os sonhos de Doktor Jung y os analisa a fundo, pero na hora de relatar os seus… “num dá, perderia minha autoridade”.

Sarah Gadon faz Emma, a esposa de Doktor Jung, biombo doméstico p-e-r-f-e-i-t-o pro mauricinho, boa mãe y mulher-que-tuuuudo-perdoa-&-nada-vê, além do home-sweet-home.

Vincent Cassell leva o provocaDOR Doktor Otto Gross, uma “vítima” desse caldeirão histórico onde tá inscrito. Viciado, avançadiiiinho, dedo-nas-pheridassss todas de seu tempo.

E a Photo precisa&radical-mente nítida de Peter Suschitzky deixa nosso olhar arreganhado do começo ao fim, tentando compreender o que se passou e o que… até hoje se esteeeende…

Cintas&coleiras pra-que-te-quero. Triângulo tenso entre Freud, Jung&Sabine. Freud se surpreende com o envolvimento de Jung com sua cliente, y Jung… + ainda! As cenas em que o par passional pactua a perversão, Sabine toma a iniciativa pois queria esmiuçar o porquê Doktor Jung elegia a esposa e não ela, com ambos chegando ao corolário da alternativa S&M (desde criança era espancada pelo pai, quase como num acerto do véio relógio de corda!) como ‘atributo’ novo de Sabina, vicariante sempre como era alocada. O Cronenberg encena bem isso, há uma artificialidade quando eles começam os ritos, pra ver como se saberiam&inscreveriam dentro deste. As cenas S&M entre Sabina&Doktor Jung soam tão artificiais quanto… perfeitas! Acho, e até onde vai minha Santa Inocência, que da mes-ma maneira que há S&M’s de estirpe, há os iniciantes, tímidos… e o casal aí é do 2º time - ela + corajosa, certa-mente.

É como se pudéssemos jogar o jogo sem jogar, como se tuuuudo pudesse ser 1 experimento ex maquina… algo que después d’acontecido fizesse com que olhássemos pra nós mes-mos, atônitos, nos perguntando “… eu vivi isso aí mes-mo?!??…”

+ ainda: Sabina intui&saca bem aaaantes de Doktor Jung que seu papel masô é 1 jeito de aprisoná-lo a si. Não apenas pela novidade ou pela culpa, pero también porque percebe que onde o amor num chega a perversão segue Estraaaada!… Obedecer aquela règle du jeu é permitir uma responsa nova em si mes-mos, num caminho sem volta. Sabina&Jung inauguram 1 point of no return em si mes-mos.

Entonces
, a psicanálise é “1 método perigoso” pra quem?? Pra Doktor Jung, de certo, que se entrega às intimidades com mocitas encantadoras ao passo que Doktor Freud prosseguiu, sem arregar como fez inicial-mente o Doktor Breuer, conseguindo refrear, sem reprimir, os seus impulsos. Aliás, reprimir no filme é mes-mo sinônimo de refrear, não dum processo inconsciente e que por existir cria o Inconsciente.

Acho que o filme, pelo que apresenta, e como o Doktor Jung é mostrado no fim, deixa ele beeeem mal na photo, e estranhei que naquelas frases finais tenham posto que Doktor Jung foi o maior ou 1 dos maiores (num lembro bem) psicólogos do mundo. Vaselina, né!??

A “neutralidade” do psicanalista foi muuuuito mal entendida y transformada em frieza (até artificiosa em gente habitual-mente + afetuosa y nadica esquizóide fora dos seus consultórios, 1 “falso self” psicanalítico). Li que o termo que Doktor Freud usava em alemão era melhor traduzido como “indiferença” no sentido do analista não se deixar levar por relatos +ou- surpreendentes de seus analisandos, por exemplo, sobre suas práticas sexuais levadas como que a 1 confessionário. Seria cômico se num fosse sério 1 analista escutar dum analisando 1 relato de fantasia e/ou prática sexual “pouco ortodoxa” y ficar surpreso, assustado e desaprovando aquilo. O que Freud propôs, ou o melhor que se pode fazer, é tentar entender, por exemplo, no campo transferencial, o que é que aquele relato significaria naquele instante. 1 conhecido, bem ansioso, me contou que na 1ª entre-vista que teve com seu analista, soltou uma angústia sobre sua sexualidade que ele mes-mo estranhava e o analista lhe disse que ele tava precisando saber (ou testar, num lembro bem) o que o analista achava dele, se o achava tãããão reprovável como ele se achava. E isto o deixou à vontade y confiante pra empreender uma análise. Passa por aí o que quero dizer…

