novembro 15, 2012

Filme-paródia do processo de desmanicomialização à sedação social (a luta antimanicomial lá e cá)

PICICA: O Ministério Público de Sorocaba ignorou. Já o Conselho Superior do Ministério Público aceitou a denúncia. Resultado: mais um hospital psiquiátrico interditado no Estado de São Paulo. Em Manaus, no Estado do Amazonas, ao contrário. Denúncia anônima nas páginas no facebook mal esconde o desejo de permanência do hospício como parte da paisagem da cidade. O texto apócrifo abusou do apelo sentimental, ao por o foco da atenção nos internos de longa permanência sem mencionar o que lhes reserva para o futuro próximo: além de  terem tido seus direitos de cidadania restritos, devido ao longo período de hospitalização, quando se esperava que eles pudessem ser beneficiados pela implantação de Serviços Residenciais Terapêuticos (uma espécie de lar abrigado) nas redondezas de onde passaram parte de suas vidas, próximos dos equipamentos culturais, sociais e de saúde, pretende-se, ao contrário, levá-los para um longínquo bairro da cidade. Quanto ao texto anônimo é possível reconhecer a quem pertence o discurso que o sustenta. É conhecido no setor os que o vocalizam: reformistas de araque. Mesmo que tenha surgido um suposto autor do texto, o discurso não lhe pertence. Curiosamente, o suposto autor e os que se escondem por trás dele em nenhum momento pedem o fechamento, tampouco é reivindicada a implantação de uma rede de serviços substitutivos ao velho hospício. O caso foi parar num jornal local que faz parte de um conglomerado de comunicação. O tratamento dado à matéria já não apela ao sensacionalismo vulgar, como o fez o extinto "Correio Amazonense" ao publicar uma matéria com fotografias de um jovem em suposto surto psicótico (verificou-se mais tarde que tratava-de uma pessoa em crise epilética), que levou a Associação Chico Inácio - filiada à Rede Internúcleos da Luta Antimanicomial - a protocolar queixa no Ministério Público do Amazonas exigindo retratação do jornal. O mais intrigante no episódio atual é que sabendo-se da desativação progressiva do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro (seu ambulatório já não existe mais), iniciada neste ano, o tema não mereceu por parte da empresa jornalística uma pergunta sequer sobre os projetos políticos dos candidatos à prefeitura de Manaus (responsável pela implantação da rede de serviços que substituem o manicômio: CAPS - Centros de Atenção Psicossocial; Centros de Convivência) para o setor. Não foram poucos os debates públicos, as entrevistas com os candidatos... mas nenhuma pergunta foi formulada pelos jornalistas, nenhuma sequer. A resposta do gestor colhido pela jornal, por sua vez, contemplou apenas uma ínfima parte da verdade contida na denúncia, para a qual foram usadas antigas fotografias. Não é preciso muito esforço para identificar o discurso dos insatisfeitos, que apelam para os bons sentimento cívicos da sociedade amazonense. O que os denunciantes deixaram de lado é a precariedade do tratamento de agudos, que depois de passar 72 horas no Pronto-Atendimento do Hospital Psiquiátrico, muitas vezes requer um período mais elástico de cuidados e não há espaço para tanto. Aí reside a esperança do discurso manicomial: manter o hospício para internações mais prolongadas. O que é absolutamente desnecessário. O diretor do Hemoam, em entrevista recente à TV local, tornou público que a construção do Hospital do Sangue, como parte do projeto de expansão daquele centro de hemoterapia, em terreno do antigo hospício, tem prevista uma área para Saúde Mental. Portanto, tirem o cavalinho da chuva, reformistas de araque! A luta é para vivermos numa sociedade sem manicômios, com lugares adequados para cuidados dos casos agudos em psiquiatria. Hospícios nunca mais!

Publicado em 11/11/2012 por
Este filme é uma paródia (de fatos reais), a partir de uma pesquisa realizada pelo Fórum da Luta Antimanicomial de Sorocaba (FLAMAS) sobre os Manicômios de Sorocaba e Região (link abaixo). A pesquisa gerou uma denúncia, mas foi recusada pelo Ministério Público de Sorocaba.

Posteriormente, com a investigação do Programa Conexão Repórter (links para a reportagem investigativa abaixo), e a investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o Conselho Superior do Ministério Público aceitou a denúncia, o que culminou na interdição do Hospital Psiquiátrico Vera Cruz, na cidade de Sorocaba. O processo sobre o caso está em andamento em segredo de justiça.

