fevereiro 09, 2013

"O céu que (não) nos protege" (Psicotramas)

PICICA: "“… a morte está sempre no caminho, porém o fato de nunca se saber quando ela chegará, parece amenizar o caráter finito da vida. É aquela precisão terrível que odiamos tanto. E como não sabemos, temos a tendência a encarar a vida como um poço inesgotável. Entretanto, tudo só acontece uma determinada quantidade de vezes e, na realidade, uma quantidade muito pequena. Quantas vezes mais lembrar-se-á de uma certa tarde em sua infância, alguma tarde que faz tão profundamente parte de seu ser que não conseguiria imaginar sua vida sem ela? Talvez quatro ou cinco vezes mais. Talvez nem isso. Quantas vezes mais assistirá ao nascimento da lua cheia? Talvez vinte. E, no entanto, tudo parece não ter limites.”

O céu que (não) nos protege



O inapreensível, tá sempre aí, por trás de tooooda a aparência do mundo, coladinho ao mundo mes-mo – y no entanto nós insistimos em num vê-lo:

Port: ‘You know, the sky here’s very strange. I often have the sensation when I look at it that it’s a solid thing up there, protecting us from what’s behind.’

Kit: ‘But what is behind?’

Port: ‘Nothing, I suppose. Just darkness. Absolute night.’

“The Sheltering Sky” (Bernardo Bertolucci, 1990)

Aceitar o inapreensível exige que se atravesse o MAR… Fôlego&Saúde, pois. Do magnífico romance do Bowles, adoro quando Port diz (no filme é o próprio Bowles quem recita essas linhas, em bela solução do diretor y olhando-nos! LIN-DO!!!!!):

“… a morte está sempre no caminho, porém o fato de nunca se saber quando ela chegará, parece amenizar o caráter finito da vida. É aquela precisão terrível que odiamos tanto. E como não sabemos, temos a tendência a encarar a vida como um poço inesgotável. Entretanto, tudo só acontece uma determinada quantidade de vezes e, na realidade, uma quantidade muito pequena. Quantas vezes mais lembrar-se-á de uma certa tarde em sua infância, alguma tarde que faz tão profundamente parte de seu ser que não conseguiria imaginar sua vida sem ela? Talvez quatro ou cinco vezes mais. Talvez nem isso. Quantas vezes mais assistirá ao nascimento da lua cheia? Talvez vinte. E, no entanto, tudo parece não ter limites.”

Trêsvi o belíssimo filme do Bertolucci y trêsli o excelente romance do Bowles editado há anos, enxuto&denso, muitíssimo bem escrito.

O céu que (não) nos protege: a metáfora do calor opressivo do deserto remete à opressão interna dos personagens, porque pra onde vamos, levamos nossos tormentos. Esta proposta básica é magnífica. No início daquela viagem, os personagens dão a impressão de serem simples-mente jovens, aventureiros&invulneráveis. Pero… é essa mesmíssima juventude irriquieta que os impele à 1 – digamos – estranho fascínio pelo imponderável! Aos poucos, transparecem toooodas as angústias y eles são catapultados a situações-limite. A morte de Port é uma lenta agonia, em que a cumplicidade de Kit, cuidando do marido, dá a medida de que a cumplicidade existe mesmo em relações destroçadas… desde que tenham sido relações fortes, ainda que fortes em… dor. O (?)bom&véio desamparo… e cá estamos diante de toooodo o arsenal de nossas insuficiências básicas… diante do primal fear.

E nesse sentido o Bowles brinca com Avessossss, pois o tal “céu que nos protege” o faz de intangíveis periculosidades céu acima…

[Boa descrição do Ubiratan ("O deserto sem oásis de Paul Bowles") no link aí, ressalto a brincadeira bem colocada do Bowles com o nome "Tunner" do personagem cataliza-dor do casal central... http://migre.me/d94Fp]

Tudo nesse filme é ex-ce-len-te, segue a trilha sonora-merguuuulho do Ryuichi Sakamoto de presente pra vocês:



Fonte: Psicotramas

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