setembro 30, 2012

FDB lança Prêmio de Iniciação Científica Heitor Vieira Dourado

Heitor Vieira Dourado

FDB lança Prêmio de Iniciação Científica Heitor Vieira Dourado

A Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera – FDB está com inscrições abertas até o dia 15 de outubro, para o Prêmio de Iniciação Científica Heitor Vieira Dourado (foto), voltado para jovens cientistas da área das Ciências da Saúde.


Homenageando o médico infectologista Heitor Vieira Dourado (1938-2010), um dos idealizadores e fundadores da Fundação de Medicina Tropical de Manaus que leva o seu nome, o prêmio objetiva estimular estudantes inscritos no Programa Brasileiro de Iniciação Científica – PIBIC para que se dediquem à pesquisa de doenças tropicais como a malária, a leishmaniose e outras de grande incidência na região amazônica.


Instituições ligadas à pesquisa e ao ensino de Ciências da Saúde, podem indicar seus candidatos ao Prêmio. Os concorrentes devem apresentar trabalhos na forma de monografia, trabalhos de conclusão de curso, dissertação de mestrado ou tese de doutorado.


O vencedor será agraciado com o a participação em evento científico ligado à sua área de trabalho que esteja sendo realizado no Brasil, cujas despesas serão pagas pelos promotores do concurso. Seu trabalho será publicado em revista científica a ser escolhida.


Membros da FDB, INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Faculdade de Medicina da UFAM, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM; Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz; Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas – ESC/UEA; Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado, HEMOAM e Fundação Alfredo da Matta formarão o júri que escolherá o melhor trabalho.


Os trabalhos deverão ser enviados à Diretoria Técnico-científica da FDB. Maiores informações poderão ser encontradas no site da Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera – FDB.


"Nelson Coutinho, o intelectual militante" (Cebes)

PICICA: "Reafirmando seu envolvimento pelas causas do direito à saúde e à democracia, Carlos Nelson contribuiu para o livro “Reforma sanitária em busca de uma teoria”, resultado de seminário promovido pelo Núcleo de Estudos Políticos Sociais em Saúde (Nupes), fundado por Sonia Fleury nos anos 80, formado por pesquisadores que estudavam e documentavam a reforma sanitária brasileira.

“Ele foi um grande interlocutor para nós, era um homem de ideias e adorava a questão teórica, política, muito estimulante pra gente. Sua obra linda deu força não só para nós, mas para diversos grupos, transformando o conhecimento em luta jurídica. Deixou ele também uma grande conclusão para a sociedade, de alargar os pensamentos”, concluiu a professora.
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Nelson Coutinho, o intelectual militante


Nelson Coutinho, o intelectual militante 

Faleceu, na última quinta-feira (20), aos 69 anos, o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Nelson Coutinho, baiano autor de ampla obra sobre o pensamento socialista e a democracia além de personagem de grande apoio ao Cebes e à reforma sanitária.

“Coutinho é referencia para todos nós do campo da esquerda e, particularmente, para os ativistas da Reforma Sanitária. Mais que tradutor de grandes obras essenciais na nossa formação política de autores como Karl Marx e Antonio Gramsci, ele foi um teórico da democracia e da política. A existência do Cebes está vinculada a estes intelectuais que alimentaram a luta pela democracia. Com sua morte, perdemos um dos maiores intelectuais orgânicos deste país”, lamentou a presidenta do Cebes, Ana Maria Costa.

Considerado um grande especialista no pensamento dos filósofos György Lukács e Antonio Gramsci, e tradutor do elogiado clássico O Capital, de Karl Marx, Coutinho fazia duras críticas ao estruturalismo e trazia em si grande simplicidade ao discutir ideais, além de tornar perceptível o prazer que havia em si ao discuti-las. “Era maravilhoso”, afirmou a ex-presidenta do Cebes e professora titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Sonia Fleury.
Após seu exílio em Bolonha, o pensador trouxe consigo influências que tornaram memorável o artigo “A democracia como valor universal”, escrito por Carlos Coutinho em 1979, publicado na revista “Encontros com a Civilização Brasileira”. “Tal artigo se mostrou como uma revelação no pensamento da esquerda no Brasil”, afirmou Fleury.

Faz-se importante ao Cebes registrar que, na época da redemocratização, havia orientação de que ou se organizavam grupos nas universidades, ou nos partidos ou nos sindicatos. Não havia lugar pra um centro de estudos. Coutinho foi um dos que, então, afirmou que uma sociedade democrática era uma sociedade onde você tinha que conquistar hegemonia através de saberes e valores. “Ou seja: o Cebes para ele era o máximo, o centro era a expressão da sociedade civil que lutava pela hegemonia, pela consciência sanitária”, relatou Sonia.

Reafirmando seu envolvimento pelas causas do direito à saúde e à democracia, Carlos Nelson contribuiu para o livro “Reforma sanitária em busca de uma teoria”, resultado de seminário promovido pelo Núcleo de Estudos Políticos Sociais em Saúde (Nupes), fundado por Sonia Fleury nos anos 80, formado por pesquisadores que estudavam e documentavam a reforma sanitária brasileira.

“Ele foi um grande interlocutor para nós, era um homem de ideias e adorava a questão teórica, política, muito estimulante pra gente. Sua obra linda deu força não só para nós, mas para diversos grupos, transformando o conhecimento em luta jurídica. Deixou ele também uma grande conclusão para a sociedade, de alargar os pensamentos”, concluiu a professora.

Assista vídeo-homenagem e leia, abaixo, mais uma homenagem feita à Coutinho:

Por Tarso Genro

Um vazio que se abre: a morte de Carlos Nelson

Os intelectuais do PT, os formuladores de ideias dentro do nosso Partido - nesta época que se abrirá depois das eleições - depois do “Fantástico” (em todos os aspectos) julgamento do “mensalão”, quando se aprofunda a crise européia e os tucanos afiam suas garras ajudados pela mídia complacente com os seus mensalões, - nossos intelectuais e formuladores - deveriam ler e reler Carlos Nelson Coutinho. Sua contribuição teórica é um bom antídoto contra o pragmatismo e uma boa vacina contra a acomodação burocrática. Bravo Carlos Nelson Coutinho. Vai fazer muita falta. O artigo é de Tarso Genro.

A morte de Carlos Nelson Coutinho abre um vazio em toda uma geração. Autor de uma vasta bibliografia sobre o pensamento socialista e a questão democrática -promotor no Brasil dos debates mais fecundos sobre Gramsci, Rousseau e Lukács, ouso dizer, também o pensador provavelmente mais credenciado sobre os vínculos do socialismo com a democracia.

Analista herege de Marx e antiestalinista ferrenho, Carlos Nelson também foi um ser humano excepcional. Foi do velho “partidão” ao Psol, passando pelo PT, sem romper uma relação pessoal, sem desrespeitar um amigo ou qualquer pessoa que divergisse das suas posições e, mais do que isso, sem qualquer resquício de sectarismo ou pretensão de ser tornar paradigma. Tenho uma dívida pessoal com Carlos Nelson, por ter aprendido muito com ele, seja nas nossas conversas ou no intercâmbio de opiniões por escrito, seja pela leitura dos seus livros: um grande intelectual, sem afetação e sem medo de enfrentar os temas mais complexos da esquerda contemporânea.

Em março de 79, na antiga revista “Encontros com a Civilização Brasileira” (n..9) Carlos Nelson publica uma brilhante artigo, “A democracia como valor universal”, que começa assim: “A questão do vínculo entre socialismo e democracia marcou sempre, desde o início, o processo de formação do pensamento marxista; e, direta ou indiretamente, esteve na raiz das inúmeras controvérsias que assinalaram e assinalam a história da evolução desse pensamento.”

Era uma bomba. A luta armada derrotada no Brasil, a transição controlada pelos políticos centristas -acordados com os militares que viam o modelo econômico da ditadura ruir- Carlos Nelson parecia ajudar a transição promovida pelas elites, que apenas abririam um espaço mais generoso para o povo sete anos depois, com a convocação da Assembléia Nacional Constituinte, aliás não originária. Mais adiante, seu artigo teve uma resposta respeitosa e de alto nível do meu irmão, já falecido, Adelmo Genro Filho, (n.17, da mesma revista).

Vale a pena transcrever o início do texto de Adelmo, que discuti com o próprio autor na época e o secundei com algumas opiniões: “Carlos Nelson Coutinho pensa grande.(...) Seu combate às tendências estruturalistas e neopositivistas que vicejam nas cátedras universitárias, tanto na Europa como no Brasil, em alguns momentos tornou-o quase um solitário. E o reconhecimento da persistência na solidão de teses justas é tributo mínimo que lhe devemos. Assim, é Carlos Nelson Coutinho, um pensador com “R” (de razão dialética) maiúsculo.”

