novembro 12, 2012

"Da guerrilha tecnológica à revolução das imagens", por Cárlida Emerim

PICICA: "[...] pensar sobre as imagens se faz extremamente importante numa sociedade cooptada pelo fetiche da visibilidade, mas, principalmente, na perspectiva do telejornalismo contemporâneo que frente a tantas mudanças e imposições, vai perdendo suas características fundantes e esquecendo-se de utilizar o seu bem mais precioso: a capacidade de capturar e reproduzir imagens."

TELEJORNALISMO

Da guerrilha tecnológica à revolução das imagens

Por Cárlida Emerim em 06/11/2012 na edição 719
Prefácio de Telejornalismo Imaginário – Memórias, estudos e reflexões sobre o papel da imagem nos noticiários de TV, de Antonio Brasil, 210 pp., Editora Insular, Florianópolis, 2012, R$ 36; título original “Da guerrilha tecnológica à revolução das imagens: inovação em cada pixel”, intertítulos do OI; lançamento na sexta-feira (9/11), durante o 10° Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo na PUC-PR

Pensar as imagens, as produções audiovisuais, que são uma espécie de catalisadores do inconsciente, que interpretam e traduzem para as telas aquilo que são nossos desejos mais secretos, nossa voz interior. Tarefa nada fácil.

Na contemporaneidade, as imagens alcançam um poder de persuasão e identificação com um grande número de espectadores das mais variadas idades, classes sociais, com anseios e desejos diferenciados, dos mais diversos estilos, enfim, ecléticos. O fato de se consumir imagens eletrônicas tão intensamente faz agir como num sonho, onde se assimila, praticamente por osmose, o que de racional existe no mundo; assimilação essa que é mediada e potencializada pelas imagens.

Imagem – imaginação, efeitos de sentido de um tempo, de uma cultura, de uma memória, em princípio individual, porém, desde o nascimento, coletiva.

Imagem – máquina, expressiva e reveladora, ao mesmo tempo, representação do mundo, reflexo de um espelho, elemento de um processo complexo e sempre incompleto de sentido e de interpretação.
Imagens do mundo que se apresentam, que são exibidas diariamente e nas quais procura-se olhar para encontrar as imagens dos outros, mas principalmente, de nós mesmos (semelhantes e diferentes).

Imagens sínteses da convergência, desde sua essência como imagem televisiva, eletrônica, nervosa, feita de sulcos e marcas profundas, influenciadora e permanente, presente na vida e na televisão cotidiana das pessoas.

Rotina produtiva

Televisão é imagem, trata-se de um senso comum, mas, em verdade, poucos conseguem compreender porque a imagem é o produto principal, o negócio que faz a televisão funcionar. Antonio Brasil é um destes poucos privilegiados que compreendem, perfeitamente, o poder, a influência e a importância da imagem na televisão e no telejornalismo. E esta compreensão é fruto de um longo tempo dedicado a produzir e a pensar sobre a imagem, como cinegrafista da Rede Globo de Televisão, como coordenador de uma equipe de produtores de imagens que prestavam serviços a diferentes emissoras e, finalmente, como professor universitário dedicado ao ensino e a pesquisa em telejornalismo, em televisão, em imagens.

Atuações que já o qualificariam como um observador diferenciado deste elemento, porém, Antonio é também um homem de visão, preocupado com o futuro e com as interfaces possíveis destas novas tecnologias aplicadas a televisão e ao telejornalismo. Não por acaso, suas pesquisas preocupam-se em pensar e refletir, mas, também, produzir imagens, mostrar in loco em produções televisivas como o telejornalismo e as imagens podem apoderar-se destas facilidades tecnológicas, adequar seus processos produtivos e inovar.

Inovação, aliás, é outra grande meta perseguida por Antonio que busca, incansavelmente, novas propostas produtivas num claro comprometimento teórico e ideológico com a pesquisa – ação.
No presente livro, fruto de muitas reflexões desenvolvidas em mais de 40 anos de atividade como jornalista – sim, é Antonio uma cabeça pensante desde sempre – os capítulos vão trazendo propostas de apropriação de linguagem e de modos produtivos costurados com a preocupação em alçar a imagem ao seu lugar de direito na rotina produtiva, demarcando o seu papel preponderante e fulcral na construção da informação televisiva.

Registro concreto

O telejornalismo imaginado é aquele que emprega com carinho e afeto o poder de exibir imagens do mundo, dos seres e das coisas do mundo.

O telejornalismo da memória, cujas imagens agrupam-se como inúmeras gavetas (nem sempre abertas) a disposição do público espectador e dos produtores de tevê.

O telejornalismo que aprendeu com o cinema, que aprendeu com a fotografia e, principalmente, com a televisão, como formatar, capturar, produzir e exibir imagens com vistas a proporcionar, ao público espectador, novas possibilidades interpretativas.

É por sobre esses caminhos da televisão eletrônica que se debruça o guerrilheiro das imagens Antonio Brasil, na perspectiva concreta de apresentar o papel da imagem nos noticiários televisivos com vistas a contribuir para a proposição de um conceito inovador de imagem, que insere a prática e a visualidade do videogame como um processo de construção de conhecimento e de sentido.

Sem dúvida, pensar sobre as imagens se faz extremamente importante numa sociedade cooptada pelo fetiche da visibilidade, mas, principalmente, na perspectiva do telejornalismo contemporâneo que frente a tantas mudanças e imposições, vai perdendo suas características fundantes e esquecendo-se de utilizar o seu bem mais precioso: a capacidade de capturar e reproduzir imagens.

Neste aspecto, Antonio nos conduz com maestria pelos pixels imagéticos, perpassando a análise sobre as suas condições de produção, circulação e reconhecimento. E faz isso sem perder de vista sua grande preocupação: o registro concreto e efetivo das imagens e de seu papel na construção da notícia na televisão.

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Apresentação
Antonio Brasil


“Ah, eu estou vivido, repassado. Eu me lembro das coisas, antes delas acontecerem.” (Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas)

 Em 2013, faço 40 anos de jornalismo. Foi no século passado, no longínquo ano de 1973 que tive minha carteira de trabalho assinada pela TV Globo com o registro profissional de “jornalista”. Minha função era incomum para um estudante de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Em vez de optar pela palavra, decidi pela imagem. Meu registro profissional indicava “repórter cinematográfico”. Ou seja, faria reportagens para TV com os recursos audiovisuais do cinema como método investigativo e escreveria meus textos com imagens para a TV. Muito antes da era digital, praticava a “convergência midiática” em uma trajetória profissional e acadêmica no jornalismo.

Além de considerar este livro com um projeto autoavaliativo, acredito que ele acaba tornando-se um instrumento confessional de meus sonhos. Em algum momento de nossas vidas é preciso fazer um “inventário” de nossas ações e realizações. De nossos erros e acertos. Em algum momento é preciso partilhar o passado com o futuro, os nossos alunos.

Resolvi comemorar essa data com um novo livro. Trata-se de uma seleção de artigos sobre temas relacionados entre o Jornalismo, a Televisão e a Imagem. Apesar de muito vivido e repassado, procuro prever o que ainda pode acontecer. Selecionei algumas memórias de forma cronológica e crítica. São momentos que considero representativos de uma longa trajetória pessoal, profissional e acadêmica dedicada ao telejornalismo.

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[Cárlida Emerim é jornalista, professora adjunta e pesquisadora na área de Telejornalismo e Imagem da Universidade Federal de Santa Catarina, coordenadora de pesquisa do Departamento de Jornalismo da UFSC]

Fonte: Observatório da Imprensa

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