junho 18, 2015

"17 de junho, dois anos depois". POR Adriano Pilatti

PICICA: "Diziam os fariseus que não havia pautas - com os olhos e ouvidos bem tapados - quando as havia até em excesso. Dizia a ex-querda chapa-branca que @s menin@s eram golpistas e fascistas, enquanto pedia e coonestava a suspensão das garantias do Estado de Direito para tentar silenciá-l@s, e se negava a compreender que sua mobilização era contra todos os fascismos e máfias. Diziam os falsos doutos que @s menin@s eram niilistas, e com isso só denunciavam a própria ignorância, os próprios preconceitos, seu desprezo pelas comoventes ações de solidariedade que dali brotaram e a partir dali se espraiaram. Diziam os que se acham mais experientes que @s menin@s não tinham organização, revelando sua própria obsessão pela verticalidade e pelas hierarquias, e de novo sua ignorância em relação às dezenas de coletivos e redes que ali se expressaram, a partir dali se formaram, e continuam a se multiplicar na surdina obrigatória que a repressão induziu. Dizia a impren$a que @s menin@s eram violent@s, enquanto amenizava e legitimava a inacreditável violência policial que se desencadeava nas ruas e contra os pobres em geral."

17 de junho, dois anos depois. Olhando a foto, revejo semblantes, corpos, cartazes, movimentos, alegrias. Na memória ecoam cantos e refrões que ouvi ali naquela noite inesquecível: "vem, vem, vem pra rua vem - a rua é nossa!"; "se a tarifa não baixar, o Rio vai parar!"; "não tem aumento!"; "pula, sai do chão, contra o aumento do busão!"; "não vai ter Copa!”; "poder, poder para o povo! e o poder do povo vai fazer um mundo novo!"; “deixa passar a revolta popular!”; "a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura - e ainda apoia!"; "ô, Cabral é ditador!”; "Eduardo Paes, vai pro inferno e remove Satanás!"; "não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar!”; “que coincidência, sem a PM, não tem violência!"; "que hipocrisia, a PM mata pobre todo dia!"...

Diziam os fariseus que não havia pautas - com os olhos e ouvidos bem tapados - quando as havia até em excesso. Dizia a ex-querda chapa-branca que @s menin@s eram golpistas e fascistas, enquanto pedia e coonestava a suspensão das garantias do Estado de Direito para tentar silenciá-l@s, e se negava a compreender que sua mobilização era contra todos os fascismos e máfias. Diziam os falsos doutos que @s menin@s eram niilistas, e com isso só denunciavam a própria ignorância, os próprios preconceitos, seu desprezo pelas comoventes ações de solidariedade que dali brotaram e a partir dali se espraiaram. Diziam os que se acham mais experientes que @s menin@s não tinham organização, revelando sua própria obsessão pela verticalidade e pelas hierarquias, e de novo sua ignorância em relação às dezenas de coletivos e redes que ali se expressaram, a partir dali se formaram, e continuam a se multiplicar na surdina obrigatória que a repressão induziu. Dizia a impren$a que @s menin@s eram violent@s, enquanto amenizava e legitimava a inacreditável violência policial que se desencadeava nas ruas e contra os pobres em geral.

De desqualificação em desqualificação, de mentira em mentira, de manipulação em manipulação criaram o clima para o tsunami repressivo. E então o inverno chegou na noite de 20 para 21 de junho, quando a selvageria do Estado varreu o centro da cidade madrugada adentro, e condenou Rafael Braga Vieira a cinco anos de prisão. Mas @s menin@s prosseguiram, e o junho carioca atravessou inverno e primavera, até as criminosas prisões em massa da Noite da Vergonha de 15 de outubro. O que esperam que seja o golpe de misericórdia precisou vir já em julho de 2014, com o absurdo e indisfarçavelmente intimidatório processo contra @s 23.
Dois anos depois, aquelas pautas continuam justas, necessárias, lúcidas. A violência policial, o saque aos bens públicos, o monopólio da comunicação de massa, as negociatas da Copa das Tropas, a denegação de direitos e serviços, o obscurantismo, os preconceitos, as remoções, o martírio e o custo dos transportes aí estão para atestar as verdades enunciadas pelas galeras intrépidas.
Em essência, nada se perdeu daquele formidável ensaio geral. @s rebeldes solidári@s foram expuls@s das ruas pela repressão e pelo processo exemplar, e muit@s tiveram e ainda têm suas vidas truncadas, é triste e inaceitável verdade. Mas aquela juventude toda não deixou de existir, nem sua capacidade crítica, nem sua disposição de construção de um "mundo novo". Novas formas de organização e expressão continuam a ser experimentadas, o aprendizado atenuou voluntarismos, os circuitos de cooperação persistem, e as demandas por horizontalidade, participação direta, justiça e liberdade vieram para ficar. No momento propício, esse acúmulo irá fatalmente impulsionar um novo ciclo, oxalá menos traumático. 

Dois anos depois, só Estado, mídia e ex-querda nada aprenderam - de positivo. Pior para eles. Quem esteve nas ruas não voltou para casa do mesmo jeito, aprendeu todo o tempo com os próprios erros, e não perdeu a receita. A conferir, quando chegarem a hora e a vez. Ainda estão rolando os dados.

Fonte: Adriano Pilatti

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