O debate travado, naquela oportunidade, por Carlos Nelson e Adelmo, ainda mantém sua atualidade, mas, creio, não mais a partir da dúvida se a democracia -como forma de organização do Estado e de organização das liberdades públicas- tem ou não valor universal. A atualidade do debate está mais centrada na questão de “qual a democracia?”, capaz de expandir as liberdades públicas e organizar o Estado, de tal forma que dele derivem políticas que reduzam crescentemente as desigualdades sociais e as dominações de classe. Que uma ditadura não faz isso -qualquer ditadura- isso a crise dos modelos do Leste já demonstrou.

Quem “ganhou” o debate naquela época não importa, mas que a democracia -o oposto de qualquer ditadura- que garanta as liberdades públicas e as mesmas condições de concorrer para chegar o poder (o que ainda é muito relativo na atual democracia brasileira), tem um valor universal -como dizia Coutinho- parece não haver dúvida na ampla maioria da esquerda pensante. Em grande parte, devemos a integração deste pensamento antidogmático a Carlos Nélson Coutinho, sua persistência no debate, sua capacidade de inovar dentro do marxismo, sua postura permanentemente “revisionista” das ideias positivistas-naturalistas, que estiveram no cerne do marxismo-leninismo da Academia de Ciências da URSS.

No prefácio que Carlos Nelson fez do meu livro ”Utopia Possível” (Artes e Ofícios, 1994), no qual inclusive diverge de algumas abordagens críticas que faço, do marxismo “realmente existente”, ele diz com a sua sinceridade e clareza lapidar: “Tenho insistido na idéia -com a qual Tarso talvez concorde- de que a essência do método marxista é o revisionismo, o empenho permanente em aprender dialeticamente as novas determinações do real.

Na ampla gama de intelectuais que acompanharam e participaram das lutas do nosso povo nos últimos 50 anos lá está, luminosa, a coerência e a profundidade intelectual de Carlos Nelson. Alguns, originários da mesma época, organizaram-se em torno dos pensamentos liberais (mais propriamente neoliberais), que hoje formam o grande conglomerado do conservadorismo político nacional, cuja ocupação predileta é inconformar-se com as conquistas sociais, educacionais e políticas, dos últimos dez anos. Até nisso Carlos Nelson foi mais brilhante do que eles: suas divergências com o PT e com os governos Lula, ocorreram porque ele entendeu que estas mudanças foram pouco profundas e também modestas, em termos sociais e econômicos. Rompeu com o PT -concorde-se ou não com as suas razões- pela esquerda, não pelo udenismo fundamentalista ou pelas ideias do Consenso de Washington.

Os intelectuais do PT, os formuladores de ideias dentro do nosso Partido - nesta época que se abrirá depois das eleições - depois do “Fantástico” (em todos os aspectos) julgamento do “mensalão”, quando se aprofunda a crise européia e os tucanos afiam suas garras ajudados pela mídia complacente com os seus mensalões, - nossos intelectuais e formuladores - deveriam ler e reler Carlos Nelson Coutinho. Sua contribuição teórica é um bom antídoto contra o pragmatismo e uma boa vacina contra a acomodação burocrática. Bravo Carlos Nelson Coutinho. Vai fazer muita falta.

Créditos da foto: Arquivo O Globo 


Fonte: Cebes

"Mineradoras valem ouro nos projetos hidrelétricos do Tapajós e Teles Pires", por Telma Monteiro


PICICA: "Explorar Cuiú Cuiú é apenas a ponta do iceberg e vai abrir o caminho para um filão de centenas de bilhões de dólares: um cinturão de granitos e rochas vulcânicas que começa no distrito de Alta Floresta do norte do Mato Grosso, passa pela região do Tapajós no oeste do Pará, continua para o norte em Rondônia, e termina no sul da Venezuela-Guiana.

Juntos, esses "complexos geológicos" auríferos ocupam em linha contínua cerca de 1.200 quilômetros. Uma incrível riqueza logo ali, na região onde se planeja a construção das hidrelétricas no rio Tapajós, Jamanxim, Teles Pires e Juruena. Coincidência ou não, os projetos hidrelétricos na Amazônia parecem atrelados aos grandes projetos de mineração de ouro."

Mineradoras valem ouro nos projetos hidrelétricos do Tapajós e Teles Pires

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Mineração na região das usinas do Tapajós e Jamanxim

Os projetos de implantação de hidrelétricas nas bacias do rio Tapajós, Teles Pires e Juruena por si só estão induzindo a ocupação de áreas protegidas da Amazônia. Com eles chegaram também as empresas mineradoras transnacionais e o novo ciclo de exploração do ouro. Mais impactos atingirão os territórios indígenas e as unidades de conservação.

O ouro aliado aos projetos hidrelétricos na região dos rios Tapajós e Jamanxim, que, coincidentemente, estão sobre a maior província mineral do mundo, vai pavimentar definitivamente a ocupação predatória da região.

Não é, pois, de se estranhar a corrida do ouro que se iniciou na região da chamada Província Mineral do Tapajós. Perto de Itaituba, cerca de 180 quilômetros, está um distrito aurífero famoso chamado Cuiú Cuiú, próximo ao rio Crepori, e que só pode ser acessado por avião de pequeno porte ou por barco.

A mineração em Cuiú Cuiú começou em 1972 e foi até 1992, quando ocorreu uma grande corrida do ouro. Estima-se que nessa época mais de 10 mil pessoas buscavam ouro na região. Cuiú Cuiú, então, ficou famosa e atraiu os olhares de grandes empresas de mineração. A partir de 2004, a canadense Magellan Minerals começou a adquirir os direitos de exploração mineral concedidos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Em 2005, celebrou um acordo com os proprietários tradicionais das áreas que viviam e exploravam Cuiú Cuiú.

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A Magellan Minerals Ltd. tem endereço em Itaituba (PA) e Cuiabá (MT) como Chapleau Exploração Mineral Ltda. No seu sítio eletrônico constam ainda três subsidiárias: a Chapleau Resources Ltd. no Canadá, a Magellan Minerais Prospecção Geológica Ltda., no Brasil, e a Chapleau Exploração Mineral Ltda. A empresa canadense detém hoje 47 mil hectares de terras para exploração de ouro em Cuiú Cuiú.

A Chapleau Exploração Mineral Ltda. tem, ainda, outros quatro processos de direitos minerários de ouro, de 2007 e 2009, nas margens do futuro reservatório da hidrelétrica Teles Pires, que abrangem uma área de 34.449 quilômetros quadrados. Coincidência?

Outro projeto da Magellan na mesma região é Coringa, anunciado em março deste ano em Vancouver, com previsão de extração de 561 mil onças de ouro em cinco áreas. Os investimentos previstos para Coringa podem chegar a 37 milhões de dólares.

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Explorar Cuiú Cuiú é apenas a ponta do iceberg e vai abrir o caminho para um filão de centenas de bilhões de dólares: um cinturão de granitos e rochas vulcânicas que começa no distrito de Alta Floresta do norte do Mato Grosso, passa pela região do Tapajós no oeste do Pará, continua para o norte em Rondônia, e termina no sul da Venezuela-Guiana.

Juntos, esses "complexos geológicos" auríferos ocupam em linha contínua cerca de 1.200 quilômetros. Uma incrível riqueza logo ali, na região onde se planeja a construção das hidrelétricas no rio Tapajós, Jamanxim, Teles Pires e Juruena. Coincidência ou não, os projetos hidrelétricos na Amazônia parecem atrelados aos grandes projetos de mineração de ouro.

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Projetos de mineração no Estado do Pará

Cuiú Cuiú está localizada entre os rios Crepori e o Jamanxim, onde também está o projeto Tocantinzinho numa área de 140 km² (30 quilômetros a sudeste de Cuiú Cuiú), da Eldorado Gold Corporation, com sede em Vancouver, no Canadá. Do Tocantinzinho, a Eldorado pretende extrair perto de 160 mil onças de ouro de 2.541 mil toneladas de rocha removida.

A Eldorado confirma em sua página na Internet que esperava receber a aprovação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) ainda no terceiro trimestre de 2012 e concluir o estudo de viabilidade, para começar a implantação do projeto, ainda neste ano também. Desde 2010 o projeto está tramitando na Secretaria de Meio Ambiente do Pará.
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A principal concorrente da Magellan e Eldorado nessa mesma região do Tapajós é a já conhecida Belo Sun Mining Corp., que se instalou na Volta Grande do Xingu, aproveitando a construção de Belo Monte. Patrocínio é o nome do projeto da Belo Sun no Tapajós e tem uma área com 18.669 hectares.

Leia também:

Telma Monteiro é ativista sócio-ambiental, pesquisadora, editora do bloghttp://www.telmadmonteiro.blogspot.com.br, especializado em projetos infraestruturais na Amazônia. É também pedagoga e publica há anos artigos críticos ao modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil.

