maio 21, 2014

"Boulos, do MTST, vê Copa e direita esquizofrênica", por Rodrigo Gomes

PICICA: "Líder dos sem teto alfineta: mídia e Aécio dizem defender protestos, mas atacam políticas que podem garantir direitos"

Boulos, do MTST, vê Copa e direita esquizofrênica


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Líder dos sem teto alfineta: mídia e Aécio dizem defender protestos, mas atacam políticas que podem garantir direitos
Por Rodrigo Gomes, na RBA

Assim como fez o Movimento Passe Livre (MPL) no ano passado, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, reafirmou hoje (14) a postura “de esquerda” das manifestações que antecedem a Copa do Mundo no Brasil e rejeitou que setores conservadores se apropriem das mobilizações.

Nesta entrevista exclusiva à RBA, concedida logo após a coletiva do MTST no início da tarde de hoje, no centro da capital paulista, Boulos criticou a postura de parte da imprensa e dos pré-candidatos à presidência da República Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), que pregam que as ações são reflexo de uma insatisfação com o governo de Dilma Rousseff (PT).

O militante explicou ainda que as ações têm objetivos que dialogam com a pauta de reivindicações do movimento e não se prestam a uma difusa mobilização anti-Copa, embora entenda que os movimentos devam aproveitar o megaevento para agir e colocar em debate pautas consideradas importantes.

As pautas de reivindicação do MTST já estão nas ruas há bastante tempo, mas a vitrine da Copa transforma tudo uma grande agenda antiCopa. Como evitar essa situação?

Isso é um problema. Uma coisa é o que o movimento defende e o que o movimento faz. Outra coisa é a forma como parte da mídia e setores conservadores se utilizam disso para fazer a sua própria política. Isso não está sob controle do movimento. Nós cumprimos o papel de deixar claras as nossas pautas, de se mobilizar em torno delas.

Mas o MTST também não pode deixar de fazer mobilizações sob o risco de que essas ações sejam utilizadas por esses setores para objetivos políticos que nós não concordamos. De fato, essa é uma dificuldade hoje, que não só o MTST está passando, como vários outros movimentos populares legítimos, com pautas no campo da classe trabalhadora.

Visivelmente há uma campanha buscando atacar o governo da presidenta Dilma Rousseff a partir da Copa do Mundo. Da nossa parte nós não nos somamos a essa campanha. Nós estamos com aqueles que assumem posturas críticas quanto à realização da Copa. Não vemos o evento como um processo benéfico para a maioria da população trabalhadora brasileira. Temos as nossas reivindicações quanto a isso e nos mobilizamos.

O MTST se declara independente no cenário político. Mas há pré-candidatos à Presidência interessados em pegar carona nas mobilizações para dizer que o povo está insatisfeito “com tudo que está aí”. 

Nós achamos completamente ilegítimo. O discurso de Eduardo Campos e Aécio Neves é completamente esquizofrênico. Ao mesmo tempo que dizem estar com as mobilizações, que estão ouvindo a voz das ruas, defendem políticas que impedem qualquer governo de atender às pautas de reivindicação que estão sendo colocadas pela população.

Quando Campos diz que vai reduzir a meta de inflação e aumentar o superávit primário, ou o Aécio convida Armínio Fraga para ser seu ministro da Fazenda, caso eleito, tudo que essas pessoas estão anunciando que não vão fazer é atender às reivindicações dos trabalhadores.

Esse uso é no mínimo oportunista e o MTST considera isso lamentável. E fazemos questão de deixar bem claro que esses grupos políticos não nos representam.

Vocês têm mantido uma mobilização que tem certa constância, de colocar na rua de cinco a dez mil pessoas com certa facilidade. Já as manifestações sobre Copa, em geral, não são tão massificadas. Não está havendo adesão da população? 

Na verdade, você tem uma insatisfação bastante considerável em relação à Copa, medida por pesquisas. Agora, se isso não se vincula a uma pauta concreta, o discurso fica vazio e as pessoas não vão às ruas mesmo. Elas se mobilizam por questões claras.

Nós temos a nossa pauta, que se vincula a outras, e vários setores têm as suas. Não temos qualquer pretensão de nos tornarmos o eixo aglutinador de todas as pautas e trazer toda a população para a rua. Até porque, se isso não se der em torno de uma proposta política bem definida e claramente de esquerda, a coisa fica perigosa…

Repete-se o que ocorreu em junho de 2013…

Sim, pode ocorrer o que houve no final de junho. As ações iniciais eram muito legítimas, por conta do aumento da passagem, uma reivindicação concreta. E terminou com cartazes pedindo redução da maioridade penal e a volta da ditadura. Isso nós não queremos causar. Não vamos criar Frankensteins. Vamos fazer mobilizações sobre nossas pautas.
As mobilizações têm girado em torno de empreiteiras que lucraram com a Copa, questões de moradia, direitos dos trabalhadores. Vocês pretendem seguir nessa dinâmica de atender diferentes pautas em cada ação?


Não vamos focar exatamente assim. Começamos pelos construtores porque foram os verdadeiros vencedores da Copa. Foram os que ganharam mais dinheiro abocanhando dinheiro público com as obras. No caso de hoje, o objetivo era fazer ações de maior visibilidade, por isso esse número e a descentralização.

A próxima vem no sentido de trazer pautas de outros setores da classe trabalhadora. A pauta não é exclusiva sobre moradia. O processo vai ser pensado conforme é realizado, não existe um planejamento definido.

Falando em mobilizações de trabalhadores, você avalia que eles estão fora do processo?  Tem havido pouco envolvimento da classe trabalhadora organizada?

Isso vai da dinâmica de cada categoria. As pessoas se mobilizam pelos seus direitos e interesses imediatos. Não tem como inflar e constituir mobilizações individuais. Alguns sindicatos têm buscado fazer ações e enfrentado condições que nem sempre são favoráveis. Outros têm tentado inibir mobilizações e são atropelados, por exemplo, no caso dos garis e dos rodoviários, no Rio de Janeiro, em que a direção sindical tomou uma decisão que não representava a categoria.

Nós evitamos julgar o movimento sindical sobre suas mobilizações, mas é claro que a entrada de trabalhadores organizados enriqueceria esse processo.

Fonte: Outras Mídias

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