julho 30, 2013

POLÊMICA: "O coletivo ´Fora do eixo' e o lado oculto da lua", por Carlos Henrique Machado Freitas

PICICA: “A função de um Ministério da Cultura é mobilizar seres humanos e mantê-los mobilizados. De que forma? Garantindo e dando subsídios ao povo para expressar-se, manifestar-se através de sua arte e de seus saberes. A função essencial da cultura é manter-nos vivos, pensantes e humanizados. A junção de cultura e mercado é um movimento que não foi gerado pelo povo, mas por uma pequeníssima porção da sociedade que detém o controle da economia. O movimento que nós, povo, temos feito, é de frear esse movimento frenético iniciado pela indústria cultural.” (Aressa Rios).

O COLETIVO “FORA DO EIXO” E O LADO OCULTO DA LUA

 



Por Carlos Henrique Machado Freitas
“A função de um Ministério da Cultura é mobilizar seres humanos e mantê-los mobilizados. De que forma? Garantindo e dando subsídios ao povo para expressar-se, manifestar-se através de sua arte e de seus saberes. A função essencial da cultura é manter-nos vivos, pensantes e humanizados. A junção de cultura e mercado é um movimento que não foi gerado pelo povo, mas por uma pequeníssima porção da sociedade que detém o controle da economia. O movimento que nós, povo, temos feito, é de frear esse movimento frenético iniciado pela indústria cultural.” (Aressa Rios).

Minha pergunta sobre o Coletivo Fora do Eixo está relacionada com as fronteiras do debate em diversos níveis que surgiram das ruas nas manifestações. O que observei foi o limite, o desinteresse ou a incapacidade deste coletivo em debater uma das maiores perdições que assolam a cultura brasileira, que são as numerosas frações de recursos públicos concentradas nas mãos de tão poucos grupos empresariais, como é clássico do processo de expansão da racionalidade capitalista.


Pergunto isso em busca de uma verdadeira razão porque o Fora do Eixo surgiu em meio a uma variedade de reivindicações como um triufalista de porta-voz das ruas, e assim ele se coloca no imaginário de muita gente. Lógico que, para a autopromoção, são altamente velozes em suas ações. Sabem utilizar das técnicas para difundir com exuberância a ideia de que são líderes de movimentos contrarracionalidade. Ou seja, contra a ideia superior do sistema financeiro e da própria tradição hegemônica do mercado.

Mas na outra ponta os gráficos apresentados pelo jornalista José Arbex Jr., causam um absoluto espanto, principalmente porque o Fora do Eixo tromba de frente com a sua fantasiosa “filosofia”. “Hoje, segundo os dados da pró­pria organização, o FDE é uma próspera empresa de gestão cultural que agrega 57 coletivos em todo o país, com capacidade para realizar 5 mil shows em 112 cidades.” (José Arbex Jr).

Diante de um dado como este trazido por Arbex, não há como não fazer uma comparação, por exemplo, à mega estrutura de um Rock In Rio, que hoje contempla a sociedade de dois midas da fábula capitalista, Roberto Medina e Eike Batista.


A margem de erro entre um coletivo social do líder Pablo Capilé, como se apresenta o Fora do Eixo, e sua estrutura empresarial, mostra que está longe de ser pequena a incoerência do seu discurso. Talvez, hoje no Brasil, somente as religiões tradicionais conseguem numerosas frações de lugares e de somas como vida econômica e social deste coletivo.


E se o apêndice das manifestações preconiza a horizontalidade, a descentralidade e, sobretudo a expansão da democracia, pergunto: aonde está a verdade do Fora do Eixo em seu discurso? Quais as possibilidades de fugir de uma realidade tão flagrante de paradoxos entre o que se prega nas ruas, estimulando qualquer tipo de manifestação contra o sistema, e o que é colocado robustamente como verdade?


Agora mesmo o poder e a dimensão do cartel do Ecad sofreram uma flagorosa derrota do movimento que fundiu artistas e sociedade, somado a alguns guerreiros políticos e o Ministério da Cultura, para não só suprimir a condição de senhor da criação brasileira ostentada pelo Ecad, mas sobretudo para determinar limites com uma coisa simples, a fiscalização pelo Estado de uma atividade privada que monopoliza compulsoriamente a “defesa” do direito autoral.


Foi gratificante pra todos nós que lutamos contra o Ecad, ver surgir um movimento de intensidade e verdade tão avassaladora que derrubou anos e anos de chantagem de quem dela se utilizava para impor justamente uma pena de prisão aos criadores brasileiros.
Então, novamente pergunto: com uma estrutura dessa que, dentro da realidade da cultura brasileira, mais parece um império, os organizadores do Fora do Eixo, que multiplicam suas relações políticas em função de sua força econômica, para estabelecerem exclusivamente a condição de tutores de comunidades culturais, podem mesmo propagandear sincronicamente com as manifestações a condição de oprimidos pelo sistema? Creio que não, é muita desfaçatez, tal a sua unidade estrutural e o seu distanciamento da realidade de milhões de pessoas ligadas à cultura brasileira.


Acho também que essa escandalosa questão do Fora do Eixo abre espaço para um debate franco sobre a orgia das leis de incentivo à cultura e dos editais perante o fruto da vida solidária de nossa sociedade, que é a cultura. Afinal, estamos falando de milhões de recursos públicos que irrigam o sistema Fora do Eixo.


Creio que a necessidade de um debate se impõe justamente porque, um grupo que se apresenta como movimento social grita, principalmente contra o governo Dilma, mas também contra as bandeiras dos partidos políticos, dos movimentos sociais, das centrais sindicais, etc., de forma arrogante e pretensiosa quando a sua real estrutura empresarial escancara que, na prática, seu discurso é diametralmente oposto ao que todo o seu palavrório propõe como “líder da juventude do novo contra o velho” e todo um alarido cínico de pós-rancor. O que na realidade significa ser um braço das grandes corporações nas manifestações de rua se utilizando das leis de incentivo para cooptação dos incautos.


Fonte: Trezentos

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