Fonte: Correio da Cidadania

"Pela legalização do aborto no Brasil", por Ana Maria Costa (Cebes)

PICICA: "O Brasil vem assistindo nas ultimas décadas a um crescimento das forças conservadoras no Congresso Nacional e esta grande aliança envolve diversos partidos de todas as matizes politicas. Esta frente contra a legalização do aborto tem levado o governo à condição de refém, negociando votos nas matérias de interesse governamental até mesmo contra possíveis avanços do poder executivo. 

Estabeleceu-se uma verdadeira vigilância destes parlamentares às ações do Ministério da Saúde, envolvendo sua reponsabilidade institucional como órgão máximo da saúde pública nacional. E é inadmissível que o Ministério seja imobilizado no cumprimento de seu papel de financiar pesquisas , normatizar e qualificar serviços para melhor conhecer e atender as mulheres brasileiras quando abortam.

Enquanto o poder Legislativo permitir que esse debate ocorra sob a égide da moralidade, e não assumir a sua gravidade como problema de saúde publica, o Congresso estará em falta com as mulheres brasileiras. Enquanto o poder Executivo baixar a cabeça como refém destas forças conservadoras que retardam a ampliação dos direitos reprodutivos e a legalização do aborto, as mulheres brasileiras estarão traídas e com seus direitos humanos mutilados." 

Publicado em 21/09/2012 por
Com a chegada do dia 28 de setembro, Dia da Despenalização e Legalização do Aborto na América Latina e no Caribe, a antropóloga premiada e professora da Universidade de Brasília (UNB) Débora Diniz deixa seu recado.

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Pela legalização do aborto no Brasil 

Pela legalização do aborto no Brasil Créditos: Campanha Acción Callejera
Ana Maria Costa

O dia 28 de setembro é o dia de luta pela descriminalização do aborto na América Latina. Isto, porque o aborto é grave problema de saúde pública nos países de nosso continente e a magnitude de sua ocorrência no Brasil e as complicações à saúde por causa de sua clandestinidade ocasionam mortes que poderiam ser evitadas por atenção adequada e oportuna.

Tal atenção somente será possibilitada com a ampla legalidade do aborto, hoje permitido apenas quando a gravidez resulta de estupro; constitui ameaça à vida da mulher; ou nos casos de anencefalia. Como a grande maioria dos abortos são realizados de forma clandestina, precária, arriscada  e insegura, milhares de hospitalizações desnecessárias são feitas diariamente, gerando um grande problema para a saúde pública no país.

Para melhor dimensionamento do problema, um inquérito nacional realizado em 2010 (1) mostrou que 22% das mulheres de 35 a 39 anos que vivem em zonas urbanas  declararam já ter provocado um aborto. Os que desconhecem o assunto tendem a retratar as mulheres que interrompem a gravidez como pessoas desviantes e irresponsáveis, extremamente jovens, sem valores, e que não estariam em união. Não é isso o que acontece. 

Esta pesquisa revelou que os abortos são praticados por mulheres que, em sua maioria casadas e mães de família, não desejam aumentar a prole em função de gravidezes indesejadas. Tal situação deveria mudar muito a maneira como se encara o fenômeno e, desta forma, mudar o tom do debate sobre aborto no Brasil, já que o aborto é um evento comum na vida de mulheres comuns, ou seja, mulheres das relações sociais de qualquer pessoa. Em nossa sociedade o assunto vem sendo polarizado para reforçar uma moralidade de dogmas religiosos relacionados ao aborto com julgamento preconceituoso às mulheres que o praticam.

Nos últimos anos, apesar da enormes dificuldades na realização de pesquisas sobre aborto, especialmente por tratar se de um evento clandestino, muitos estudiosos tem contribuído com esclarecimentos importantes que vêm desconstruindo velhos argumentos e crenças sobre o aborto no Brasil.  

Hoje está comprovado que a decisão por um abortamento na maioria dos casos é compartilhada, e não individual como se pensava. Os estudos mostram inclusive que, quando as mulheres são jovens e não tem autonomia ou dinheiro, a família - ou seja: os pais e as mães - intervêm e providenciam o recurso necessário para a realização do procedimento. Isso acontece geralmente nas classes médias e altas.
Assim, a questão do aborto que parecia, a princípio, um assunto exclusivo de mulher, é de fato um assunto para as famílias quando se trata de mulheres solteiras ou casadas, envolvendo pais, mães ou maridos. Esta situação reforça o grau de hipocrisia com o qual o aborto é tratado no Brasil pois, seja na condição de amigo, amiga, mãe, pai, tio, companheiro, namorado ou marido, a grande maioria dos brasileiros já viveu e compartilhou alguma situação envolvendo a decisão ou o apoio a uma mulher que realizou o aborto. O que fica patente é a existência de uma dupla moral, a que condena o aborto e a outra, tolerante quando o assunto está no âmbito privado.

Mesmo com a proibição pela Anvisa da venda do Misoprostol (Cytotec), um poderoso abortifaciente, os estudos mostram que metade das mulheres que abortam utiliza medicamentos. A aquisição destas drogas também ocorre clandestinamente e as mulheres pagam caro pelo produto e não tem qualquer garantia quanto à sua qualidade. 

De toda forma, estas mulheres tem menor numero de complicações em relação àquelas outras que buscaram solucionar a interrupção da gravidez com curiosas ou métodos mais perigosos.
O certo é que o acesso aos medicamentos é difícil, mas existe um conhecimento adquirido e transmitido entre as mulheres sobre o modo de usar e as doses destes medicamentos e até mesmo sobre o momento e situação em que devem buscar ajuda em um hospital. Isso tem reduzido muito as mortes destas mulheres.

Se mudou o panorama da sobrevivência de mulheres que praticam abortamento, o mesmo não ocorreu na qualidade da atenção médica hospitalar destinada a elas. Os profissionais de saúde geralmente as tratam com discriminação, maus-tratos e até mesmo com omissão de socorro oportuno, caracterizando, de fato, condição de violência institucional (2).

As frequentes denúncias do movimento de mulheres sobre problemas enfrentados por elas, que são usuárias de serviços de saúde, incluem a dificuldade de acesso à vaga até situações de maltrato e discriminação sofridas durante a internação. Muitos estudos tem evidenciado esta modalidade de violência em serviços públicos como praticada por profissionais de saúde, principalmente enfermeiras.
Nesse sentido, a legalização do aborto é uma pauta para a democracia social, pois, além dele ser um direito sexual e reprodutivo universal, sua ilegalidade recai de forma injusta e desumana sobre as mulheres mais pobres, que, com menos recursos para a realização da interrupção de sua gravidez indesejada, acabam se submetendo a maior risco.

Essas mulheres são cotidianamente vítimas de atentados aos direitos humanos por omissão do estado em socorrê-las quando realizam o procedimento, chegando aos hospitais em busca da sobrevivência, com sangramentos e hemorragias graves - sendo em seguida maltratadas, denunciadas, discriminadas.
Elas sujeitam sua saúde ao risco por causa de uma legislação atrasada e desajustada em relação às necessidades da sociedade e à vida real das mulheres e das famílias, já não condizente com a atual situação do país que merece e precisa de um estado laico, livre das intervenções de grupos e dogmas religiosos nos assuntos coletivos.

O Brasil vem assistindo nas ultimas décadas a um crescimento das forças conservadoras no Congresso Nacional e esta grande aliança envolve diversos partidos de todas as matizes politicas. Esta frente contra a legalização do aborto tem levado o governo à condição de refém, negociando votos nas matérias de interesse governamental até mesmo contra possíveis avanços do poder executivo. 

Estabeleceu-se uma verdadeira vigilância destes parlamentares às ações do Ministério da Saúde, envolvendo sua reponsabilidade institucional como órgão máximo da saúde pública nacional. E é inadmissível que o Ministério seja imobilizado no cumprimento de seu papel de financiar pesquisas , normatizar e qualificar serviços para melhor conhecer e atender as mulheres brasileiras quando abortam.

Enquanto o poder Legislativo permitir que esse debate ocorra sob a égide da moralidade, e não assumir a sua gravidade como problema de saúde publica, o Congresso estará em falta com as mulheres brasileiras. Enquanto o poder Executivo baixar a cabeça como refém destas forças conservadoras que retardam a ampliação dos direitos reprodutivos e a legalização do aborto, as mulheres brasileiras estarão traídas e com seus direitos humanos mutilados. 

Por fim, se o Brasil quer se postar entre os países mais avançados do planeta, urge que sejam tomadas atitudes concretas para o aperfeiçoamento da democracia e a primeira tarefa para nós, mulheres, para nós que defendemos a saúde publica, é tirar o aborto de baixo do tapete. Vamos debater o tema amplamente e vamos encarar esta como uma questão de saúde pública fundamental para a nossa Democracia.

Referências
(1) Pesquisa Nacional do Aborto (PNA), Universidade de Brasília (UnB).

(2) Estudo feito pela pesquisadora Estela Aquino, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), com 2.562 mulheres em hospitais de três capitais brasileiras – sete de Salvador (BA), oito de Recife (PE) e quatro de São Luís (MA) – indica que o julgamento moral dos profissionais de saúde sobre o aborto interfere no atendimento prestado por eles às mulheres que dão entrada em hospitais depois de tentar a interrupção da gravidez.