O filme também usa informações sobre o artigo ´Da Desmanicomialização à Sedação Social´, ver abaixo.

Pesquisa completa do Flamas sobre os Manicômios de Sorocaba e Região http://flamasorocaba.files.wordpress.com/2011/09/dossie-setembro-18-09-2011.pdf

Programa Conexão Repórter sobre o Hospital Psiquiátrico Vera Cruz de Sorocaba:

parte 1 http://bit.ly/TBaMpl
parte 2 http://bit.ly/OfkcsY
parte 3 http://bit.ly/TRa607

Web site do Programa Conexão Reporter http://www.sbt.com.br/conexaoreporter/

Conexão Reporter no Facebook http://www.facebook.com/pages/Conex%C3%A3o-Rep%C3%B3rter/206989996006421

Blog do Fórum da Luta Antimanicomial de Sorocaba (FLAMAS) http://flamasorocaba.wordpress.com/

Flamas no Facebook http://www.facebook.com/flamas.sorocaba

Da Desmanicomialização à Sedação Social - Por João Eduardo Madureira.

Assim como o processo abolicionista no Brasil, que manteve a escravidão longe dos olhos da comunidade internacional por mais 30 anos, mesmo depois da assinatura da Lei Áurea de 13 de maio de 1888, que extinguiu a escravidão negra no Brasil, o processo de desmanicomialização é irreversível e inevitável -- ainda que tarde diante das circunstâncias.
Em breve, com o processo de desmanicomialização finalizado, o Fórum de Luta Antimanicomial de Sorocaba [FLAMAS], assim como o Movimento Antimanicomial, também conhecido como Luta Antimanicomial passará a figurar apenas nos anais da história recente, ou contemporânea.
No entanto, já prevendo o irreversível e inevitável, e consequentemente a redução da demanda, a indústria farmacêutica, fornecedora de medicamentos e grande parceira das instituições psiquiátricas, desenvolveu uma estratégia substitutiva, juntamente com a classe médica, que é a modalidade da sedação social.
Como que se já não bastasse a Cocaína e o Crack, um boletim técnico elaborado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) quantificou pela primeira vez em detalhes o consumo de drogas vendidas com receita controlada que podem causar dependência química.
Ansiolíticos estão entre remédios mais consumidos pela população brasileira entre 2007 e 2010. De acordo com Alex Rodrigues Repórter da Agência Brasil, apesar de serem de uso controlado, os ansiolíticos, indicados para o controle de ansiedade e tensão, estão entre os medicamentos mais consumidos no país nos últimos anos. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), esses inibidores do sistema nervoso central têm sido mais consumidos no Brasil do que muitos medicamentos que não exigem receita médica.
De acordo com o Boletim do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados, desde 2007 os ansiolíticos feitos a partir de substâncias como clonazepam, bromazepam e alprazolam são os mais consumidos entre os 166 princípios ativos listados na Portaria SVS/MS nº 344.
Os ansiolíticos estão entre os remédios conhecidos por "tarja preta", e só podem ser comprados em farmácias registradas e autorizadas pela ANVISA (Portaria SVS/MS nº 344). No entanto, é comum entre a classe médica a prescrição de ansiolíticos, mesmo sem qualquer diagnostico, como é o caso de pacientes que apresentam simples sintomas de depressão.
Outros fatores preocupantes incluem o uso continuado dos medicamentos, que estão diretamente ligados à questão da dependência química, e a utilização indiscriminada por pessoas acima dos 60 anos de idade, no Brasil. Muito embora a ANVISA ainda não tenha dado a atenção necessária, os fabricantes de ansiolíticos no exterior não recomendam o uso continuado, assim como a sua utilização por pacientes da Terceira Idade, ao contrario do que é praticado no Brasil.
Um negocio milionário para as indústrias da receita médica e farmacêutica, a venda legal de Rivotril -- nome com o qual é comercializado o ansiolítico produzido a partir do clonazepam -- saltou de 29,46 mil caixas em 2007 para 10,59 milhões em 2010. A ANVISA estima que só em 2010 os brasileiros gastaram ao menos R$ 92 milhões com Rivotril.
Entre os ansiolíticos, o segundo mais comercializado, o Lexotan (bromazepan), vendeu, em 2010, 4,4 milhões de unidades. Já o Frontal (alprazolam) registrou 4,3 milhões de unidades.

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