junho 14, 2012

"Sucessão Paulistana: Erundina vice de Haddad", por Hugo Albuquerque

PICICA: "Trata-se, sem dúvida, de um bom norte para a candidatura do jovem Fernando Haddad. A reaproximação de Erundina com o PT não deixa de ser um bom sinal, uma vez que o partido da estrela, sem dúvida a mais relevante legenda de esquerda do país e da capital, anda em círculos desde o fim da gestão Marta, que embora tenha implementado boas políticas públicas, fragmentou o partido e o deixou em um permanente tensão interna nos últimos anos. Também faz bem para o PSB de Erundina, pois fortalece a ala não-fisiológica e com a alguma disposição social do partido, minoritária em relação a uma direção estadual alinhada com o governo Alckmin."

Sucessão Paulistana: Erundina vice de Haddad

As negociações entre PT e PSB para as eleições paulistanas parecem ter confluído para algo bom: Luiza Erundina possivelmente será a candidata a vice na chapa de Fernando Haddad para a Prefeitura. Erundina é uma figura importantíssima na história política paulistana, pois foi a gestão, para além de todos os problemas que enfrentou, a deixar o legado político mais relevante - antes de mais nada, porque no governo, Erundina não foi governista, ela se desfez do pedestal estatista e procurou, junto à associações de moradores e movimentos sociais, fazer a boa política, focando na questão da moradia (sem dúvida, a questão central da política local) e no diálogo franco com a sociedade.

São Paulo é uma cidade politicamente complexa e profundamente problemática. Todas as gestões, exceto a de Paulo Maluf (1993-96), terminaram com um desgaste altíssimo - e Maluf, mesmo tendo feito sucessor, o falecido Celso Pitta (1997-2000), sofreu um pesado desgaste posterior, seja pela revelação de escândalos seus quando na Prefeitura ou pelos efeitos do desastre da gestão Pitta. Tanto é verdade, que Maluf, depois de ter refeito sua carreira política com certo êxito no pós-ditadura, não só jamais conseguiu vencer uma eleição majoritária novamente, como também viu seu tamanho político severamente diminuído: mesmo eleito com boas votações para a Câmara dos Deputados, sua influência é pequena e sua figura é condenada a uma representação quase tragicômica, mesmo entre os meios conservadores que lhe sustentavam.

Erundina, por motivos outros e na outra ponta do espectro político, não deixaria também de sofrer um processo de fritura, mas ao contrário de Jânio, do já referido Maluf, de Marta ou Kassab, ela deixou linhas gerais de como fazer política na capital, que persistem até hoje. Não só, Erundina saiu pessoalmente incólume dos escândalos e absurdos mil comuns à política local. Hoje, ela persiste sendo reeleita como deputada federal - não mais pelo PT, onde sempre teve problemas com a direção, mas sim pelo PSB - e exerce um mandato bem avaliado, sustentada por um eleitorado cativo, focando sobretudo em questões como a comunicação social e apresentando bom trânsito na política nacional.

Trata-se, sem dúvida, de um bom norte para a candidatura do jovem Fernando Haddad. A reaproximação de Erundina com o PT não deixa de ser um bom sinal, uma vez que o partido da estrela, sem dúvida a mais relevante legenda de esquerda do país e da capital, anda em círculos desde o fim da gestão Marta, que embora tenha implementado boas políticas públicas, fragmentou o partido e o deixou em um permanente tensão interna nos últimos anos. Também faz bem para o PSB de Erundina, pois fortalece a ala não-fisiológica e com a alguma disposição social do partido, minoritária em relação a uma direção estadual alinhada com o governo Alckmin.

Haddad precisa disso em uma campanha na qual, ainda que venha garimpando um espaço razoável na mídia, é desconhecido pelo eleitorado e precisa não só de um impulso eleitoral como, também, de uma ancoragem política que lhe dê mais densidade no nível municipal. Ainda que José Serra seja um líder de pesquisas anômalo, por ser também o candidato com a mais alta rejeição - tanto por questões pessoais como por ser o sucessor de uma gestão fracassada como a de Kassab -, é fato que ele é o candidato a ser batido pelo franco apoio do establishment local. Em termos propriamente políticos, a presença de Erundina na chapa, a norteia na posição em que ela precisa estar para ter razão de ser. Seja como for, trata-se de uma boa notícia.
Fonte: O Descurvo

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