outubro 22, 2013

"O silêncio ensina", por Nirlando Beirão

PICICA: "Uma série como "Sessão de Terapia" é um bálsamo para os tímpanos. A narrativa reproduz a verossímil relação paciente-terapeuta."

TV

O silêncio ensina

Uma série como "Sessão de Terapia" é um bálsamo para os tímpanos. A narrativa reproduz a verossímil relação paciente-terapeuta. Por Nirlando Beirão 
por Nirlando Beirão publicado 20/10/2013  
Sessão Terapia
Selton Mello, expertise na compreensão do ser humano

Do futebol às telas quentes, dos domingões aos novelões, a tevê é uma cacofonia estridente de palavras gritadas e quase sempre sem sentido. Exaure os ouvidos. Vira e mexe, padece de surtos de regressão radiofônica. Muita gente que frequenta a telinha – com destaque para os locutores esportivos – ainda não entendeu que não precisa berrar o que está sendo visto.

Uma série como Sessão de Terapia (GNT, de segunda a sexta, às 22h30) é um bálsamo para os tímpanos, mesmo porque, bem de acordo com o modelo da original Be Tipul, criado em Israel por Hagai Levi (In Treatment nos EUA), a narrativa reproduz a verossímil relação paciente-terapeuta, crivada de tensão, pausas, subentendendidos, mal-entendidos, na qual a linguagem gestual de afeto ou agressividade tem tanto valor quanto o que se diz com a voz.

Psicanalistas em geral correm o risco de virar a caricatura de incompreensões e desconhecimento. Ou é aquele doutor de sobrenome germânico e barbicha grisalha de quem não se espera nada mais do que a chicotada simbólica ou a fria indiferença (Woody Allen sabe retratar a categoria com conhecimento de causa) ou é uma criatura meio pop, jeito de charlatão, incapaz de dizer alguma coisa mais relevante do que meia dúzia de frases decoradas de algum manual de autoajuda (o tipo preferido da tevê). Na nossa Sessão de Terapia, o psi Théo (Zécarlos Machado) não é ortodoxo, mas leva o ofício a sério, com direito, inclusive, a periódicos dilemas éticos.

Fiel à delicada teledramaturgia do original, Selton Mello consegue, na segunda temporada, se esquivar do clichê. Luz opaca, cenário discreto, closes expressivos sublinham direção primorosa. “O mundo acontece dentro dos personagens”, explicou. Arrisco dizer que Mello deve ter feito muita análise para chegar a esse grau de compreensão do ser humano.

Fonte: CartaCapital

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