março 21, 2015

"Venezuelização ou russificação", por Bruno Cava Rodrigues

PICICA: "Na Rússia, o premiê Vladimir Putin mantém escritório com 400 funcionários para atuar em sites, blogues e redes sociais a favor do governo. A agência, revelada numa reportagem de um jornal local (Moy Rayon), também é conhecida como “quartel dos trolls”. Um dos empregados, chamado Anton, trabalhando em turnos de 12 horas, relata que teve de escrever 126 comentários e publicar 10 posts em blogues para apoiar medidas de Putin, tais como a ingerência na Ucrânia, além de rebater e desmoralizar sistematicamente opositores e dissidentes. Para os especialistas consultados, contudo, o exército de blogueiros e tuiteiros não tem capacidade de convencer alguma pauta ou promover mudanças reais. A eficácia das ações, em vez disso, consiste em confundir os debates, difundir teorias da conspiração e potencializar redes de boataria e desqualificação.
A matéria tem tudo a ver com o Brasil. Aqui o governo brasileiro também banca um cinturão de sites, blogues e tuiteiros cuja função não é apenas defender o governo, mas sobretudo desmoralizar os opositores. A tática consiste em etiquetar a oposição como um todo, de qualquer agenda político-ideológica: coxinhas, golpistas, elite-branca, raivosos, ressentidos, além de partir para a “desconstrução” (sic) pessoal. O recente documento vazado da comunicação do governo fala em reativar um exército de “robôs” usado na campanha eleitoral, além de confundir governo e estado: “É preciso consolidar o núcleo de comunicação estatal, juntando numa mesma coordenação (…)”. O plano declarado é consolidar uma holding de sites, blogues, redes e ativistas sob o comando central do Planalto, uma espécie de bunker ultracentralizado da comunicação social."
 
Venezuelização ou russificação
 
Putin


Na Rússia, o premiê Vladimir Putin mantém escritório com 400 funcionários para atuar em sites, blogues e redes sociais a favor do governo. A agência, revelada numa reportagem de um jornal local (Moy Rayon), também é conhecida como “quartel dos trolls”. Um dos empregados, chamado Anton, trabalhando em turnos de 12 horas, relata que teve de escrever 126 comentários e publicar 10 posts em blogues para apoiar medidas de Putin, tais como a ingerência na Ucrânia, além de rebater e desmoralizar sistematicamente opositores e dissidentes. Para os especialistas consultados, contudo, o exército de blogueiros e tuiteiros não tem capacidade de convencer alguma pauta ou promover mudanças reais. A eficácia das ações, em vez disso, consiste em confundir os debates, difundir teorias da conspiração e potencializar redes de boataria e desqualificação.

A matéria tem tudo a ver com o Brasil. Aqui o governo brasileiro também banca um cinturão de sites, blogues e tuiteiros cuja função não é apenas defender o governo, mas sobretudo desmoralizar os opositores. A tática consiste em etiquetar a oposição como um todo, de qualquer agenda político-ideológica: coxinhas, golpistas, elite-branca, raivosos, ressentidos, além de partir para a “desconstrução” (sic) pessoal. O recente documento vazado da comunicação do governo fala em reativar um exército de “robôs” usado na campanha eleitoral, além de confundir governo e estado: “É preciso consolidar o núcleo de comunicação estatal, juntando numa mesma coordenação (…)”. O plano declarado é consolidar uma holding de sites, blogues, redes e ativistas sob o comando central do Planalto, uma espécie de bunker ultracentralizado da comunicação social.

Assim como na Rússia de Putin, no Brasil de Dilma “desconstrói-se” a oposição associando-a aos interesses ocidentais de Washington. Argumento geopolítico digno da época do Komintern ou da Guerra Fria, a necessidade de combater os imperialistas exigiria uma férrea unidade contra o “inimigo interno”, seja ele a direita responsavelmente inescrupulosa, seja a esquerda irresponsável porque escrupulosa demais. O “detalhe”, que inviabiliza toda essa construção, é que não estamos em 1935 ou 1975, mas em 2015. Não existe mais bloco socialista geopolítico e muito menos contradição entre governos autoritários anti-EUA e o capitalismo. Os governos autoritários de China e Rússia não somente não configuram qualquer alternativa ao capitalismo globalizado e integrado do século 21, como para alguns analistas, como Slavoj Zizek, eles são o próximo passo, o momento em que democracia e capitalismo se divorciarão inclusive na retórica.

Ficam as perguntas: será que o documento vazado da comunicação social, que parece escancarar o autoritarismo centralista sem qualquer pudor, não indica que seguir o caminho de Rússia e China seja um projeto do governo? A estatização do governo para *facilitar* a gestão capitalista não será um modelo tendencial dos BRICs? Em vez de venezuelização da crise no Brasil, será que o grande risco por aqui não seria uma russificação tropical? Estaríamos apontando mais pra Putin do que pra Chávez?

Fonte: Quadrado dos Loucos

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