junho 30, 2013

"O dia em que burlei a Ditadura da Copa" - Relato de Anita C. (Esse post é dedicado a Christiane Maciel de Lima)

PICICA: "Vi bandeiras estendidas na mureta de outros setores e lá fui eu. Escolhi um deles e estendi minha faixa. De dentro do campo funcionários se mobilizavam e diziam pra eu tirar a faixa dali. Na arquibancada dois funcionários vieram atrás de mim, me disseram a mesma coisa e me pediam pra eu voltar ao meu lugar, chegaram a tentar TOMAR minha faixa. Eu perguntei: tem outras faixas estendidas, porque quer tirar a minha? O funcionário respondeu que aquela a FIFA NÃO DEIXAVA! Disse pra que eles não tocassem em mim ou na faixa, que eu havia lido a lei geral da copa e sabia que estava garantido meu direito à liberdade de expressão (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/Lei/L12663.htm ). A torcida vendo aquilo começou a me defender. Cantavam como forma de protesto: “O povo unido jamais sera vencido”. “ O Rio acordou” “O Maraca é nosso..ahaaa uhhuuu!”. Cantaram também o hino nacional e o grito que eu mais gostei: “ EI FIFA, VAI TOMAR NO CU!”. Teve gente que discutiu com os funcionários, muitos vieram segurar a faixa comigo, e filmavam e tiravam fotos."

O dia em que burlei a Ditadura da Copa

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Relato de Anita C.:

Quando eu soube que ganharia um ingresso para assistir o jogo entre Espanha X Taiti no Maracanã, pela Copa das Confederações (206\13), a primeira coisa que pensei foi em aproveitar a oportunidade pra mostrar minha indignação com toda essa pouca vergonha que está por trás desses mega eventos.

Fiz uma faixa e a levei escondida, pois já imaginava que poderia ser barrada. De fato, dentro do estádio, muitas pessoas, entre elas repórteres, se espantavam e me perguntavam como consegui entrar com ela. Faixas e cartazes de muitos torcedores foram barrados por policiais ainda do lado de fora, mesmo os que nem estavam criticando os mega eventos. Uma conhecida que também conseguiu entrar com uma faixa denunciando as demolições e privatizações, teve a mesma apreendida.

Quando abri minha faixa, a reação dos torcedores foi ótima, as pessoas queriam ler, tirar fotos, filmar… Fui então percorrendo o setor onde eu estava de acordo com o chamado das pessoas. Quando quis estender a faixa na mureta que separava a arquibancada do campo, um dos caras de colete laranja que estava no campo, veio me dizer que eu não poderia estendê-la ali pois era justo onde a câmera filmava, respeitei.


Vi bandeiras estendidas na mureta de outros setores e lá fui eu. Escolhi um deles e estendi minha faixa. De dentro do campo funcionários se mobilizavam e diziam pra eu tirar a faixa dali. Na arquibancada dois funcionários vieram atrás de mim, me disseram a mesma coisa e me pediam pra eu voltar ao meu lugar, chegaram a tentar TOMAR minha faixa. Eu perguntei: tem outras faixas estendidas, porque quer tirar a minha? O funcionário respondeu que aquela a FIFA NÃO DEIXAVA! Disse pra que eles não tocassem em mim ou na faixa, que eu havia lido a lei geral da copa e sabia que estava garantido meu direito à liberdade de expressão (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/Lei/L12663.htm ). A torcida vendo aquilo começou a me defender. Cantavam como forma de protesto: “O povo unido jamais sera vencido”. “ O Rio acordou” “O Maraca é nosso..ahaaa uhhuuu!”. Cantaram também o hino nacional e o grito que eu mais gostei: “ EI FIFA, VAI TOMAR NO CU!”. Teve gente que discutiu com os funcionários, muitos vieram segurar a faixa comigo, e filmavam e tiravam fotos.


Fui em uns 3 ou 4 setores além do meu. A história se repetia. Funcionários tentavam TOMAR minha faixa e me convencer de que eu não podia fazer aquilo, mas a torcida me defendia, segurava a faixa comigo, fotografava, cantava e pulava.


No fim do segundo tempo, estava eu voltando pro meu lugar, quando fui abordada por um PM, no fundo do estádio onde ficam os banheiros e lojas. Me pegando pelo braço ele foi me puxando para onde estava o superior dele, que queria falar comigo! Eu disse que ele me soltasse e em pouco tempo chegou o tal superior. Ele disse que eu não podia fazer aquilo, que eu deveria sentar no meu lugar. Ainda se colocou na frente da faixa quando um cara se aproximou para tirar uma foto. Quando eu pedi que ele desse licença, respondeu que se eu tinha direito de ir e vir, ele também. Ele disse que me acompanharia até meu lugar, mas o jogo acabou, muita gente apareceu e ele deixou de me seguir.


Já estive muitas vezes no Maraca, algumas ainda criança com o meu pai. Não houve uma só vez que não tenha sido emocionante. Quem já foi sabe! Mas nesse novo Maracanã todos estavam sentadinhos e comportados, nenhum batuque, nenhum grito de guerra, nenhum apito, nenhum palavrão! Nada! Todos seguindo esse padrãozinho mundial que jogou nossa cultura no lixo! No intervalo entre segundo e primeiro tempos, dos auto falantes se ouvia algo do tipo: Por favor, permaneçam em seus lugares para evitar tumulto.


A FIFA, o Eike Batista e esses governantes de merda MATARAM O MARACANÃ!


Foi apenas quando o povo me defendeu das tentativas da FIFA de TIRAR O DIREITO de me manifestar e expressar, que eu senti um pouco da alma do velho Maraca. Todos gritando e cantando juntos! Todos pulando! A galera unida, se abraçando mesmo sem se conhecer! Fora dos seus lugares! No meio da passagem! Fazendo um pouquinho de tudo aquilo que estava contido à força bruta…
Acorda, gente! O preço dos ingressos serão absurdos daqui pra frente. Não só na Copa. Campeonato Carioca e Brasileirão, agora só pela televisão! Faça seu protesto, leve sua faixa e cartaz, lute contra a DITADURA DA FIFA!


Agradeço a cada um que me apoiou, inclusive a alguns funcionários que o fizeram de forma tímida.

(fonte das imagens:http://extra.globo.com/noticias/brasil/manifestantes-vao-jogo-entre-espanha-taiti-para-protestar-contra-copa-do-mundo-8759672.html e http://extra.globo.com/esporte/copa-confederacoes/mesmo-proibida-pela-fifa-torcida-dribla-stewards-protesta-no-maracana-8762390.html)

Fonte: Das Lutas

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