fevereiro 25, 2014

"A estética e a ação Black Bloc", por Raphael Tsavkko Garcia

PICICA: " No Facebook o Rudá Ricci fez um comentário certeiro:
"Poxa! Tem gente de esquerda que fica postando marcha de estudantes com a inscrição "Geração 1968: não havia covardes, nem mascarados". Além de gosto duvidoso, fico pensando o que desejam com esta comparação. Não houve quem pegou em armas e se tornou clandestino? Eram covardes? Será que não daria para elevar o nível do debate político? Entrar nesta seara ou é autoelogio ou é ignorância."
 Acrescento: Eu queria ver esse povo que odeia máscaras falar isso na cara dos Zapatistas..." 

A estética e a ação Black Bloc


Black Bloc não é um grupo. Black Bloc é uma tática. Uma tática cujo cerne está na ação direta e numa estética particular.

Sejamos diretos: Quem não se veste de preto NÃO é Black Bloc. Um manifestante de vermelho violento é... um manifestante de vermelho violento e não um Black Bloc. E explico o porque.

Black Bloc é, novamente, estética. O estar de preto faz parte da tática, faz parte da ideia anarquista de um coletivo agindo como um só braço, de indivíduos juntos agindo como um só. Rostos cobertos e todos de preto significa que não são indivíduos agindo contra a PM ou contra símbolos do capitalismo (como bancos), mas sim um corpo único, um coletivo agindo uniformemente.


Sem este elemento não há Black Bloc, há apenas a velha violência em manifestações e protestos. Um Black Bloc pode ser considerado um manifestante violento, mas o inverso não se aplica.

Os Black Blocs não inovaram ao trazer a violência revolucionária às manifestações, inovaram ao transformar a raiva coletiva em uma ação conjunta uniforme. Despersonalizaram a autodefesa transformando-a em uma ação coletiva em que é difícil identificar individualmente os defensores.


O caso recente da morte do cinegrafista da Band, Santiago Andrade foi atribuído à ação de um Black Bloc, mas não poderia existir maior equívoco. O rapaz acusado, Caio, estava de cinza quando supostamente acendeu o rojão que vitimou o cinegrafista (e cujo alvo era a PM) e este detalhe é tudo que precisamos para afirmar que ele não era um Black Block, ou melhor, que naquele momento não estava pondo em prática a tática, ainda que nada impeça que ele tenha adotado a tática em outros momentos.


Uma pessoa não "é" Black Bloc, mas tão somente ela emprega a tática. Ainda que falemos, por costume, sobre "o" ou "os" Black Blocs.



Nada impede que em outros protestos ele tenha adotado a tática, se vestido de preto e atuado contra o Estado, mas no caso específico afirmar que ele era ou adotava a tática não é apenas um equívoco, é má fé.


Como escreveu o Pablo Ortellado:


Aqui, a tática tem sido empregada já há alguns anos segundo os princípios estabelecidos pelos primeiros black blocs norte-americanos: não atacar pessoas nem destruir propriedade dos pequenos comerciantes. [...] os manifestantes do Black Bloc entendem que a tática utilizada por eles é não violenta e de caráter fundamentalmente simbólico; entendem também que o ataque a pessoas e pequenos comércios deve ser condenado.

É por esse motivo que vincular a morte de Santiago aos black blocs não faz sentido, assim como não faz sentido tratar como uma violência da mesma natureza a destruição de vidraças de bancos e o ataque violento a seres humanos, parta ele de manifestantes ou da própria polícia. Há pelo menos sete outros casos de cidadãos que, desde junho de 2013, morreram ao fugir de ataques da polícia a manifestantes. A imprensa quase não cobriu essas mortes - como se elas não existissem. Há, na verdade, uma gradação de destaque na cobertura dos protestos: em primeiro lugar, a violência dos manifestantes; em seguida, a destruição de propriedade; por último e nem sempre citados, a violência da polícia e a causa das manifestações. Essa desproporção está na raiz do fenômeno Black Bloc, que busca atrair a atenção dos meios de comunicação para comunicar uma insatisfação política.
 