Fonte: Cebes

setembro 29, 2012

"A Queda da Pastilha" (Psicotramas)

PICICA: "Na minha opinião existem aiiiinda + neuróticos y ”sofredores de transtornos emocionais inespecíficos” do que o vídeo mostra, quando compara suas estatísticas com a população de várias metrópoles somadas em conjunto. Pra uma parte significativa num há remédio que ajude… nem terapia disponível." EM TEMPO: Em resumo, não há acesso a uma rede de serviços capaz de ouvir as dores da existência provocadas pelo 'mal-estar' na cultura. Em tempo de campanha eleitoral o tema está envolvido num silêncio sepulcral. Em Manaus, o velho hospício está fechando; deve sobrecarregar as políclínicas, e, pasmem!, nenhum palavra sobre a expansão da rede de serviços que substituem o manicômio - atualmente com apenas dois serviços municipais para uma população de 2 milhões de habitantes, cuja oferta é responsabilidade da prefeitura desde 2003. Por ora, o poder público é beneficiário da infinita generosidade dos usuários do sistema. Neste cenário, lutar contra contra a medicalização da dor humana é um trabalho insano. Tão cedo não comemoraremos a "Queda da Pastilha'.

A Queda da Pastilha

Achei interessante a denúncia da manipulação dos laboratório$&agência$ de publicidade pra fazer pessoas con-sumirem drogas tranquilizadoras.

Na minha opinião existem aiiiinda + neuróticos y ”sofredores de transtornos emocionais inespecíficos” do que o vídeo mostra, quando compara suas estatísticas com a população de várias metrópoles somadas em conjunto. Pra uma parte significativa num há remédio que ajude… nem terapia disponível. Entonces, o que resta é o que a Vida (êita!) vai ensinando e, os que dão Sorte (bença, Woody Allen!), aprendem pela experiência, sem agravarem suas dores e/ou causarem danos sociais. Por isso mes-mo vale a pena manter experimentos (com remédios e/ou terapias) que promovam alívio à ansiedade, à insônia ou que controlem a epilepsia e o avanço da psicose, assim como é importante que otras disciplinas participem – como a Sociologia, só pra mencionar o exemplo + óbvio&evidente – pra investigar caminhos de crescimento individual em sociedade, pra enfrentar o “Mal Estar da Cultura”.

No intervalo dos procedimentos + sérios, vezINquando menos notórios y + pobres, surgem os aproveitadores.

Fonte: Psicotramas
Enviado por em 07/11/2010
EL Marketing de La Locura
Un vídeo de los canales Ankesenaton y SaavedraAbel
La compra-venta de la enfermedad es una estrategia altamente exitosa que convierte las situaciones normales de la vida en condiciones de enfermedad psiquiátrica, haciendo que la gente de todos los estratos sociales se preocupe acerca de la "enfermedad mental" más reciente; y que soliciten una pastilla.

LA TEORÍA DEL "DESEQUILIBRIO QUÍMICO DEL CEREBRO" ES EL FRAUDE MÁS EXITOSO DE LA PSIQUIATRÍA.

Al paso de los años, la psiquiatría ha convencido a millones de personas que sus cambios emocionales, se deben a la deficiencia de serotonina y que solamente pueden ser aliviados tomando fármacos que trastornan la mente, como los antidepresivos.

Cuando se dio a conocer la teoría del desequilibrio químico cerebral, surgió una avalancha de críticas y cuestionamientos, tanto que, el Dr. Steven Sharfestein, entonces presidente de la Asociación Americana Psiquiátrica (APA) tuvo que retractarse públicamente diciendo que "no existe 'ninguna prueba contundente de laboratorio que determine la existencia de un desequilibrio químico en el cerebro".

El vocero de la APA, el Dr. Marc Graff, dijo que la teoría del desequilibrio químico del cerebro, ERA PROBABLEMENTE UNA AFIRMACIÓN PROVENIENTE DE LA INDUSTRIA FARMACÉUTICA
(No resulta para nada sorprendente si consideramos que sólo por la venta de antidepresivos semueven más de 13 mil millones de dólares anuales).

Cuando se le preguntó al Dr. David Burns, ganador del premio A.E. Bennett de la Sociedad de Bioética de Psiquiatría, sobre el estatus de la teoría del desequilibrio químico de la serotonina, dijo: "pasé los primeros años de mi carrera, investigando tiempo completo el metabolismo de la serotonina, pero nunca encontré ninguna evidencia convincente de que cualquier trastorno psiquiátrico, incluyendo la depresión, fuera debido a una deficiencia de serotonina del cerebro, de hecho no hay forma de medir los niveles de serotonina en una persona viva, por lo que no hay forma de probar éstas teorías".

A pesar de estos hechos, se les ha prescrito psicofármacos a decenas de millones de personas en todo el mundo, Muchos de los consumidores creen, debido al bombardeo de publicidad, que están corrigiendo una condición física, CONDICIÓN QUE SIMPLEMENTE NO EXISTE.

Recién en el 2004, y después de las innumerables tragedias que se habían registrado, se alertó al público del riesgo que corren los niños y adolescentes al tomar antidepresivos. También los adultos corren los mismos riesgo (entre ellos el suicidio).

Los antidepresivos son peligrosos, causan entre otras cosas, ansiedad, agitación, ataques de pánico, insomnio, irritabilidad, hostilidad, impulsividad, acatisia (intranquilidad severa), hipomanía (excitación anormal, manía leve) y manía (psicosis caracterizada por sentimientos exagerados y alucinaciones).

Mientras que los psiquiatras insisten en que la enfermedad es una condición neurobiológica, y han gastado miles de millones de dólares sin haber conseguido evidenciar esta teoría, el psicólogo Bruce Levine, autor de Commonsense Rebellion (La Rebelión del Sentido Común) está dentro de aquellos que han enderezado los conceptos diciendo: NO SE HAN ESTABLECIDO MARCADORES BIOQUÍMICOS O GENÉTICOS PARA EL TRASTORNO POR DÉFICIT DE ATENCIÓN, EL TRASTORNO OPOSICIONISTA DESAFIANTE, LA DEPRESIÓN, ESQUIZOFRENIA, ANSIEDAD, COMPULSIÓN POR EL ALCOHOL O EL ABUSO DE DROGAS, SOBREALIMENTARSE, APOSTAR, O NINGÚN OTRO DE LOS SUPUESTOS ENFERMEDADES, MALES O TRASTORNOS MENTALES.

http://www.luchaporlosninos.com/index...

Este video es parte del documental en DVD "El Marketing de la Locura: ¿Estamos todos locos?"

Evidentemente somos ganado viviendo en una granja de experimentación y exterminio, donde quienes se creen dueños, hacen lo que se les ocurre con el resto de los humanos... SALGAMOS DE ELLA!!! DE NOSOTROS DEPENDE.

"Legalização da canábis em debate na AR" (ESQUERDA.NET)

PICICA: "Elza Pais destacou ainda que a experiência portuguesa de descriminalização do consumo é reconhecida hoje a nível internacional como um exemplo de sucesso, mas que deixou por resolver o problema da aquisição legal para consumo próprio, uma lacuna que este projeto do Bloco, na sua opinião, vem agora preencher. "Concordo com esta proposta porque respeita as convenções internacionais, retira negócio aos traficantes, é apoiada em experiências bem sucedidas e adota uma estratégia de prevenção e diminuição da procura", afirmou, acrescentando que a considera "um passo significativo, como foi o da descriminalização, para lutar contra a hipocrisia e os preconceitos, acautelando a questão da saúde individual e da saúde pública"."

Publicado em 28/09/2012 por
O esquerda.net entrevistou Martín Barriuso, presidente da Federação de Associações Canábicas de Espanha que participou na audição parlamentar do Bloco sobre a legalização do autocultivo e os clubes sociais de canábis.

Legalização da canábis em debate na AR

O anteprojeto de lei do Bloco para legalizar o autocultivo e criar clubes sociais de canábis foi debatido em audição pública no Parlamento. O presidente da Federação de Associações Canábicas de Espanha descreveu o funcionamento dos clubes sociais, uma experiência de sucesso desde há duas décadas.

Foto Catarina Oliveira.

O deputado João Semedo apresentou a proposta do Bloco que está em debate público, numa audição moderada pelo dirigente bloquista José Soeiro que contou também com a participação ainda a deputada socialista Elza Pais e o ativista da Marcha Global da Marijuana Marco Pereira.

João Semedo reconheceu "os progressos enormes dos últimos anos para a prevenção e o tratamento" com a descriminalização do consumo de drogas, aprovada em 2001 no Parlamento, mas sublinhou que "há aspetos negativos a corrigir". "Queremos evitar que haja milhares de consumidores empurrados para o mundo clandestino do tráfico", afirmou o deputado, acrescentando que este projeto lei tem também por objetivo "questionar a doutrina proibicionista", dado que "o mundo do tráfico é mais poderoso hoje do que alguma vez foi".

