dezembro 02, 2013

"A entrevista de Frei Betto sobre PT e Lula" (Rudá Ricci)

PICICA: "Confesso que não morro de amores por Frei Betto. Em muitos momentos, na ânsia de ser didático, induziu. Como quando criou a noção de "movimento popular", onde partidos, sindicatos, CEBs e movimentos sociais estariam unidos. Tal redução conceitual tem seus frutos amargos repetidos até hoje: parte do movimento sindical se transformou em correia de transmissão dos partidos políticos e a noção de movimento popular totalizante coíbe o pensamento crítico, a autorreflexão, além de alimentar o discurso fácil do mártir ou ídolo. Betto continua fazendo reduções e excessos de didatismo. Mas seu livro A Mosca Azul foi um alento. Teve a coragem de apontar o pragmatismo perigoso que tomou conta do governo Lula ainda no seu início. Seu livro, assim como o de Ivo Poletto (que esteve com Betto na condução do Fome Zero) são depoimentos capitais para quem quer compreender o lugar de quem se manteve fiel aos princípios que geraram o potente ideário popular dos anos 1980."

A entrevista de Frei Betto sobre PT e Lula


Reproduzo, abaixo, uma passagem da entrevista de Frei Betto para o jornal Zero Hora.

Confesso que não morro de amores por Frei Betto. Em muitos momentos, na ânsia de ser didático, induziu. Como quando criou a noção de "movimento popular", onde partidos, sindicatos, CEBs e movimentos sociais estariam unidos. Tal redução conceitual tem seus frutos amargos repetidos até hoje: parte do movimento sindical se transformou em correia de transmissão dos partidos políticos e a noção de movimento popular totalizante coíbe o pensamento crítico, a autorreflexão, além de alimentar o discurso fácil do mártir ou ídolo. Betto continua fazendo reduções e excessos de didatismo. Mas seu livro A Mosca Azul foi um alento. Teve a coragem de apontar o pragmatismo perigoso que tomou conta do governo Lula ainda no seu início. Seu livro, assim como o de Ivo Poletto (que esteve com Betto na condução do Fome Zero) são depoimentos capitais para quem quer compreender o lugar de quem se manteve fiel aos princípios que geraram o potente ideário popular dos anos 1980.


A entrevista completa você acessa clicando AQUI



Sobre a eleição de Lula em 2002, o senhor começa o livro "A Mosca Azul" com a seguinte frase: "Ainda bem, meu pai partiu antes", e afirma que ele não suportaria "ver tantos sonhos esgarçados". O governo Lula lhe decepcionou?
Os governos Lula e Dilma são os melhores da nossa história republicana, mas eu esperava muito mais. O Lula teria condições, no primeiro ano de governo, com todo o apoio popular que recebeu, de ter feito uma reforma agrária. Então, como meu pai esperava também muito mais, daí essa frase. Penso que o PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Permanecer no poder passou a ser mais importante do que criar uma alternativa civilizatória para a nação Brasil.
Questionada sobre uma possível volta de Lula à Presidência, Dilma afirmou que ele não iria voltar porque nunca saiu. Lula foi picado pela mosca azul?
Não, não acho que Lula foi picado. Muita gente no governo foi, o PT, como partido foi – embora há muitas pessoas não picadas lá dentro, e o Lula é uma delas. Mas o fato é que estou convencido de que, se a Dilma não apresentar bons índices de possibilidade de vitória eleitoral em 2014, ele voltará. E, se ela for eleita, também estou convencido de que ele volta a ser candidato em 2018.
Por que ainda em 2014?
Porque se ela apresentar índices negativos, com o risco de a Presidência ir para as mãos de outro candidato, o "volta, Lula" haverá de funcionar.
Quais os principais acertos do PT nestes 10 anos de governo?
O principal acerto foi a inclusão social: 20 milhões de famílias, crédito facilitado, hoje ando pelo Nordeste e não tem mais jegue, tem moto, desoneração da linha branca, universalização do ensino. Então, esse foi o primeiro grande acerto. Segundo acerto: soberania nacional. O Brasil hoje fala olho no olho com os países metropolitanos, como os EUA. O Brasil deixou de ser subserviente frente ao FMI, Washington, Reino Unido. Dom Pedro II e Lula foram os únicos chefes de Estado que ousaram ir ao Oriente Médio, porque havia uma pressão americana para que isso não acontecesse. E o terceiro fator é que o governo nunca criminalizou os movimentos sociais. Isso é muito importante quando eu penso que, no governo FHC, greve da Petrobras foi reprimida com tanques de guerra.
E os principais erros?
A falta de inclusão política, daí as manifestações de rua. Paradoxalmente, os 10 anos de governo do PT foram 10 anos de despolitização da sociedade. Os jovens, agora, querem ter esse protagonismo político. Segunda grande falha desses 10 anos: nenhuma grande reforma de estrutura, nem agrária, nem tributária, nem política, nem previdenciária, nem de educação, nem da saúde. E o terceiro é a não redução da desigualdade social, apesar dos avanços. Segundo o Ipea, dado de outubro de 2013, a desigualdade no Brasil entre os mais ricos e os mais pobres é de 175 vezes, e isso é escandaloso.
Fonte: Rudá Ricci

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