PT e Mídia: Os interesses...

Mas a quem interessa reduzir todo manifestante a um Black Bloc tendo em mente que "Black Bloc" virou sinônimo de "violento" para a grande mídia e para o PT?


Por mais irônico que pareça ao incauto, PT e Globo (e mídia me geral) operam em conjunto na criminalização dos protestos. Por mais que interesse à Globo o desgaste do PT por mil razões, não interessa desgastar ou prejudicar a Copa.


E é a Copa que une a todos os poderosos. A Globo investiu pesado, o governo investiu pesado. Logo, há um campo para junção de forças na criminalização das ruas.


E os fanáticos (pagos ou não) petistas estão animados na reprodução das mentiras espalhadas pela grande mídia, mesmo pela Veja, desde que isso signifique atacar às ruas (e também atacar o PSOL, outro alvo preferencial).


Ditadura

No Facebook o Rudá Ricci fez um comentário certeiro: 

 
"Poxa! Tem gente de esquerda que fica postando marcha de estudantes com a inscrição "Geração 1968: não havia covardes, nem mascarados". Além de gosto duvidoso, fico pensando o que desejam com esta comparação. Não houve quem pegou em armas e se tornou clandestino? Eram covardes? Será que não daria para elevar o nível do debate político? Entrar nesta seara ou é autoelogio ou é ignorância."
Acrescento: Eu queria ver esse povo que odeia máscaras falar isso na cara dos Zapatistas...

Covarde é quem aplaude a PM, é quem aplaude movimento social, estudantes, ativistas tomando porrada. É quem aplaude jornalista tomando bala de borracha na cara, é quem aplaude repressão. aliás, covarde não, fascista.


Quem usa a memória dos que lutaram contra a Ditadura para defender repressão é pior que lixo, não merece o ar que respira, merece apenas desprezo e ostracismo.


Cobrir o rosto não é apenas uma forma de proteger a identidade, ainda que faça parte. Temos relatos de manifestantes sendo perseguidos pela PM até em casa, sendo ameaçados. Os governistas enchem a boca para defender a brutalidade da PM, que eles tem mesmo que bater em quem usa máscara, mas não gastam um só segundo para questionar as ameaças e intimidações que quem não cobre o rosto se depara.



Mas, como disse, cobrir o rosto não é apenas para proteção, mas é parte da estética do anonimato e do coletivo em torno da tática Black Bloc. E o princípio é muito semelhante ao do Anonymous. A máscara do Guy Fawkes não é um mero adereço divertido, e sim uma forma de centenas, milhares de ativistas agirem como um só, como uma só ideia, tendo na máscara a imagem do coletivo.

A cada dia que passa os governistas se enterram mais e mais. Não passam de fascistas. A criminalização dos Black Blocs é apenas a criminalização das ruas, dos movimentos sociais, da luta social. Não é fazer o "jogo da direita" é ser a própria direita.


230 presos em São Paulo...

No sábado, dia 22, ao menos 230 pessoas foram presas pela PM. Acusação? Serem Black Blocs.


A manifestação, segundo a PM, contava com 1000 pessoas. Manifestantes falavam em 2000. Seja como for, a PM prender entre 10 e 20% das pessoas que estavam na rua! Nem na Venezuela, com confrontos violentíssimos, chegou-se perto dessa cifra. Em uma semana o número não chegou perto dos 230 da PM paulista.

Inclusive foram detidos ao menos 5 jornalistas, chegando ao ponto da polícia anunciar que Black Blocs estariam usando crachás de imprensa para escapar da prisão. Seria risível se não fosse o reconhecimento de que a polícia brasileira é vergonha mundial.

Vejam a foto abaixo:


A maioria das pessoas de vermelho. Ou seja, nenhum deles pode ser chamado de Black Bloc. Mesmo os de preto não necessariamente o são. Pouco importa.

Vale a criminalização, a violência e a brutalidade contra manifestantes, jornalistas e advogados. Tudo com a torcida entusiasmada de petistas em geral.


Estamos perigosamente nos aproximando de um Estado fascista. 

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