Semedo apresentou as linhas gerais da proposta do Bloco, que visa legalizar o cultivo para consumo próprio e criar o enquadramento legal para a criação dos clubes sociais de canábis, associações de consumidores sem fins lucrativos, que organizam o cultivo para os associados e têm regras e limitações próprias. A entrada é restrita a maiores de idade e faz-se por proposta de outro sócio, com uma limitação do número total de associados por clube, para garantir o controlo dos consumos problemáticos e evitar a lógica comercial. Nestes clubes, as doses dispensadas não podem exceder o limite do consumo para 30 dias e não é permitida a venda de bebidas alcoólicas nem a presença de máquinas de jogo.  

Marco Pereira, da MGM Lisboa, afirmou ue com a lei atual os consumidores continuam a ser perseguidos, quer através das coimas e sanções administrativas, quer através de penas de prisão devido ao limite legal para a posse de canábis ser pequeno. "Há muitos casos de consumidores condenados a penas de prisão por tráfico de menor gravidade sem que existam indícios de tráfico", afirmou o ativista da Marcha que todos os anos junta milhares de pessoas em defesa da legalização da canábis. Marco Pereira saudou a iniciativa do Bloco e deixou algumas propostas para o projeto a apresentar nas próximas semanas na Assembleia da República, no que toca à definição dos limites para o autocultivo - que no anteprojeto bloquista é de dez plantas por pessoa -, propondo uma distinção entre o cultivo no exterior e o cultivo indoor, com os limites definidos de acordo com a potência da iluminação utilizada.

Em seguida, o dirigente da Federação das Associações Canábicas (FAC) de Espanha fez um breve historial da legislação em vigor no país vizinho, que abriu espaço ao nascimento dos clubes sociais desde o início dos anos 90. Mas fez notar que apesar desta experiência ser marcada pelo sucesso, existe ainda uma insegurança jurídica muito grande, dado que os clubes não estão regulamentados na lei. E mesmo acontece no autocultivo, já que "não há um limite de plantas para consumo pessoal, ou seja, depende da interpretação do polícia de cada local", afirmou Martín Barriuso.

O dirigente associativo basco defendeu ainda que os clubes sociais são uma alternativa concreta que respeita a legislação internacional, dado que "cada Estado da União Europeia tem soberania para decidir sobre o consumo, pois os tratados internacionais só obrigam a punir o tráfico". Sobre o funcionamento destes clubes, Barriuso diz que "são associações legalizadas em que os seus membros decidem em Assembleia a criação da plantação coletiva com base na previsão de consumo dos seus membros". As quotas pagas pelos associados cobrem os custos com o cultivo e o funcionamento da associação, que paga impostos como o IVA ou o IRC e a segurança social dos seus funcionários. A cada sócio é exigida a participação num curso de formação inicial acerca das formas e dos riscos do consumo, bem como informação sobre a o uso e a história da canábis.

"Como se trata de um círculo fechado, é mais fácil detetar consumos problemáticos", acrescentou Barriuso, que vê aí uma grande vantagem em relação ao modelo holandês dos coffee-shops. "Trata-se de um sistema opaco em que ninguém controla a produção e tem como finalidade o lucro", diz o presidente da FAC, lembrando que hoje em dia "há donos de coffee-shops ameaçados pelas mafias para lhes comprarem o produto deles". "Nós não queremos um modelo como o que existe para o tabaco, nas mãos das grandes companhias. Uma substância aditiva não pode ser um negócio", concluiu Barriuso, alertando para o desvirtuamento das características dos clubes quando se expandem demasiado, como acontece já em Espanha devido à falta de regulação. "Um clube de dez mil pessoas nunca vai ser um círculo fechado em que as pessoas se preocupam umas com as outras", rematou. Pelas contas da FAC, "se os 23 milhões de consumidores de canábis na União Europeia fossem membros de clubes, as receitas dos Estados aumentariam 8400 milhões de euros, numa estimativa conservadora".

A deputada socialista Elza Pais interveio saudando a proposta do Bloco por vir "aprofundar o debate num tema onde ainda há muito por fazer". "É nos momentos de crise que devemos discutir mais, porque é aí que estes direitos ficam mais ameaçados", acrescentou, notando que "a criminalidade e o consumo injetável de drogas" estão de novo a aumentar à medida que piora a situação económica e se agrava a exclusão social. Elza Pais fez ainda notar que o uso de drogas tem acompanhado desde sempre a história da Humanidade, ao contrário da proibição que surgiu no século passado. "A estratégia deve passar pela aposta na prevenção e na redução de riscos, porque se os meios aplicados na repressão são muitos, os meios usados pelos cartéis para fugir a essa repressão são muito superiores", declarou a deputada socialista e antiga responsável pelo Instituto Português da Droga e Toxicodependência (atual IDT).

Elza Pais destacou ainda que a experiência portuguesa de descriminalização do consumo é reconhecida hoje a nível internacional como um exemplo de sucesso, mas que deixou por resolver o problema da aquisição legal para consumo próprio, uma lacuna que este projeto do Bloco, na sua opinião, vem agora preencher. "Concordo com esta proposta porque respeita as convenções internacionais, retira negócio aos traficantes, é apoiada em experiências bem sucedidas e adota uma estratégia de prevenção e diminuição da procura", afirmou, acrescentando que a considera "um passo significativo, como foi o da descriminalização, para lutar contra a hipocrisia e os preconceitos, acautelando a questão da saúde individual e da saúde pública".

No debate que se seguiu, foram colocadas questões sobre o anteprojeto de lei em discussão pública, nomeadamente sobre os limites no autocultivo, a questão das sementes - atualmente proibidas em Portugal - ou o acesso à canábis para fins terapêuticos, bem como questões relacionadas com o funcionamento dos clubes sociais. No fim do debate, o deputado João Semedo aformou que ele irá continuar com outras sessões em várias cidades - Braga e Leiria têm já agendados debates para dia 6 de outubro e no Porto já se realizou no dia 27 - para recolher mais contributos para melhorar a proposta, antes do Bloco a apresentar no fim deste período de discussão pública.


Fonte: ESQUERDA.NET

"Um Brasil que deve ser e um Brasil que se devora", por Gabriela Serfaty

PICICA: "Novas subjetividades brasileiras estão a todo vapor criando suas formas de vida fora de grandes instituições; nas esquinas, nos morros, nos bares, na rua, no camelo, no baile Funk, nas praças. Um Brasil que se múltipla em brasis, uma potência para certa resistência, criar um Brasil sem O Brasil Maior. Uma produção de subjetividade que não para de ser produzida em uma velocidade tamanha que não cabe mais um nome ou um sobrenome e muito menos: deve ser assim o Brasileiro. Em troca desta identidade, uma subjetividade de brasileira que experimenta um exercício intensivo das ruas, o mergulho do corpo vivo e precário, dos sujeitos vulneráveis, mas livres na via esquizo dos devires, nos atritos entre intensidades heterogêneas e seus efeitos violentos que desmancham, criam  formas de existências munidos de potência, que devora o capital e faz dele instrumento de resistência, de sobrevivência e portanto ameaçam o capital por não entrarem na cadeia produtiva.

Assim, ao invés dos corpos determinados biologicamente, corpos selvagens atravessados pelas experiências, ao invés do inconsciente freudiano, o inconsciente antropofágico do intestino e do pé é a ética da alteridade. Abrir canais, criar rachaduras, criar gagueira na própria língua disse Deleuze. Inventar uma língua de cabeça para baixo." 

Um Brasil que deve ser e um Brasil que se devora

28/09/2012
Por Gabriela Serfaty


Por Gabriela Serfaty, versão escrita da fala apresentada à Casa de Rui Barbosa, no seminário “Antropofagia e multidão – Tatu or not tatu”, em 6 de setembro de 2012.
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“Viver é pertencer a outrem.
Morrer é pertencer a outrem.
Viver e morrer são a mesma coisa.
Mas viver é pertencer a outrem de fora,
e morrer é pertencer a outrem de dentro”.
Fernando Pessoa

Oswald de Andrade no Manifesto antropofágico propõe uma forma de pensar alteridade na sua radicalidade. Ele inaugura uma desorganização na geografia ao mudar os trópicos de lugar. Para os Europeus, paternalistas, escravocratas e colonizadores, o canibalismo praticado pelos selvagens era visto como primitivo e negativo.Numa visão positiva e inovadora,Oswald resgata metaforicamente esta pratica para pensar a cultura brasileira.Ser devorado, regurgitado pelos ’’primitivos’’ ditos passivos porém selvagens, que com sede e fome colocam um tempero a mais no caldeirão;o que faz com  que o colonizador deixe de ser uma ameaça para ser incorporado no  colonizado que retira da morte, sua a vida.

