setembro 24, 2012

"Política e religião: a disputa eleitoral de 2012. Entrevista especial com Maria das Dores Campos Machado" (IHU)

PICICA: "Percebemos que os grupos conservadores estão se aliando não só no Congresso Nacional, mas também na sociedade civil. No plano do Congresso Nacional, os evangélicos fizeram uma parceria com a CNBB e mudaram o nome do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política, em abril de 2011, para Fórum Nacional Cristão de Ação Social e Política. No plano da sociedade civil, foi criado um movimento no Brasil chamado “Em Cristo”, que reúne pastores pentecostais e lideranças carismáticas. Esse movimento já fez vários encontros nacionais e tem uma liderança forte em São Paulo, que é carismática, e a CNBB acompanha e monitora isso muito de perto. Então está acontecendo algo que pode ser pensado como uma saída no campo conservador, que serve de contraponto para as tentativas ecumênicas da década de 1960, início de 1970. A aproximação de hoje, diferentemente da década de 1960, é muito mais em torno de plano espiritual e valores morais cristãos. Então, têm coisas acontecendo na sociedade brasileira que teremos de enfrentar não só nessas eleições, mas nas próximas também, no meio dessa força conservadora."

Política e religião: a disputa eleitoral de 2012. Entrevista especial com Maria das Dores Campos Machado

“Estamos vendo que um grupo de pentecostais está descobrindo que pode se estruturar politicamente em agremiações”, diz a socióloga.

Confira a entrevista.

“Não é só a religião que quer entrar na esfera pública ou os religiosos que querem prosseguir na política, mas as instituições políticas convocam os grupos religiosos para a política”, diz a socióloga Maria das Dores Campos Machado à IHU On-Line, por telefone, ao avaliar o cenário político e as relações estabelecidas entre religião e partidos políticos no Brasil. A capacidade de mobilização dos religiosos, assinala, “tem feito com que eles ganhem uma projeção política e uma capacidade de barganha junto aos políticos”.

Apesar dessa relação não ser recente na história brasileira, talvez o que esteja incomodando nas disputas eleitorais deste ano é o fato de que “os partidos estão sendo hoje, de certa forma, disputados pelos evangélicos”, menciona. Maria das Dores cita o caso do candidato à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, que é católico e concorre à prefeitura pelo Partido Republicano Brasileiro – PRB, liderado por membros da Igreja Universal do Reino de Deus. “Tem uma novidade no ar. É quase como se ele estivesse experimentando uma nova estratégia: aliar-se com os evangélicos. Além disso, ele não é um católico qualquer; é um católico que estava trabalhando na Record. (...) A novidade que tem aí é um pouco neste sentido: os grupos evangélicos estão procurando agremiações partidárias onde eles possam agir mais livremente conforme os seus interesses”, constata.

Na entrevista, concedida por telefone, a socióloga aponta para uma possível transferência de votos do PT para o PRB em São Paulo. “Pela citada pesquisa de opinião pública, parece que isso está acontecendo. (...) Tanto é que a Marta Suplicy entrou na disputa para tentar reverter a situação do PT”. Segundo ela, desde as eleições de 1998, a Universal deslocou posições políticas do PSDB para o PT no sentido de ter uma aproximação com o partido. A estratégia, destaca, valeu uma “vitória” para a Universal “não só porque o Lula foi eleito, mas também porque a Universal teve conquistas significativas. Não é à toa que a Rede Record de Televisão é a segunda maior rede de televisão brasileira”.

Na avaliação da pesquisadora, a interferência religiosa na política tem favorecido grupos conservadores, setores que têm uma agenda “centrada na família, no combate ao aborto e no combate à homofobia e todas às demandas do movimento LGBT”. E dispara: “Há um jogo de alianças de alguns grupos pentecostais em desenvolvimento, que foram muito significativos nos últimos anos. (...) Isso é interessante porque, ao mesmo tempo em que a Universal perde fiéis, ela ganha enquanto grupo, enquanto empresa, ou seja, o grupo ganha enquanto força política”.

Maria das Dores Campos Machado (foto) é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, mestre e doutora em Sociologia pela Sociedade Brasileira de Instrução – SBI/IUPERJ. Realizou pós-doutorado no Instituto de Desarrollo Económico y Social de Buenos Aires, e leciona na UFRJ.

Confira a entrevista.

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