julho 18, 2013

"Nossa Revolução está sendo televisionada? | author: Rodrigo Bertame" (Linhas de Fuga)

PICICA: "Ainda habita em mim uma certa dúvida, se realmente estamos modificando o jeito de fazer mídia, ou apenas trocando de canal."

Nossa Revolução está sendo televisionada?


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Já dizia SubComandante Marcos, a liderança símbolo anonimo de Emiliano Zapata, “a Quarta Guerra Mundial será a Guerra da Informação”.

Durante todo o decorrer deste movimento de manifestações, os sistemas de informação tem dado o tom, definindo quem é de “bem” quem é do “mau” , destacando quais as pautas mais interessam e invisibilizando quais não devem ser ouvidas pela maioria que está em casa, acompanhando e refletindo sobre as mesmas.

Em um primeiro momento, a mídia tradicional constituída voltou os olhos para os atos, inflou-os, deixou o brado das ruas ecoar por seus espaços, jornais e canais de tv, alcançou o que interessava e agora os pôs no local de sempre em suas programações, pequenas notas e tiradas. Os atos porém não pararam, pois estes estão para além dos monopólios de comunicação, e apesar destes.


Os atos seguem e carregam dentro de si uma coletividade de mídias alternativas, militantes que com seus celulares e tablets lançam seu jornalismo próprio e cru através de suas páginas pessoais de facebook, ou de seus canais de youtube, um jornalismo de enxame, cujo custo é visto é pessoal é pela estratégia e ideologia do militante e cuja massa de produtos somados  estrutura um banco de dados plural, os verdadeiros olhos da cidade e da revolução.

Em meio a todo este redemoinho de movimentações políticas porém, uma mídia alternativa repentinamente surge em hegemonia, como vinda de uma bomba de fumaça, atravessando bombas de gás, repórteres alternativos bem estruturados e organizados despontam em todo o território nacional sob uma mesma bandeira, e com uma estrutura mais profissional de comunicação fazem cobertura das manifestações. 

Carregando seus artefatos, disseminam os combates ao vivo em tempo real em todo o território nacional via streaming pela internet (tecnologia que deixa bem claro um bom investimento em grana na proposta), uma cobertura completa, em climas que pulsam desde clássicos Suspenses Noir até as tensões mais pops ao estilo Datena e similares.


Mais que natural, que um sistema midiático com tais características se torne hegemônico, afinal, dentro do capitalismo quem tem mais estrutura  financeira se fortalece mais rápido e se posiciona melhor em campo, e quem tem menos estrutura vai perder espaço e segue  tentando sobreviver pelas brechas.  Em uma analogia marxista clássica, a manufatura toma bola quando uma indústria se propõe a produzir o mesmo produto.

É interessante também vermos como nossos hábitos estão muito intrincados em nós mesmos, agimos naturalmente diante da mídia que nos fala o que queremos ouvir, que se põe do nosso lado, apesar desta apresentar muito mais semelhanças logísticas e comportamentais com as mídias e redes que tanto combatemos do que diferenças. 


Assim, naturalmente vamos considerando como algo menor, toda esta mídia verdadeiramente horizontal e plural que se produz por celulares, máquinas fotográficas, blogs e afins, que se produz pela multidão, de forma descentralizada, com a força militante de cada um, onde podemos ver diversos lados, diversos pontos de vista sobre o mesmo fato, e vangloriando o nascimento de um novo mega-sistema televisivo que garante aos que acompanham em seus lares momentos de emoção, advindas das ruas. 

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Ainda habita em mim uma certa dúvida, se realmente estamos modificando o jeito de fazer mídia, ou apenas trocando de canal. 

Fonte: Linhas de Fuga

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