É a partir desta relação canibal-colonizador que Oswald quebra com a lógica de dominação e de inferioridade que tomava conta da identidade brasileira e propõe uma visão afirmativa com  que vem de fora: receber da hegemonia dos países do norte à moral e seus bons costumes, mas não só absorvê-los passivamente e sim transformá-la em algo que seja nosso. Esta é uma tentativa de repensar rigorosamente a cultura e todo o processo civilizatório com sua dinâmica totalitária, quando o outro passa a ser desejado e devorado na sua diferença. Trata-se de uma alteridade que se torna viva e pronta para ser deliciosamente saboreada. Deixa de ser temida para se inscrever na cultura menor. Assim, o que vem de fora passa a ser servido no banquete junto com todos os outros ingredientes. O fora passa a fazer parte do dentro e nesse processo de canibalização, surge alguma coisa nova: um meio índio, um meio negro, meio branco com suas diferenças que se multiplicam. Um jogo de contagio, onde o fora e o dentro se relacionam de tal forma que surge algo chamado Brasil. Trata-se de recusar ao extremo o paralelismo cartesiano que percebe a diferença de forma comparativa com um ideal de pureza e representação, para a partir daí pensar a diferença pura, sem que o diferente signifique desigualdade de raça, de gênero, de classe e de comportamento, mas sim uma algo desejado.

Dentro deste contexto, o movimento antropofágico não nega as influências da cultura europeia em troca de uma cultura popular e regional, ao contrário, faz dessas influências, paternalistas e representacionais, matéria prima de novas singularidades brasileiras.

As relações passam a existir no contato de um sujeito em direção ao outro e é neste campo de forças, sem exterioridade e idealismo, que certa desobediência, antes controlada e reprimida, é ativada neste devir primitivo. Ao devorar as preciosidades europeias se produz subvidas potentes e alegres agenciadas por um campo de imanência que retira a economia libidinal e política do plano transcendental.
É nesta mudança de perspectiva que a ideia de subdesenvolvimento é repensada como uma forma de vida e não uma vida sem forma. Oswald percebeu que ao descolar-se da ideia de dependência e independência, da falta e da fantasia de um país atrasado para uma ideia de interdependência, quebra-se essa relação entre o colonizado e colonizador.

Mas como podemos pensar a antropofagia nos dias de hoje? Dentro de um mundo capitalista globalizado que funciona em rede e com uma enorme circulação de informações, mercadorias e pessoas,onde as fronteiras,se dissolveram para o capital poder circular livremente, onde está  o fora? Onde foi parar a Europa?

Os pares que definiam o conflito político na modernidade se embaralharam, o poder e o fora não se manifestam tão abertamente como no passado, mas os conflitos, tanto micro quanto macropolíticos continuam impregnados de valores morais que nos foram exportados. Apesar de algumas esferas da sociedade ‘’romperem’’ com alguns valores como um  sujeito assalariado e um casamento até a morte nos separe, foram criadas novas identidades mais flexíveis  que acompanham o engendramento do capital e continuam   sendo fabricadas em torno de um ideal de vida pré definido.

De tal modo para fugir deste turbilhão de navegações, de ventos, de tendências e de fluxo, a fabricação de um sujeito assujeitado é uma alternativa estável. Capaz de controlar as esferas selvagens da subjetividade onde se apoiam as grandes instituições que representam o mercado e o estado neoliberal globalizado e deixam certa Europa morar em terras tropicais. Isto quer dizer que o centro continua a apontar as tendências e os bons costumes, mas o centro agora está dentro, as fronteiras já não são físicas mas imaginárias. São fronteiras abstratas, que detém o poder de comandar concretamente o desejo e os processos de subjetivação e fazer com que os habitantes da terra mundializada tendam a produzir a si mesmos e sua relação com o outro em função destas imagens.

É na construção das singularidades que o imperativo do capital se manifesta impondo uma visão vertical, apodera a mente de todos os saberes e os deveres e faz dela uma reguladora dos abalos,nada deve fugir ao  autocontrole, para isto procura-se  um calmante, uma terra firme, um corpo  a seu serviço, um corpo que não pode sentir, só deprimir,um corpo morto-vivo.É com este corpo que criam classificações:  O ser Artista,o ser Político, o ser Informal, o ser Servidor,o ser Pobre, o ser Classe A, o Ser Classe B,o Ser Classe C   Cito um trecho do manifesto Poesia Pau Brasil diz :

”O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos.O Império foi assim. Eruditamos tudo’’. (Oswald de Andrade)

Assim se foge da selvageria dos mundos possíveis,das terras ainda inabitadas e se criam autistas de um identidade só, imersa em identidade portátil, um certo deve ser assim, que impede o corpo de ir mais além. É dentro dessa estrutura onde o capital parece ter capturado todas as esferas da vida e produzido identidade brasileiras prontas para serem vendidas e passivamente devoradas, onde a antropofagia pode ser novamente reativada? O projeto modernista Oswald de Andrade tentou descolonizar o pensamento e mudar a consciência de lugar, mas esta consciência europeia continua disfarçada por ai, produzindo corpos vestidos de vergonha, corpos endividados,, comportados, vegetarianos,alongados e  na medida. Mas e os desvios e os excessos? E aquilo que foge a esta nova forma de colonização?

Onde o estado deixa de operar sobre os órgãos e imprimir registros sobre o corpo, é que ele pulsa, racha, desorganiza, se solta, se suja, o corpo que se marginaliza. Um corpo vivo é sem órgãos  isto é sem códigos e sem um funcionamento fechado e crônico. É um corpo que transforma a Macabéias em Macunaímas e redescobre uma tentativa de ‘’reeducação da sensibilidade’’ como diz Suely Rolnik.Logo, para reativar a antropofagia é preciso se desfazer desta obediência cega a este Outro colonizador já interiorizado, que desde sempre esteve penetrado na política brasileira. É preciso fazer com que o desejo e os processos de subjetivação tenham uma relação com outro dentro no campo da experimentação.

Desta forma, é no reconhecimento de certa vulnerabilidade que o outro pode deixar de ser apenas um objeto da representação e se torne um corpo vivo, devorável em um território que não é seu, deixando o outro invadir pelo corpo, pelo pé e pela mão. Para se abrir ao vulnerável é necessário certa ativação da percepção. Não se trata de ser dominado pelo outro, mas virar outro do outro. ‘’Outrar-se’’, disse Fernando Pessoa. Nem que seja por um instante, perder-se de si, do compromisso serio consigo e deixar esse Eu sair da zona central e escorrer pelas extremidades, caminhando pela orelha, punhos, mãos, dedos até chegar aos pés. Deixar o corpo perder o umbigo, ou melhor, fazer esse umbigo ir para cabeça Criar para si um corpo sem órgão, com uma dose de prudência e um mínimo de território para deixar passar as intensidades e fazer o organismo perder o eixo. Desorganizar-se no encontro com outro. Pensar com pé e sambar com o pensamento. Se permitir experimentar esta vulnerabilidade, onde o corpo é vital, volátil, liquido gás e solido, ou seja, múltiplo. Permitir ser devorado e deixar a periferia operar descentralizando a subjetividade em todas as suas esferas, não deixando o corpo ser coordenado por uma dinâmica narcísica que constrói um corpo enrijecido a serviço do imperativo de um pensamento representacional.

Ainda neste processo, aparecem os sintomas como do trabalhador com sua insatisfação estável, que ‘’assegura’’ o sujeito destes terremotos. Cito Suely Rolnik, num trecho do texto Geopolítica da Cafetinagem: “na política de subjetivação em curso tem sido a anestesia da vulnerabilidade ao outro – anestesia tanto mais nefasta quando este outro é representado como hierarquicamente inferior na cartografia estabelecida, por sua condição econômica, social, racial ou outra qualquer. É que a vulnerabilidade é condição para que o outro deixe de ser simples objeto de projeção de imagens pré-estabelecidas e possa se tornar uma presença viva, com a qual construímos nossos territórios de existência e os contornos cambiantes de nossa subjetividade”

Como fazer desta política de subjetividade uma forma de criar um Brasil onde a Europa se desloque do umbigo do mundo? Onde a periferia e o centro não mantenham relações de hierarquia e as subjetividades brasileiras não se definam apenas pelo neo-arcaísmo da Igreja Pentecostal ou pelo estilo de musica Tecno-Brega, mas que estas esferas possam se devorar e se contaminar a ponto de produzir uma hibridização da cultura, da sexualidade, da política, da estética e por fim da ética.

Novas subjetividades brasileiras estão a todo vapor criando suas formas de vida fora de grandes instituições; nas esquinas, nos morros, nos bares, na rua, no camelo, no baile Funk, nas praças. Um Brasil que se múltipla em brasis, uma potência para certa resistência, criar um Brasil sem O Brasil Maior. Uma produção de subjetividade que não para de ser produzida em uma velocidade tamanha que não cabe mais um nome ou um sobrenome e muito menos: deve ser assim o Brasileiro. Em troca desta identidade, uma subjetividade de brasileira que experimenta um exercício intensivo das ruas, o mergulho do corpo vivo e precário, dos sujeitos vulneráveis, mas livres na via esquizo dos devires, nos atritos entre intensidades heterogêneas e seus efeitos violentos que desmancham, criam  formas de existências munidos de potência, que devora o capital e faz dele instrumento de resistência, de sobrevivência e portanto ameaçam o capital por não entrarem na cadeia produtiva.