Jung cri-critica&cri-critica Freud por perseverar na “libido”. E ele descarrilha pela libido na prática sexual com suas pacientes; Sabina foi só a 1ª… Doktor Jung é incapaz de perceber as necessidades transferenciais das pacientes e se revela profuuuunda-mente anti-ético.

Há uma tirada de Mme. Roudinesco onde diz que se Freud trepasse com as histéricas que demandavam relação erotizada com ele, num teria descoberto a “transferência” – que pode acontecer também por parte do psicanalista que se deixa levar pela ilusão transferencial. Curioso notar a dificuldade de Doktor Jung pro destaque freudiano na “libido”, sendo que Doktor Jung num conseguiu – + duma vez – deixar de ser “libidinoso” com pacientes.

Sobre o fato do filme fazer parecer que a transferência é apenas a transferência erótica, penso que é porque esta é o fulcro da escorregaaaada manifesta da incompreensão de Doktor Jung sobre suas pacientes. Of course, há 1 fator destrutivo na expectativa erótica duma analisanda em relação ao seu analista: no mínimo aquela tentativa de análise ficará destruída, estará se substituindo a análise por uma relação física, concreta, que extingue a possibilidade daquela dupla subsistir psicanalitica-mente.

Das transferências Jung&Freud y Freud&Jung o filme diz só 1 pouquinho (e num dá pra falar de tudo mes-mo), mas 1 bocadinho disso tá lá.

Quanto a alguns fenômenos análogos aos que a psicanálise descreve estarem no filme quase como que fenômenos somente conscientes, penso que Doktor Freeud tava certo quando interrogou a possibilidade do cinema retratar a psicanálise quando foi decidida-mente contra a realização do chamado “1º filme psicanalítico”, o Geheimnisse einer Seele (Segredo de uma Alma, G. W. Pabst, 1926) -  que também foi 1/2 próximo aos nazis después de filmar maravilhas com uma aura libertária, incluindo “Ópera dos 3 Vinténs” do Brecht, y mes-mo o “1º filme psicanalítico” com a colaboração de Karl Abraham y Hans Sachs, discípulos de Doktor Freud, que o deixaram bem aborrecido por isso.

O cinema consegue reconstruir analogias oníricas y assim tangencia com a psicanálise. Pero, cá com meus botões (que já num são muitos), com exceção de Don Luis Buñuel (y seu descaramento em abordar suas próprias fantasias transformadas em filmes geniais) e bastaaaante coisa de Ingmar Bergman, poucos filmes podem ter retratado + modelar-mente fenômenos propria-mente Inconscientes com uma proximidade maior ao que a psicanálise retrata.

Enfim, Doktor Jung cri-critica o pensamento de Doktor Freud centrado na força da libido y descaaaaamba na sua própria libido atuando práticas sexuais com pacientes (enquanto nunca largou a esposa ricaça que bancava o conforto familiar). + do que “1 método perigoso”, 1 cara incapacitado de apreender 1 método que lhe escapava em sua essência, levando-o a formulações + místikas do que propria-mente psicológicas y nadica psicanalíticas. Há diferenças entre Freud&Melaine Klein, Klein&Heinz Kohut, Kohut&Donald Winnicott, Jacques Lacan&Ronald Fairbairn, ou entre Wilfred Bion&Sándor Ferenczi, pero d’algum jeito, SÃO TOOOODOS PENSADORES QUE OPERAM COM O REFERENCIAL FREUDIANO, com acréscimos e/ou divergências!

Doktor Jung foi 1 dissidente que talvez jamais tenha sido de fato “psicanalítico” ou “freudiano”. E 9′s fora a frase final (ha-ja vaselina!!), o filme deixa essa leitura bem indicada ou bem clara mes-mo, né?

Fonte: Psicotramas

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