outubro 25, 2013

"Dzi Croquettes" - Texto de Thayz Athayde.

PICICA: "Entraram em cartaz primeiro em São Paulo, depois no Rio. Fizeram grande sucesso no Brasil, ganharam seguidores que largavam o emprego, a família, que se restruturavam e desestruturavam. O grupo sacudia o dispositivo da sexualidade que Foucault descreve no livro A História da Sexualidade I (.pdf)
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Homens ou mulheres? Mais. Ou nenhum. A resposta do grupo para essa pergunta era: “Não somos homens, nem mulheres, nós somos gente”. E quem iria dizer que não? Eram gente. Gente fazendo política. Gente que mexia com as estruturas sexuais e de gênero. Gente que não se agarrava as identidades, gente que se relacionava com outras pessoas. Gente como a gente."


Dzi Croquettes

Texto de Thayz Athayde.

Nos anos 70, em plena ditadura militar, nasceu o grupo Dzi Croquettes. Depois de um encontro no bar em que comiam croquete e falavam sobre o grupo americano The Croquettes, Wagner Ribeiro finalmente iniciou o grupo que idealizava há tanto tempo. Com a chegada de Lennie Dale no Brasil, dançarino americano que sambava ao estilo da Broadway como ninguém, logo entrou no grupo e passou a ajudar nos ensaios.

 Dzi Croquettes – Show na TV Alemã.

Entraram em cartaz primeiro em São Paulo, depois no Rio. Fizeram grande sucesso no Brasil, ganharam seguidores que largavam o emprego, a família, que se restruturavam e desestruturavam. O grupo sacudia o dispositivo da sexualidade que Foucault descreve no livro A História da Sexualidade I (.pdf).

Purpurinas no bigode e no peito cabeludo, corpos musculosos e sunga fio dental. Os Dzi Croquettes mexiam com todos os significados do que é ser homem e ser mulher, mexiam com a sexualidade e com a heterossexualidade, não havia mais identidade sexual. Ali, todas e todos se atraiam por aquelas pessoas que estavam no palco, fazendo cenas memoráveis, usando seu corpo de forma política.

Homens ou mulheres? Mais. Ou nenhum. A resposta do grupo para essa pergunta era: “Não somos homens, nem mulheres, nós somos gente”. E quem iria dizer que não? Eram gente. Gente fazendo política. Gente que mexia com as estruturas sexuais e de gênero. Gente que não se agarrava as identidades, gente que se relacionava com outras pessoas. Gente como a gente.

Grupo Dzi Croquettes chocou e encantou público e artistas da década de 70, e após ser censurado pela ditadura militar caiu nas graças da vanguarda parisiense. Foto: Acervo CPDoc JB.
Grupo Dzi Croquettes chocou e encantou público e artistas da década de 70, e após ser censurado pela ditadura militar caiu nas graças da vanguarda parisiense. Foto: Acervo CPDoc JB.

As pessoas que faziam parte do grupo Dzi Croquettes não estavam ligadas a nenhuma política institucional. Eram uma família, com mãe, tias, filhas, primas. Eram livres, faziam seus próprios personagens e assim passavam a mensagem da liberdade purpurinada. Mesmo sem estar ligado a nenhuma instituição política, o grupo usava o próprio corpo como forma de resistência. Dava uma nova cor política para o Brasil.

O grupo Dzi Croquettes contava com inúmeras fãs mulheres que também os seguiam, dessas fãs formou-se o grupo Dzi Croquettas, que não ficou muito famoso. Desse grupo surgiu As Frenéticas que se inspiraram em Dzi Croquettes. Wagner Ribeiro compôs algumas músicas para as Frenéticas.

Imagem de capa do documentário Dzi Croquettes.
Imagem de capa do documentário Dzi Croquettes.

Mesmo sem entender o que significava todo aquele ato político, o AI-5 (Ato Institucional – número 5) proibiu o espetáculo. O grupo Dzi Croquettes foi para Europa e fez muito sucesso, obrigada. Mas, a saudade do Brasil falou mais alto e acabaram aceitando a proposta de um fazendeiro para fazer um show na Bahia. Sem dinheiro e envolvidos com drogas pesadas, o grupo acabou se separando.

Vieram novas formações do grupo Dzi Croquettes, mas o espírito revolucionário e explosivo da primeira formação não voltaria mais. Não porque as novas formações não fossem boas, mas porque o momento e as relações não eram mais a mesmas. O que importa é que a primeira formação deu um curto-circuito em inúmeras pessoas que saíram por aí inspirando outras e outras e mais outras.
Pessoas ensinando que o mais importante de tudo é ser gente. Gente que vai além dos binarismos de gênero, da heteronormatividade e da cor da pele. As pessoas que faziam Dzi Croquettes tinham essa magia de subir no palco e pausar o preconceito. Eu, particularmente, toda vez que vejo uma pessoa preconceituosa uso meu novo verbo: vou croquettear você. Porque nós precisamos mesmo é de menos coxinhas e mais croquettes, não é mesmo?

Para saber mais assista o documentário Dzi Croquettes:


Documentário Dzi Croquettes (2009).

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