Assim, ao invés dos corpos determinados biologicamente, corpos selvagens atravessados pelas experiências, ao invés do inconsciente freudiano, o inconsciente antropofágico do intestino e do pé é a ética da alteridade. Abrir canais, criar rachaduras, criar gagueira na própria língua disse Deleuze. Inventar uma língua de cabeça para baixo.

São os Franciscos, os Joãos, os Silvas que na insistência da sub-existência, revelam que é preciso resistir a tradição, sem resignação, mas que insista na transformação e na produção de um outro modo de vida sub. Como diz Negri é : “Ao lado do poder, há sempre a potência. Ao lado da dominação, há sempre a insubordinação. E trata-se de cavar, de continuar a cavar, a partir do ponto mais baixo: este ponto … é simplesmente lá onde as pessoas sofrem, ali onde elas são as mais pobres e as mais exploradas; ali onde as linguagens e os sentidos estão mais separados de qualquer poder de ação e onde, no entanto, ele existe ; pois tudo isso é a vida e não a morte.”

Afinal toda essa antropofagia vira Youtube e novela.

Fonte: Rede Universidade Nômade

"O Brasil riremos por último, de vocês todos, até dos “cães de guerra” (by Shakespeare), do STF-2012!" (Redecastrophoto)

PICICA: "O ministro José Dirceu está sendo julgado PRECISAMENTE porque aqueles ministros do STF são manifestação de todas as forças mais reacionárias que jamais houve no Brasil, apenas que, hoje, mais “civilizadas”. As mesmas forças, em estado mais “bruto”, mataram Getúlio. Mas o Brasil avançou muito! Hoje, aquelas mesmas forças reacionárias já não têm poder para matar o ministro José Dirceu, o presidente Lula, a presidenta Dilma e os votos da maioria dos brasileiros que são avalistas da democracia brasileira, hoje, mais poderosos, os nossos votos, do que jamais foram, em 500 anos. Então aqueles ministros, que vestem a toga como se usassem cetro e coroa -- ou o pelourinho e o tronco! -- lá ficam, consumindo tardes e tardes e tardes infindáveis naquela patética “leitura de votos”... Como se a extensão dos votos lidos, as pilhas de páginas engordadas com detalhes de inquérito policial, com raras linhas de consideração ao que determina a lei, bastasse para acrescentar conteúdo democratizatório aos tais “votos”!"

Não e não! Nunca, D. Hildegard! Dirceu vive!


O Brasil riremos por último, de vocês todos, até dos “cães de guerra” (by Shakespeare), do STF-2012!

Ainda sob o impacto da cena detestável montada pela jornalista Hildegard Angel [1], não se sabe se por ingenuidade, mas prova de que não se podem misturar jornalismo e política, nos sentimos na obrigação de lembrar algumas coisas. 
Há zilhões de zilhões de coisas que se têm de lembrar. Não conseguiremos lembrar muitas, nem há tempo. Mas lembraremos aqui, pelo menos, uma: 
-- o contexto narrativo, discursivo em que, na peça de Shakespeare, acontece o discurso que a jornalista Hildegard Angel desossou e subutilizou. 
Evidentemente, o discurso do “vim enterrar Cesar, não vim elogiar Cesar” não é toda a conversa. Se fosse, nem Shakespeare seria Shakespeare! [risos, risos] 
Antes daquele discurso, Marco Antonio chegara ao Senado, momentos depois do assassinato de Cesar, resultado de complô de cuja armação Marco Antônio tinha conhecimento. Em vários sentidos, Marco Antônio é cúmplice dos assassinos; num mínimo por não ter impedido o assassinato; noutro mínimo, por ser amigo de césares. Sempre fora amigo daquele Cesar e sabia o quanto Cesar não acreditara nos muitos sinais prévios de que o complô estava em marcha. (Daí, aliás, a surpresa de Cesar, já convertida em dito popular: “Até tu, Brutus?!”). Exatamente por Marco Antônio ser notório amigo de Cesar, a multidão o recebe mal, supondo que ele viesse “elogiar o ditador”, uma das falas que se ouvem “da massa” fascistizada, antes de a massa ser conduzida/persuadida pelo discurso de Marco Antônio a começar a desconfiar mais dos senadores que de Cesar. Por isso, para explicar a que veio e ganhar alguma confiança da massa, Marco Antônio abre seu discurso com uma justificativa: 
“vim enterrar, não elogiar”. 
Mas, antes disso, na cena anterior, chegado ao Senado, Marco Antônio conversara com os senadores assassinos. Todos ali se conhecem muito bem. Marco Antonio pede licença aos senadores assassinos para falar à assembleia, fazer uma espécie de “encomendação” do morto. Os senadores lhe dizem que sim, que pode falar, mas que tenha cuidado com o que vai dizer. Que nada diga contra os assassinos. Que meça as palavras. Mas que, sim, tem autorização para falar à assembleia. De lado, entre eles, os senadores comentam que será bom, mesmo, que fale, como “prova” de que o Senado (para a jornalista Hildegard Angel, o STF) seria “isento”. 
Então, os senadores assassinos saem para a praça (não sem antes examinarem as túnicas: que não aparecessem eles, lá, ainda respingados de sangue!). Marco Antônio fica a sós com o morto. E ali, então, sim, antes de ir à praça, ele fala, de fato, pelo morto
Essa fala é muito mais politicamente significativa, do que o discurso posterior, à multidão.
De fato, nem se pode entender corretamente o discurso à multidão, senão no contexto narrativo da peça. 
Marco Antônio sabe que aquele assassinato põe Roma sob grave risco. Não se trata, absolutamente não, de pedir que algum Senado/STF “faça justiça”. 
Trata-se, isso sim, no discurso de Marco Antônio do “vim enterrar (etc.)”, de ele conseguir-fazer-ver – conseguir mostrar! – à multidão, um Senado/STF que, das duas, uma ou ambas: 

(a) ou o Senado/STF se deixou conversar pela baboseira moralista, justiceira, vingancista, metida a “ética” do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) udenista e eternamente golpista no Brasil há mais de 60 anos; ou trata-se de Marco Antônio conseguir mostrar à assembleia (b) que o próprio Senado romano/STF é, ele mesmo, uma desgraçante fonte desdemocratizatória de mal “legalizado”. 
Porque, se Marco Antônio não conseguir mostra (a) ou (b) acima, ou (a) e (b), e o povo for mantido engambelado, duas desgraças acontecerão: 
(c) O Senado/STF desmoraliza-se, de vez; além de assassino, terá também fracassado no servicinho, reles, sujinho, mas ainda importante, de manter a aparência de grandeza de Roma (ou de manter ativa a reles democracia que há no Brasil; que é reles, mas que, pelo menos, arremedo de democracia e reles, que seja, ainda tem de manter algum ar de democracia, porque, se não mantiver, nem a luta pela real redemocratização do Brasil conseguirá avançar). E, segundo, 
(d), se o Senado/STF desmoralizar-se de vez, Roma se torna ingovernável. E se acaba. E babaus pré-redemocratização engatinhante, hoje em curso no Brasil. 
Exatamente porque Marco Antônio sabe de tudo isso é que ele sabe que tem o dever político (não algum “dever de amigo”! Que besteira é essa, D. Hildegard?! Numa hora dessas?! Faça-me o favor!) de falar à Assembleia: para impedir que a multidão deseducada, desdemocratizada, manipulada-conduzida-enlouquecida-fascistizada pelo gesto assassino dos senadores/STF, decida julgar, ela mesma, todos os crimes de todos os senadores e degolá-los na praça, operação na qual o primeiro degolado seria, só pra começar, o império romano. Ou, no caso, Brasília inteira, o STF e toda a frágil, reles, fragilíssima quase-democracia brasileira.
O discurso de Marco Antônio, portanto, não é discurso para “falar a favor” do morto, ou falar “como amigo” do morto, nem, muito menos, ocasião para “explicar o morto”. Marco Antônio sabe que nenhum morto jamais será despido, pela morte ou pelo amor dos amigos, da própria história e papel político – nem por sentença de algum STF! É o contrário disso! A assembleia tem de despertar para a consciência do próprio poder: cabe a ela democratizar o senado romano e o STF-2012 em Brasília. Trata-se disso. 
Mais uma: o discurso de Marco Antônio não é, de modo algum, “emotivo” ou “emocional” – o que o xororô da jornalista Hildegard Angel é e só é. É, outra vez, o contrário disso, e mais um traço que a jornalista Hildegard Angel não soube ler em Shakespeare. 
O discurso de Marco Antônio é discurso milimetricamente construído como peça pensadíssima de oratória política com objetivo claro: Marco Antônio fala, exclusivamente, para fazer reverter a loucura da multidão que, naquele momento, quer mais sangue. Evidentemente, nem Marco Antônio nem Shakespeare cometem a temeridade tola de supor que seria possível persuadir senadores assassinos/STF, assim, só no gogó! 
Como se os senadores assassinos/STF não soubessem da longa, potente, bela história política do ministro José Dirceu! 
Como se estivessem fazendo o que estão fazendo porque não soubessem da importância histórica e das capacidades do ministro José Dirceu! 
Como se não soubessem que o ministro José Dirceu é o ÚNICO sobrevivente da resistência à ditadura que sobreviveu, até hoje, como está -- e felizmente para o Brasil -- ainda próximo, aliado, ombro a ombro, do poder brasileiro democrático. 
O ministro José Dirceu está sendo julgado PRECISAMENTE porque aqueles ministros do STF são manifestação de todas as forças mais reacionárias que jamais houve no Brasil, apenas que, hoje, mais “civilizadas”. As mesmas forças, em estado mais “bruto”, mataram Getúlio. Mas o Brasil avançou muito! Hoje, aquelas mesmas forças reacionárias já não têm poder para matar o ministro José Dirceu, o presidente Lula, a presidenta Dilma e os votos da maioria dos brasileiros que são avalistas da democracia brasileira, hoje, mais poderosos, os nossos votos, do que jamais foram, em 500 anos. Então aqueles ministros, que vestem a toga como se usassem cetro e coroa -- ou o pelourinho e o tronco! -- lá ficam, consumindo tardes e tardes e tardes infindáveis naquela patética “leitura de votos”... Como se a extensão dos votos lidos, as pilhas de páginas engordadas com detalhes de inquérito policial, com raras linhas de consideração ao que determina a lei, bastasse para acrescentar conteúdo democratizatório aos tais “votos”! 
E desde quando, por falar nisso, o fato de algum daqueles ratos do PP terem recebido dinheiro no dia de uma ou outra votação prova(ria) que houve compra de votos?! Desde quaaaaaaaaaando, ministro Joaquim Barbosa?! No mesmo dia em que recebeu dinheiro, um daqueles ratos do PP teve um filho. Está(ria) provado que recebeu dinheiro para ter um filho?! Não fosse tão doentio ridículo, seria de rolar de rir. 
Aqueles ministros conhecem todas as capacidades do ministro José Dirceu! 
Nenhum “mensalão” (que nunca existiu) poderia algum dia ter sido mais corrompedor que o movimento pelo qual o governo de FHC comprou a própria reeleição. Nenhum “mensalão” (que nunca existiu) foi algum dia mais corrompedor que as operações pelas quais todo o dinheiro das privatizações foi “desaparecido” -- e jamais buscado! 
A Privataria Tucana aí está, um catatau de provas suuuuuuuuper probatórias e já reunidas e publicadas, mas ainda à espera da atenção do ministro Joaquim Barbosa... Mas o STF, agora, tem de fazer o diabo, pra tentar enterrar Dirceu vivo! É a lei. Como repete a jornalista Hildegard Angel. E a jornalista Hildegard Angel é jornalista honrada. 
O que Marco Antônio e Shakespeare sabem e fazem por aquele discurso é coisa muito diferente disso. Os dois sabem que têm de tentar persuadir a multidão e impedir que a loucura assassina que vem “de cima” se alastre, sem controle possível, para “baixo”. E basta saber disso, para ver que a jornalista Hildegard Angel cometeu uma temeridade (no mínimo), naquela “paráfrase” arrogante. 
O que nos interessa lembrar é que, antes do discurso do “não vim elogiar, vim enterrar” famosésimo, há, em Shakespeare, do mesmo Marco Antônio, sozinho com o corpo de Cesar assassinado, dentro do Senado, o também muito conhecido, embora menos citado por jornalistas e outros re-citadores de repetição – e não por acaso! 
É conhecido como o “discurso contra os cães da guerra”. E esse, sim, é Shakespeare a ser recordado aos ministros do STF e ao Brasil em geral, hoje. 
Aqui vai esse outro discurso, em tradução de trabalho, que fazemos agora, na correria. 
É nossa contribuição para tentar impor alguma racionalidade ao chilique jornalístico-espetaculoso da jornalista Hildegard Angel.
Julio Cesar, Shakespeare, ato 3, cena 1 (em português, mas a tradução é HORRENDA). Fiquem, pelo menos prá começar, com a nossa tradução, abaixo. Todas as correções são bem-vindas.)
BRUTO — Marco Antônio, aqui tens o corpo. No discurso fúnebre, não deves lançar nenhuma censura sobre nós. Dize de César todo o bem que quiserdes, explicando que nós te demos permissão para falar. A não ser isso, ficareis excluído das cerimônias fúnebres. E ainda: tu falarás da mesma tribuna em que eu falar, depois de mim.
ANTÔNIO — É o que desejo. Está bem.
BRUTO — Prepara, então, o corpo e vem conosco.
(Saem todos, com exceção de Antônio.)
ANTÔNIO, ao cadáver — Meu amigo, pedaço de terra a verter sangue, perdoa que me mostre humilde e brando com estes carniceiros! Fizeram de ti a ruína do mais nobre homem que jamais viveu na corrente do tempo. Ai, ai da mão que fez correr tão precioso sangue! Mas aqui vaticino, ante tuas feridas. Falo pelas bocas mudas, que me pedem língua, voz e fala: 
Sobre os teus assassinos e sobre os homens que se calaram, a maldição desabará. Lutas internas sem fim. A mais terrível das guerras civis encherá cada canto dessa Roma. O sangue e a destruição de tal maneira ficarão familiares, vulgares, que até as mães acabarão por sorrir à vista dos filhos massacrados pela guerra. A honra será asfixiada, pelo hábito do crime. O espírito do César assassinado – porque nenhum complô assassina o espírito de um homem que se alimentou do melhor que havia no povo – clamará seu quinhão. E voltará, rubro ainda do inferno, para gritar em tom de mando contra a injustiça: “Luta sem quartel!” Este assassinato horrível empesteará Roma de cadáveres que reclamarão honra e sepultura. E assim se soltarão os cães da guerra.
Então, entra um criado, que ajudará Marco Antônio a preparar o corpo para ser levado a cerimônia, à frente do Senado, onde Marco Antônio fará o discurso do “vim enterrar” etc. etc., que a jornalista Hildegard Angel meteu-se a parafrasear. Mas cujo argumento ela inverte!
Muito estranhamente, a jornalista Hildegard Angel pré-mata. Quer dizer: ela primeiro mata e enterra, preventivamente, um homem vivo! Para, então, por-se a elogiá-lo, em perfeita segurança. Digamos que é movimento tolo. Digamos que não passou disso. 
Felizmente, o nosso ministro José Dirceu está e segue vivíssimo, graças a deus, para o bem do Brasil. E nem de longe corre algum risco de ser morto por sentença do STF. 
O Brasil é infinitamente complexo. Dessa complexidade, vem nossa força. A força que nos trouxe até 2012, e que nos levará adiante. 
O ministro Joaquim Barbosa não fará história. Nós e o ministro José Dirceu, sim, fizemos, fazemos e faremos a história do Brasil. 
Fato é que nem Shakespeare, em toda a sua glória, daria conta da tragicomédia que o STF-2012, que aprende leis, justiça e democracia nos jornais do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão), está escrevendo em Brasília!

Pois que se lixem! Pois inventem lá o que queiram! Façam lá o que lhes dê na telha! Vocês são patéticos! O Brasil é mais! O Brasil riremos por último, de vocês todos.

Também riremos muito desse patético “jornalismo” que desgraça o Brasil, até quando é bem intencionado! 

Dirceu vive! No pasarán! Venceremos! Só a luta ensina! Viva o Brasil! 
São Paulo, 18/9/2012
Coletivo Vila Vudu de Tradutores/redecastorphoto



Notas da redecastorphoto e do pessoal da Vila Vudu
[1] Pode ser visto, como referência, a seguir, mas não se recomenda: é HOR-RÍ-VEL.


[2 Marco Antônio by Shakespeare, como nós e Shakespeare, conhecemos bem os riscos de, naquelas/atuais circunstâncias, deixar falar também o coração, risco aliás idêntico a deixar falar só o coração. Às tantas, Marco Antônio diz: “Permitam-me que me cale, porque meu coração desceu ao túmulo com Cesar. Peço tempo para reencontrá-lo”, fala que é perfeita formação, em discurso, da consciência política clara de que política se faz também com o coração; que se pode fazer até sem coração; mas que nunca, nunca, em nenhum caso, se pode fazer só com o coração (Lênin vive!). Isso a jornalista Hildegard Angel também não soube ler em Shakespeare.

Fonte: redecastrophoto